Lula é o maior líder político católico da história brasileira. E o
Papa Francisco fez nesta segunda (11) uma demonstração inequívoca de seu
carinho por ele. Enviou a Lula, prisioneiro político há 67 dias, um terço e um
bilhete pessoal, escrito a mão. Se o Papa tem afeto por Lula, o regime dos
golpistas tem ódio. E, com a mesquinharia típica das ditaduras, proibiram o
enviado especial de Francisco de entregar o terço pessoalmente e conversar com
o ex-presidente. O episódio é grave. Barrar um enviado do Papa numa visita a um
preso político terá ampla repercussão contra o golpe, nacional e
internacionalmente. Com o gesto de Francisco, fica claro que sua homilia há
cerca de um mês, condenando os golpes de Estado patrocinados pelas mídias
conservadoras referia-se de fato ao Brasil.
É um aparente paradoxo: no
maior país católico do mundo, o maior líder político católico da história é
odiado por milhares e milhares de católicos e católicas, a começar pelo líder
do golpe, Michel Temer, e pelo ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,
ligado à Opus Dei. Nas rede sociais, católicos conservadores ofendem Lula, como
ofenderam sua mulher, Marisa Letícia, até a morte, em 2017, e mesmo depois
disso. A campanha persistente de ódio destes católicos a Lula não acontecem por
serem católicos, mas por serem ferozmente de direita.
O enviado do Papa à prisão foi
ninguém menos que seu assessor para Assuntos de Justiça e Paz, o argentino Juan
Grabois, homem da mais absoluta confiança de Francisco. Ao lado do cardeal
Peter Turkson, prefeito do Departamento para o Serviço do Desenvolvimento
Humano Integral do Vaticano, Grabois é o responsável pela organização dos
Encontros Mundiais dos Movimento Populares, que reúne anualmente o Papa e
lideranças de movimentos sociais de todo o planeta. Nestes encontros, Francisco
tem feito críticas contundentes ao capitalismo. No segundo Encontro, em Santa
Cruz de la Sierra (Bolívia), em julho de 2015, o papa qualificou o sistema de
"ditadura sutil". Para Francisco Papa, o capitalismo "é
insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores,
não o suportam as comunidades, não o suportam os povos...".
Lula deve ter recebido, se a
Polícia Federal de fato o entregou, o terço enviado por Francisco -uma peça de
contas pretas. O terço é um instrumento de oração e meditação de católicos
usado há 800 anos e se compõe de uma sucessão de 10 Aves-Marias entremeadas por
um Pai Nosso e uma invocação à Trindade. Os católicos de direita tentam
estigmatizar Lula dizendo que ele é "comunista", "ateu" e
"bêbado", mas o ex-presidente tem relações profundas com a Igreja
Católica, com sua mulher tinha.
As comunidades eclesiais de
base da Igreja Católica foram decisivas para a formação do PT nos anos 1970/80.
O partido foi criado pela confluência entre essa comunidades, o sindicalismo
combativo liderado por Lula e seus companheiros e intelectuais de esquerda. O
teólogo Leonardo Boff e Frei Betto são os principais conselheiros espirituais
de Lula. Além de ambos, o padre Júlio Lancellotti e o monge católico Marcelo
Barros foram até a prisão em Curitiba e, com eles, Lula tem comungado.
No dia 17 de maio, na missa
matinal em Santa Marta, que o papa preside sempre que está no Vaticano, o
pontífice condenou o golpe de maneira dura. Sem citar o Brasil ou o nome de
Lula diretamente, fez uma descrição perfeita do que acontece no país:
"Criam-se condições obscuras para condenar uma pessoa. A mídia começa a
falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas
pessoas ficam manchadas. Depois chega a Justiça, as condena, e no final, se faz
um golpe de Estado".
A declaração do Papa aconteceu
logo depois de um encontro com uma delegação de jovens brasileiros do grupo
Igreja Povo de Deus em Movimento (IPDM), da Zona Leste de São Paulo, que foram
a Roma para o encontro das Scholas Ocurrentes, um projeto político pedagógico
para os jovens de Francisco inspirado nas comunidades eclesiais de base.
Os golpista imaginaram que Lula
seria rapidamente esquecido e abandonado no cárcere em Curitiba. Não imaginaram
a onda de solidariedade nacional e internacional que se levantaria a seu redor,
a denúncia do caráter político de sua condenação e, menos ainda, os gestos do
maior líder político do planeta, o Papa Francisco.(247).
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