(Foto: Marcos Corrêa/PR | Marcos Santos/USP Imagens)
Para o economista Marcio
Pochmann, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), o resultado do PIB de 2019, com crescimento “pífio” de
1,1%, revela que as “reformas” neoliberais – trabalhista e da Previdência – não
alcançaram os resultados defendidos pela dupla Jair Bolsonaro e Paulo Guedes,
com o apoio da mídia tradicional, além de escancarar o “descompasso” entre as
projeções do governo e do mercado e a realidade. “Se não houver uma mudança de
rumos, a tendência é que o crescimento em 2020 seja ainda pior, em função dos
impactos globais da epidemia de coronavírus”, afirma.
Aos jornalistas Marilu Cabañas
e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (5), Pochmann
reforçou que os economistas liberais praticam fake news, e que os resultados da
atividade econômica do país no ano passado só não foram piores por conta de
medidas “heterodoxas”, como a liberação das contas do FGTS. “Defendiam que as
reformas e os cortes de gastos públicos levariam a uma retomada do setor
privado e, portanto, o país voltaria a crescer. Infelizmente essas promessas
não se realizaram. Estamos nesse início de 2020 com uma renda per capita 7,3%
inferior àquela que os brasileiros tinham em 2014”, disse o economista.
Para o professor, os
“porta-vozes” do mercado financeiro precisam fazer uma “autocrítica” sobre as
medidas por eles defendidas e que não tiveram os resultados pretendidos.
“Cobram autocrítica da esquerda, mas para o centro e a direita parece não haver
esse tipo de circunstância. É fundamental entender onde erramos para poder
mudar.”
Segundo Pochmann, não se trata
de reformas, mas “deformas”. “É uma espécie de crença, um ilusionismo, de que o
crescimento está muito próximo. Mas para chegar lá tem que fazer essa e aquela
reforma. Na verdade, a palavra reforma não seria mais adequada. São ‘deformas’.
Estão deformando o país e nos levando a uma trajetória cuja decadência é
evidente”.
Juros e emprego
A redução da taxa de juros,
segundo Pochmann, é importante para frear o avanço da “financeirização” da
economia, mas insuficiente para fazer o país crescer, se não vier acompanhada
de medidas de estímulo à produção e ao consumo.
A flexibilização dos contratos
de trabalho pela reforma trabalhista, com retirada de direitos, também produziu
aumento estatístico na ocupação, sem garantir aos trabalhadores as condições
mínimas para se manterem. “Estão criando uma categoria de trabalhadores pobres.
O trabalho já não é mais suficiente para sair da condição de pobreza”.
Reservas
Além de não fazer o que se
deve em prol do crescimento, a equipe econômica do governo Bolsonaro adota
medidas que inviabilizam a adoção de medidas que colaborariam para uma saída
mais rápida para a crise. Ele defende, por exemplo, a utilização de parte das
reservas internacionais na aplicação de um plano emergencial para a retomada do
crescimento.
“Ocorre que estamos vendo uma
fuga de dólares no país. Para poder evitar que a nossa moeda se desvaloriza
ainda mais, o Banco Central (BC) vem queimando as reservas. Perdemos quase 10%
do acumulado até o governo Dilma. Estamos queimando as pontes para sair da
crise. A administração da economia é capenga e incompetente.”
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