A falta de conhecimento sobre a doação de órgãos ainda representa um entrave para o crescimento da captação e a realização de transplantes. No entanto, algumas iniciativas vêm conseguindo vencer esse desafio. Uma delas é o trabalho da Macrorregional Petrolina, da Central Estadual de Transplantes, que funciona no Hospital de Urgências e Traumas, desde 2009. Com a conscientização dos usuários e mais agilidade na captação, a equipe vem ampliando o número de doações de órgãos no município.
No ano passado, Petrolina teve 78 notificações de morte encefálica. Desses casos, 13 evoluíram para a retirada de múltiplos órgãos, sendo 12 no HUT e 1 no Hospital Dom Malan, contra apenas uma retirada de múltiplos órgãos realizada no ano anterior. Em 2012, foram realizadas ainda 54 doações de córneas e 129 transplantes, único tipo realizado na região. Já a fila de espera, segundo informações da Central, pode chegar a 1584 pacientes, dependendo do órgão a ser transplantado.
De acordo com a coordenadora da Central em Petrolina, Lilia Gondim, mesmo com um aumento no número de doações, a negativa das famílias ainda é muito forte. “A questão da recusa familiar ainda é grande. Culturalmente, as pessoas ainda não estão preparadas para a doação. Precisamos trabalhar para que elas fiquem cientes da importância de ser doador, pois existem muitas pessoas na lista de espera por um órgão”, conta a gestora, ressaltando a importância da parceria com a equipe do HUT, a Organização de Procura por Órgãos e Tecidos (OPO), e a Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT).
“Reconhecemos o trabalho desenvolvido pela Central de Transplantes em Petrolina e buscamos apoiar essa iniciativa, tanto na conscientização da nossa população, como na solicitação de equipamentos, junto ao Ministério da Saúde”, contou a secretária municipal de saúde, Lucia Giesta, informando que, na próxima semana, deve levar ao Ministério um projeto para aquisição de uma câmara fria para a Central de Transplantes de Petrolina. O equipamento prolonga o tempo de conservação dos tecidas que serão utilizados com a finalidade de transplante.
A doação
“O Primeiro critério para se tornar um doador é estar consciente desse ato e comunicar aos seus familiares”, orienta a coordenadora da Central. Quando constatada a morte encefálica, o paciente é mantido com todo o suporte clínico dado pela equipe do hospital, até que a logística para o transplante se concretize, da abordagem da família à captação do órgão.
Para o diagnóstico de morte encefálica, dois médicos, sendo um deles neurologista ou neurocirurgião, precisam examinar o paciente. São realizadas duas avaliações clínicas, em intervalos de tempo diferentes, de acordo com a idade do paciente, e, em seguida um exame complementar verifica a falta de atividade elétrica ou fluxo sanguíneo cerebral. Confirmado o diagnóstico, a equipe do Hospital comunica o óbito e aciona a Central de Transplantes, que entra em contato com a família do paciente para solicitar a autorização da doação.
“Junto com a OPO e a CIHDOTT entrevistamos a família para saber se ela quer fazer a doação dos órgãos. Nesse momento, explicamos o processo de captação e garantimos a integridade do corpo para que a família possa velar o seu ente querido”, esclarece a enfermeira da Central, Gerlene Grudka Lira. Após a doação, os órgãos são encaminhados para atender uma lista de espera de pessoas que aguardam por transplante em todo o estado. Atualmente, essa lista conta com 1889 pacientes à espera de um coração, fígado, rim, pâncreas, córneas, ou medula óssea.
Doações de órgãos no Brasil
Dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do Ministério da Saúde, indicam que o Brasil realizou 23.999 transplantes em 2012, maior número da última década, quando foram registradas 12.722 cirurgias realizadas. No ano passado, o ministro Alexandre Padilha assinou portaria que institui a atividade de tutoria em doação de órgãos e transplantes no País. Essa é uma forma de o Ministério da Saúde estimular centros de excelência a capacitar serviços que queiram melhorar ou iniciar a realização desse tipo de cirurgia. O objetivo dessa ação é investir na capacitação e fortalecimento da rede brasileira de transplantes.