O recente impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) – vivo no repertório da militância, da oposição e da base governista – também dobrou o peso do candidato a vice-governador (e vice-governadora) na disputa de 2018. Os vices normalmente eram indicados para cumprir um papel de bastidor e assumir a missão número 1 do cargo: ser discreto e trazer apoios.
Contudo, a posse de Michel Temer (MDB) como presidente, a partir de 2016, e toda a articulação feita por ele para tirar Dilma do poder deixou os candidatos e eleitores em alerta sobre outras questões importantes, como a própria afinidade política e a lealdade. Quem é o nome que pode assumir, por exemplo, o principal cargo do estado na ausência do seu titular se ele viajar, for afastado ou adoecer? Ele agrega?
Para o cientista político Ernani Carvalho, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apenas dois candidatos majoritários construíram uma capilaridade eleitoral, até esse momento, que chamam a atenção do eleitor. Na avaliação dele, quem mais somou à disputa foram os escolhidos a vice do governador Paulo Câmara (PSB) e do senador Armando Monteiro Neto (PTB), ambos postulantes ao Palácio das Princesas.
Para Ernani, a indicação da ex-prefeita de Olinda Luciana Santos (PCdoB) na chapa de Paulo trouxe um verniz de esquerda ao governador - que votou em Aécio Neves em 2014 -, mas o principal impacto de sua escolha foi a mudança das alianças no cenário nacional. Ernani acredita que, se Luciana não tivesse sido a alternativa, dificilmente o PCdoB teria retirado a pré-candidatura de Manuela D´Ávila (PCdoB) em nome da aliança com Luiz Inácio Lula da Silva.
Ernani Carvalho lembra que Luciana é presidente nacional do PCdoB e teve um papel decisivo na aliança entre o PT e o PCdoB nacionalmente. Luciana é apontada como articuladora política, e a militância da legenda tem organicidade, ou seja, é atuante nas ruas e redes sociais. “O PCdoB cogitou fechar com a candidatura de Ciro Gomes (PDT) e foi levado para o PT com essa costura e Ciro ficou isolado. Luciana colaborou com a candidatura majoritária do PT (de Lula) e o nome dela vai dar mais competitividade à chapa de Paulo Câmara”, avalia.
Doutor em Ciência Política pela UFPE e professor da Faculdade Damas, Elton Gomes, por sua vez, fez uma análise do nome de Fred Ferreira (PSC) para vice da disputa estadual. Segundo ele, como Fred integra a família dos Ferreira, que tem influência no eleitorado evangélico da Região Metropolitana do Recife, Armando teve vantagem com a escolha. De acordo com Elton, o petebista não tem a mesma inserção política de Paulo no Grande Recife, seus candidatos ao Senado têm base no interior, e o vice tem inserção nas comunidades urbanas mais carentes.
“Existe toda uma literatura acadêmica que mostra que o voto evangélico é forte, porque é um voto certo, fiel e barato. Muitos eleitores votam por instrução do pastor, de pessoas com proeminência naquela comunidade de fé. Isso dá um poder de aglutinação muito grande. O voto evangélico é, ao mesmo tempo, concentrado e disperso. É concentrado porque é fiel (constituído na maior parte de pessoas muito carentes), mas é disperso porque tem várias igrejas espalhadas”.
ESTRUTURA
Segundo Elton Gomes, os candidatos a vice de Maurício Rands (PROS) e Julio Lóssio (Rede), também podem ajudar os majoritários, mas não o suficiente para eles conseguirem barrar a estrutura de campanha de Paulo e Armando - o tempo de televisão e o apoio dos prefeitos.
“Julio Lóssio é muito bom em debates, ele consegue falar de maneira simples para o eleitor, o que é uma grande qualidade, mas ele não tem tempo de televisão, capilaridade ou apoio de partido. Isabella também traz representatividade, especialmente por ser uma mulher, mas eles têm que correr contra o tempo e estão numa coalizão pequena”, afirma. Com uma avaliação diferente, Rands acredita que “essa eleição não vai ser a eleição das estruturas, porque as estruturas estão desgastadas, vai ser do boca a boca, dos grupos de WhatsApp, dos posts, vídeos, áudios e conteúdo”.
Única candidata ao governo que tem uma chapa totalmente formada por mulher, Dani Portela (PSol), por sua vez, defende a importância da identidade entre a majoritária e a vice. “Nós, do PSol, entendemos que uma chapa indica um governo compartilhado. E é por isso que nós trabalhamos dentro do partido o conceito de cogovernadora. Minha companheira Gerlane não é uma figura decorativa no nosso processo. Nós iremos governar efetivamente juntas”, avisou. Jair Pedro não foi localizado até o fechamento da edição.
Quem são os vices?
Luciana Santos (PCdoB), vice de Paulo Câmara (PSB)
Ex-deputada estadual, ex-prefeita de Olinda por dois mandatos e atual presidente nacional do PCdoB. Ela é engenheira eletrônica, está filiada à legenda comunista desde 1987 e exerce o mandato de deputada federal desde 2011.
Fred Ferreira (PSC), vice de Armando Monteiro Neto (PTB)
Vereador do Recife, iniciou a militância ao coordenar as últimas campanhas eleitorais dos cunhados André Ferreira (PSC), deputado estadual e candidato a federal, e Anderson Ferreira (PR), prefeito de Jaboatão dos Guararapes.
Luciano Bezerra (Rede), vice de Julio Lóssio
Foi vereador de Santa Cruz do Capibaribe e secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão do município. Ele representa o Agreste na chapa, é contador e advogado. Presta serviço a várias empresas do polo de confecções.
Gerlane Simões (PCB), vice de Dani Portella (PSol)
Feminista, educadora social e cientista social. Iniciou a militância política na adolescência, dentro do movimento Hip Hop. Em seguida, ingressou no movimento negro e em um movimento de direito à moradia. Está no PCB desde 1998.
Isabella de Roldão (PDT), vice de Maurício Rands (PROS)
Foi vereadora do Recife, de 2012 a 2013, fez parte da bancada de oposição da Câmara Municipal e chegou a ser vice-líder do bloco, como uma voz ativa. É formada em direito e foi presidente da Ação da Mulher Trabalhista.
Jair Pedro (PSTU), vice de Simone Fontana (PSTU)
É servidor público, com ensino médio, e ficou conhecido por representar o PSTU em várias eleições, todas com candidaturas olímpicas. Já concorreu, por exemplo, a prefeito do Recife em 2008 e 2012 e governador em 2010 e 2014.
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