A
Polícia Federal (PF) instaurou inquérito criminal para apurar um dos
fatos descritos em depoimento em que o operador do Mensalão, Marcos
Valério, acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter
conhecimento e ter se beneficiado do esquema.
A Procuradoria da República no Distrito
Federal fez a solicitação de abertura de inquérito na última
quinta-feira (4). A PF tem 30 dias prorrogáveis por mais 30 para
finalizar a investigação.
O inquérito deriva de um dos seis
procedimentos preliminares abertos a partir do depoimento de Valério à
Procuradoria Geral da República em setembro do ano passado, feito em
meio ao julgamento do caso.
Segundo a Procuradoria da República no
DF, a nova investigação vai se debruçar sobre um suposto repasse de US$ 7
milhões de uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau (China) para o
Partido dos Trabalhadores (PT), por meio de contas no exterior.
A Portugal Telecom não chegou a ser
investigada no processo do Mensalão, mas viagens e encontros entre
alguns dos condenados na ação e executivos da empresa à época do esquema
foram usados como prova para a decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF).
A Procuradoria da República do DF, no
entanto, não especificou quem será investigado neste novo inquérito, que
não está vinculado formalmente ao processo do Mensalão que corre no
STF, no qual 25 foram condenados pelo esquema de compra de votos no
Congresso nos primeiros anos do governo Lula.
Após o depoimento de Valério, no dia 24
setembro, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou trechos das
declarações. O jornal informou que, segundo Valério, o repasse foi
negociado numa reunião que fez com Lula, os ex-ministros José Dirceu
(Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), e com o então presidente da
Portugal Telecom, Miguel Horta, no próprio Palácio do Planalto.
“Declarações mentirosas”
Após a divulgação do teor do depoimento,
Lula classificou as declarações como mentirosas; Palocci disse, por
meio de sua assessoria, que os fatos relatados por Valério “jamais existiram”. Miguel Horta declarou, por meio de nota, que ele não teve “qualquer ligação” com o processo do Mensalão.
No dia do depoimento, o STF já havia
condenado Valério a mais de 40 anos de prisão pelos crimes de formação
de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de
divisas na ação do Mensalão. Dirceu só seria condenado posteriormente, a
10 anos de prisão, por corrupção ativa e quadrilha. Lula sequer foi
denunciado e sempre negou qualquer envolvimento.
No mesmo depoimento, Valério também
disse que Lula deu aval a empréstimos dos bancos Rural e BMG para o PT,
dinheiro que teria sido usado para comprar votos. Afirmou ainda que
dinheiro do esquema pagou despesas pessoais do ex-presidente.
Na época do depoimento, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que Valério era um “jogador“.
Naquele mês, em troca do novo depoimento e de mais informações sobre o
esquema de desvio de dinheiro público para o PT, Valério pretendia obter
proteção e redução de sua pena. As declarações de Valério estão em 13
páginas. (Fonte: G1)