sábado, 9 de março de 2024

Censura a "O avesso da pele" é um crime contra os estudantes e todos os negros e negras do Brasil

Livro de Jeferson Tenório é uma obra-prima da literatura brasileira e deve ser lido por todos que lutam contra o racismo e o fascismo

Livro 'O Avesso da Pele' (Foto: Reprodução)

Li, neste sábado, praticamente sem parar, o livro "O avesso da Pele", do escritor Jeferson Tenório. É uma história arrebatadora, contada por um jovem negro que busca reconstruir a figura do pai ausente. Um professor de literatura na periferia de Porto Alegre, que morre numa abordagem policial, como ocorre com tantos negros, todos os dias no Brasil, única e exclusivamente pela cor da pele. 

Lançado em 2020, o livro venceu o Prêmio Jabuti, foi recomendado para alunos do ensino médio pelo Ministério da Educação e voltou a ser debatido nas últimas semanas por ter sido censurado em várias regiões do Brasil. Primeiro na cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Sul, e depois em estados como Paraná, Mato Grosso e Goiás, onde o governador, Ronaldo Caiado, admitiu que mandou censurá-lo sem ter lido. "Aquilo é promiscuidade plena. Não tem nada de educativo. É um absurdo. É material de revistas de promiscuidade", disse Caiado.

O livro, na verdade, contém uma ou outra referência aos órgãos genitais e a descrição contida de algumas relações sexuais. Nada apelativo. E nada que esteja fora do universo e da prática dos adolescentes. Sobre o tema da violência, o livro chega até a ser moderado. Não há juízos morais sobre as vítimas e os algozes numa sociedade marcada pelo racismo estrutural.

Numa das cenas mais tocantes, o narrador recorda um diálogo da infância com o pai. "Você sempre dizia que os negros tinham de lutar, pois o mundo branco havia nos tirado quase tudo e que pensar era o que nos restava. É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende? Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único. E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos".

Este é o avesso da pele. É este livro belíssimo que foi censurado no Brasil, em pleno século 21. A censura representa um crime contra os estudantes e todos os negros e negras do Brasil. Combatê-la, no momento em que negros são assassinados nas periferias de todo o País, é um dever de todos que lutam contra o racismo e o fascismo no Brasil. Antes que seja tarde demais. Abaixo, trecho do livro: - (Leonardo Attuch).

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.



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Mulheres também protestaram sobre a situação das mães na Palestina

Wilson Dias/Agência Brasil

Nas mãos, ela puxa um carrinho que transporta o isopor com bebidas para vender. Um boné na cabeça ajuda a proteger do sol no centro de Brasília, na tarde desta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. A rotina da ambulante Rita Aquino, de 63 anos de idade, de domingo a domingo, é tentar vender água e refrigerante. 

“Estou empurrando o carrinho para tentar um dia a aposentadoria. Mas todos os dias sou desrespeitada. Acho que porque sou mulher e idosa. No ônibus, nas ruas, em todo lugar”, reclama. 

No caminho das vendas, ela se depara com uma manifestação de mulheres, na Praça Zumbi dos Palmares - líder quilombola assassinado em 1695. Ela para um pouco e olha. “É isso mesmo. A gente não pode ficar calada”, diz.

Brasília(DF), 08/03/2024 - Mulheres vão às ruas de Brasília pelo Dia Internacional de Luta das Mulheres. Jacira Silva e Ludimar Carneiro do Coletivo Mulheres Negras Baobá. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Jacira Silva (E) e Ludimar Carneiro, do Coletivo Mulheres Negras Baobá, na manifestação em Brasília pelo Dia Internacional da Mulher - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Na manifestação em que Ruth se deparou na capital do país, uma série de coletivos ligados aos direitos das mulheres apresentava discussões variadas. Uma das organizadoras do evento, a produtora Hellen Frida, explica que o chamamento foi justamente para que diferentes grupos levassem suas demandas em um dia que “deve ser de luta”. 

Assim, o evento no Distrito Federal reuniu manifestos pelo direito à liberdade da mulher, a favor do aborto, contra a violência de gênero e outros manifestos por igualdade. As mulheres também protestaram sobre a situação das mães na Palestina, que têm sofrido os efeitos do conflito entre Israel e o Hamas. Pelo menos 240 cruzes foram pregadas para lembrar a situação do outro lado do mundo, e também de feminicídios na capital. Foram 31 confirmados no DF no ano passado.

“O número de denúncias de violências também tem aumentado. Quanto mais você dialoga nas comunidades, mais você vê o número de mulheres que estão em situação de violência e que ainda não denunciaram. Existe uma segregação econômica importante também. Acho que a violência econômica é central”, avalia Frida. 

Brasília(DF), 08/03/2024 - Mulheres vão às ruas de Brasília pelo Dia Internacional de Luta das Mulheres. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Mulheres vão às ruas de Brasília pelo Dia Internacional da Mulher - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Ela lamenta que, nas comunidades, há menos equipamentos públicos para dar atendimento às necessidades das mulheres. “Na região de São Sebastião [a 25 km de Brasília], que é a minha comunidade, está sendo criado o Centro de Referência da Mulher Brasileira, que é uma iniciativa do governo federal a partir de emendas parlamentares. Vai ser muito importante para nós”, elogia.

Quem também acompanha de perto as necessidades comunitárias, e estava presente ao evento do Dia das Mulheres na capital, foram representantes do coletivo de Mulheres Negras de Baobá. A jornalista e ativista Jacira da Silva explica que o grupo realiza um trabalho especial em uma área de ocupação na região do Guará - a cerca de 15 km da capital -, em um local onde majoritariamente vivem mulheres negras, que são mães solo e em situação de vulnerabilidade social. 

“Buscamos sensibilizar por meio de palestras, encontros, em diferentes datas, para falarmos sobre direitos”, explica. 

A professora Ludimar Carneiro, que também atua no coletivo, revela que recebe diferentes tipos de perguntas. “Elas querem saber por que não há uma delegacia perto, por que elas não têm um acesso rápido à justiça, por que elas não têm acesso à saúde. Elas são trabalhadoras da reciclagem”, relata. 

Na manifestação em Brasília, as trabalhadoras não poderiam estar presentes porque estão na lida, dizem as ativistas. “O despertar da consciência delas já não permite que elas deixem as suas atividades porque senão seus filhos vão passar fome”, diz a professora Jaciara. 

Brasília(DF), 08/03/2024 - Mulheres vão às ruas de Brasília pelo Dia Internacional de Luta das Mulheres. Marileide da Silva, vendedora ambulante. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Marileide da Silva, vendedora ambulante, trabalha durante a manifestação pelo Dia Internacional da Mulher - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Na manifestação, Marileide da Silva, moradora de Valparaíso, trabalhava como ambulante na venda de alimentos. A última vez que foi registrada em carteira tem mais de uma década, como babá. “Foi o que sobrou para mim”, disse. Ciente do tema da manifestação, observava tudo atentamente. “Existe machismo, violência, tudo o que elas estão falando. Gostei de trabalhar diante delas”, disse enquanto fazia as contas do dia e se preparava para voltar para casa, a 50 km dali. - (Por Luiz Claudio Ferreira - Repórter da Agência Brasil - Brasília.

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Edição: Fernando Fraga



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