Morreu
hoje (8) aos 87 anos a ex-premiê britânica Margaret Thatcher, conhecida
como Dama de Ferro. Primeira mulher a ocupar o cargo, ela teve um
derrame no início da manhã
Margaret Thatcher nasceu em outubro de
1925, em Grantham, uma pequena cidade comercial no Leste da Inglaterra.
Ela ocupou o cargo de primeira-ministra britânica por mais de 11 anos,
entre 1979 e 1990.
Em dezembro do ano passado, Margaret Thatcher foi submetida a uma cirurgia para a retirada de um caroço na bexiga.
Thatcher foi uma das mais influentes
figuras públicas do século 20. Seu legado teve um efeito profundo nas
políticas de seus sucessores, tanto conservadores como trabalhistas. O
estilo considerado radical e agressivo definiu os seus 11 anos no
comando da Grã-Bretanha.
Durante seu governo conservador,
milhares de britânicos conseguiram comprar casas populares e ações de
empresas recém-privatizadas nas áreas de energia e telecomunicação. Mas
sua rejeição à chamada “política de consenso” fez dela uma figura
desagregadora, e a oposição ao seu governo culminou com rebeliões nas
ruas e dentro de seu próprio partido.
Margaret Thatcher estudou química em
Oxford, com o auxílio de uma bolsa de estudos, e se tornou a terceira
mulher a presidir a Associação Conservadora da universidade. Depois de
se formar, trabalhou em uma empresa de produtos plásticos e se envolveu
em um grupo político conservador, até que, a partir de 1949, começou a
concorrer a cargos no governo local em Kent. Mesmo sem vencer, ela
atraiu atenção da imprensa por ser a mais jovem candidata eleitoral
conservadora da história.
Em 1951, ela se casou com o empresário
divorciado Denis Thatcher, com quem teve os gêmeos Mark e Carol, dois
anos depois. Em 1959, obteve um assento no Parlamento britânico. Foi
nomeada logo em seguida ministra-júnior e, após a derrota dos
conservadores em 1964, entrou para o gabinete de oposição que monitora o
trabalho do governo. Ganhando destaque no partido, Margaret Thatcher
passou a fazer campanha vigorosa contra impostos e a favor da construção
de casas populares.
Quando o conservador Ted Heath foi
eleito premiê, em 1970, ela foi promovida a secretária da Educação e
ordenada a reduzir os gastos da pasta. Um dos cortes resultou no fim de
uma campanha de leite gratuito nas escolas, o que gerou fortes críticas
dos trabalhistas e o apelido de Margaret Thatcher, milk snatcher (algo
como ladra de leite). Ela própria havia se oposto ao corte dos subsídios
para a compra do leite. Depois do episódio, escreveu: “Aprendi uma
lição valiosa. Incorri no máximo de ódio político [em troca] do mínimo
de benefício político”.
O governo Heath, afetado pela crise do
petróleo de 1973, caiu no ano seguinte. Crítica da condução da economia
promovida pelo premiê, Margaret Thatcher disputou com ele a liderança do
partido em 1975 e, para surpresa geral, venceu. Tornou-se a primeira
mulher a liderar um partido de grande porte na Grã-Bretanha. Logo
começou a deixar sua marca na política. Um discurso de 1976 contra as
políticas repressoras aplicadas na antiga União Soviética lhe rendeu o
apelido de Dama de Ferro – título que lhe agradava.
Quando o premiê trabalhista Jim
Callaghan recebeu um voto de desconfiança do Parlamento, o Partido
Conservador venceu as eleições gerais em 1979, e Margaret Thatcher foi
alçada ao poder. Como primeira-ministra, ela estava determinada a
moralizar as finanças públicas, e partiu para a redução do papel do
Estado e o incentivo ao livre mercado.
O controle da inflação era uma meta
central do governo, que introduziu um corte radical nos gastos e nos
impostos. Privatizou empresas estatais, fomentou a compra de casas
populares e aprovou leis para coibir a militância sindical. As novas
políticas monetárias fizeram do centro financeiro de Londres um dos mais
vibrantes e bem-sucedidos do mundo. Em busca de um país mais
competitivo, antigas indústrias foram desativadas. O desemprego cresceu.
Apesar de pressão popular, Margaret
Thatcher não cedia. Em uma conferência partidária de 1980, ela declarou:
“Aos que esperam por uma guinada, só tenho uma coisa a dizer: deem a
guinada se quiserem. Essa dama não volta atrás”. No fim de 1981, sua
taxa de aprovação havia caído para 25%, nível mais baixo registrado por
qualquer premiê até então. No ano seguinte, a economia iniciou sua
recuperação e, com isso, cresceu a popularidade de Margaret Thatcher.
A aprovação deu um salto maior em abril,
com sua guerra contra a Argentina pelas Ilhas Malvinas, vencida em 14
de junho. A vitória bélica, somada a desarranjos no Partido Trabalhista,
resultaram em nova vitória conservadora nas eleições de 1983. Nessa
época, ela enfrentou desafios na Irlanda do Norte, como greves de fome
de membros do IRA (Exército Republicano Irlandês), e manteve uma
abordagem linha-dura perante o grupo.
Em outubro de 1984, o IRA detonou uma
bomba em uma conferência do Partido Conservador em Brighton, deixando
quatro mortos e dezenas de feridos. Em resposta, Margaret Thatcher
declarou: “Esse ataque falhou. Todas as tentativas de destruir a
democracia com terrorismo falharão”.
Sua política externa era focada em
reconstruir laços externos da Grã-Bretanha. Teve como parceiro o então
presidente americano Ronald Reagan, com quem compartilhava opiniões
semelhantes sobre a economia, e manteve uma aliança improvável com
Mikhail Gorbachev, presidente soviético reformista.
Ante a desestruturação do Partido
Trabalhista, a premiê foi, de forma inédita, eleita para um terceiro
mandato em 1987. Uma de suas primeiras ações foi impor uma taxação sobre
serviços públicos, que despertou uma forte onda de protestos violentos
no país e a insatisfação dentro do próprio Partido Conservador. Mas o
que acabou levando à sua queda foi a questão da unidade do Continente
Europeu.
Após um debatido simpósio sobre o euro
ocorrido em Roma, Mikhail Gorbachev Thatcher rechaçou a possibilidade de
aumento de poder da comunidade europeia. Após a saída de importantes
membros de seu gabinete e sob pressão do partido, a premiê disse se
sentir traída e anunciou sua renúncia em novembro de 1990.
Após deixar o poder, ela recebeu o
título de baronesa, escreveu dois livros de memórias e se manteve ativa
na política, fazendo campanha contra o Tratado de Maastrich (que
pavimentou terreno para a adoção do euro) e contra a política sérvia de
limpeza étnica na Bósnia.
Foi forçada a reduzir sua atuação
pública em 2001, quando sua saúde começou a se deteriorar. Após sofrer
uma série de pequenos derrames, seus médicos advertiram sobre aparições
públicas, nas quais ela se revelava cada vez mais fragilizada. Além
disso, Margaret Thatcher sofria de problemas mentais, que afetavam sua
memória de curto prazo. Em 2003, seu marido Denis morreu aos 88 anos de
idade.
Para seus críticos, ela foi uma política
que colocou o livre mercado acima de tudo. Foi acusada por muitos de
deixar que parte da população pagasse o preço por iniciativas que
aumentavam o desemprego e geravam distúrbios sociais. Para seus
simpatizantes, a ex-premiê reduziu o tamanho de um Estado inflado e a
influência dos sindicatos, além de restaurar a força britânica no mundo.
Sua filosofia pode ser ilustrada por uma
entrevista que deu em 1987. “Acho que passamos por um momento em que
muitas crianças e pessoas foram levadas a crer que ‘se tenho um
problema, cabe ao governo lidar com ele’. ‘Sou sem-teto, o governo tem
de me dar uma casa. Eles [as pessoas] jogam seus problemas sobre a
sociedade, e quem é a sociedade? Isso não existe! É nosso dever cuidar
de nós mesmos e então ajudar a cuidar de nossos vizinhos. A vida é um
negócio recíproco, e as pessoas mantêm em mente os direitos, [mas] sem
as obrigações.” (Agência Brasil)
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