Após pente-fino, o governo avaliou que apenas os dois países hoje devem contar com excedentes significativos
Vacina da Astrazeneca
- Foto: Luis Acosta/AFP
Diante do desgaste causado pelo atraso na vacinação contra a Covid-19, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) desencadeou uma operação internacional para tentar acessar excedentes de imunizantes disponíveis em outros países.
Após um pente-fino, o governo avaliou que apenas dois países hoje devem contar com excedentes significativos para envio de imunizantes ao exterior nos próximos meses: Estados Unidos e Reino Unido.
Em comum, ambas as nações estão em estágio avançado de vacinação e contam com estoques que poderiam ser direcionados ao exterior em pouco tempo.
Além disso, Washington e Londres estão pressionados a ajudar países aliados para tentar compensar o avanço da agressiva diplomacia da vacina promovida pela China.
Nas últimas semanas, o Itamaraty também consultou países como Canadá e Austrália, após receber informações de que eles poderiam contar com estoques disponíveis. Mas recebeu como resposta que os imunizantes hoje nesses locais não estariam liberados para exportação no curto prazo.
Recentemente, por exemplo, o Brasil perguntou à Austrália sobre um possível excedente de doses da AstraZeneca. Mas o país da Oceania afirmou que pretende priorizar países da região e ainda utilizar parte das vacinas em sua própria população.
O governo colocou foco em possíveis excedentes da farmacêutica britânica AstraZeneca porque ela já tem aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Isso facilita não apenas os trâmites de importação como abre as portas para que o país ofereça aos possíveis exportadores a devolução dos imunizantes no futuro, a partir da fabricação das doses pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Os Estados Unidos têm disponíveis cerca de 60 milhões de doses da AstraZeneca, mas elas não foram utilizadas para a proteção da população local nem receberam aval das autoridades sanitárias americanas.
No entanto, o envio desses lotes para fora dos EUA depende de inspeção de qualidade promovida por autoridades americanas, processo ainda sem prazo definido para ser concluído.
De acordo com relatos, até o momento o que o Brasil conseguiu de Washington foi a sinalização de que o país será considerado na hora da escolha dos destinatários dos carregamentos.
Tampouco sabe-se qual parcela das 60 milhões de doses os americanos poderiam reservar para o Brasil.
"À medida que essas doses estiverem disponíveis, os EUA decidirão os locais para onde elas serão enviadas", disse a embaixada americana em Brasília.
A possibilidade de obter uma permuta ou doação de doses já havia sido tema de uma reunião em março entre o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o embaixador americano, Todd Chapman.
O encontro, no entanto, terminou sem acordo, e o chefe da missão diplomática sinalizou que uma eventual discussão sobre o envio de doses extras ocorreria apenas a partir de maio.
Pedido semelhante foi abordado por integrantes do governo federal em encontros com representantes de outros países, entre eles o Reino Unido. Questionada, a embaixada britânica diz que não comenta conversas entre os dois governos.
Nos últimos meses, porém, o governo do Reino Unido tem sinalizado que pretende distribuir eventuais doses excedentes a mecanismos internacionais, como a Covax Facility, iniciativa vinculada a OMS (Organização Mundial de Saúde).
A busca por apoio para tentar antecipar a vacinação também foi abordada por Queiroga em conversa com o embaixador da União Europeia, Ignacio Ybáñez, e repetida em evento na OMS realizado na sexta-feira (30).
"Apelo para aqueles países com doses extras que compartilhem essas vacinas com o Brasil de modo a conter a fase crítica da pandemia e evitar a proliferação de novas variantes", disse o ministro, na ocasião.
A tentativa de obter doses excedentes ocorre em meio à demora do Brasil em fechar contratos para obter vacinas no último ano. Conforme publicou o jornal Folha de S.Paulo, o governo negou ao menos três propostas da Pfizer em 2020 que previam entregas já em dezembro do ano passado ou janeiro deste ano.
Além disso, o cronograma atual de vacinação também passa por entraves como o atraso no recebimento de insumos para produção por laboratórios nacionais e a existência de contratos de vacinas sem aval da Anvisa.
Enquanto aguarda resposta dos países, o Brasil também tem pedido apoio à Opas (Organização Panamericana de Saúde) para tentar antecipar a entrega das doses contratadas pela Covax Facility, cuja distribuição na América Latina é gerida pela entidade.
A previsão é receber 42,5 milhões de doses até o fim deste ano. Deste total, porém, apenas 5 milhões já foram entregues –todas elas da AstraZeneca.
Segundo Jarbas Barbosa, vice-diretor da Opas em Washington, a entidade tem solicitado a diferentes países apoio para tentar obter doses excedentes para América Latina, o que incluiria envio de vacinas ao Brasil.
O motivo é a situação da região, com alto número de casos e mortes pela Covid.
"Estamos em negociações com países e fizemos pedidos aos Estados Unidos para que pudessem doar o excedente de vacinas deles para a América Latina e Caribe, não só ao Brasil, porque todos estão precisando", afirmou Barbosa.
"Pedimos também ao governo da Espanha, que anunciou já na Cúpula Ibero-americana que tinha intenção de doar para o mecanismo Covax", disse ele, segundo quem as negociações teriam como prioridade o envio para a região.
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