Governador de Pernambuco Paulo Câmara
Paulo Câmara diz que Joaquim Barbosa deve mostrar a cara. Governador de PE também afirma que projeto nacional do PSB não inviabiliza costuras regionais como a que ele vem tentando com o PT no estado
O governador falou sobre o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, se apresentar para que o PSB e o povo brasileiro, saibam o que ele pensa sobre o Brasil. “Campanha de faz na rua”, disse Paulo. Herdeiro político de Eduardo Campos, o governador pernambucano tenta atrair o PT para uma aliança em torno de sua futura candidatura à reeleição. Segundo ele, os projetos regionais do PSB não impedem uma candidatura própria à Presidência da República.
Confira nessa entrevista concedida ao Estadão Conteúdo.
- O sr. teve um encontro recente com o ex-ministro Joaquim Barbosa, que se filiou ao PSB e é um possível candidato à Presidência. O que conversaram? Qual foi sua impressão?
Governador – O PSB saiu do seu congresso (em março) com três entendimentos para 2018: candidatura própria, alianças com partidos de centro-esquerda ou liberação nos Estados para apoiar candidaturas próprias. Dentro desse contexto apareceu a filiação do ex-ministro Joaquim Barbosa. Tive um encontro com ele antes da filiação e outro depois, fora a reunião do partido em Brasília. Ele está muito consciente das bandeiras das quais o PSB não abre mão. Há ansiedade em muitos setores do partido em resolver logo isso, mas há um movimento acertado de esperar um pouco mais. Existe um tempo político e eleitoral. Vamos definir isso nos próximos 60 dias. Pode haver alguns setores que acham que está muito silencioso.
- Barbosa representa o novo na política?
Governador – Ele sempre foi um ministro com uma visão de justiça social. Passa a impressão de que tem determinação de fazer o que precisa ser feito, mas precisa se apresentar. Se for caminhar para uma candidatura será muito questionado. Vai ter que dizer o que pensa em relação ao Brasil. O povo brasileiro não vai eleger nenhum presidente sem conhecer suas ideias e ter um mínimo de confiança
- O que acha das ideias dele para economia?
Governador – Ele sabe da necessidade de reformas, tem preocupação com desenvolvimento social e desigualdade social. Tem uma estratégia de conversar com todas as alas da economia. Esse é um dever de casa que ele se propôs a fazer.Barbosa devia se expor um pouco mais? Ele demonstrou pouco traquejo político naquela reunião com o PSB…Temos que respeitar o tempo que ele pediu. É óbvio que, se tiver a candidatura, ele vai ter que expor e falar. Não se faz campanha eleitoral sem estar nas ruas. Esse é o passo seguinte. Nós também não podemos sair com uma candidatura própria sem conversar com os campos com que nos identificamos, de centro-esquerda. Vai precisar acontecer uma discussão com os demais partidos de centro-esquerda. Isso é fundamental. Precisamos de uma estratégia para o primeiro e o segundo turno.
- No plano regional, o PSB procura o apoio do PT. No nacional, o candidato pode ser o ministro que foi relator do mensalão que condenou a cúpula do PT. Uma eventual candidatura do Barbosa pode atrapalhar seu plano regional?
Governador – Temos uma ampla aliança em Pernambuco. Sempre houve a possibilidade de termos palanques variados, mesmo com candidatura própria. Já passamos por isso em outros momentos. O importante é o projeto, e o PSB tem um muito claro, que foi feito com Eduardo Campos em 2014.Então para Barbosa ser candidato pelo PSB, ele precisa se adequar à plataforma de centro-esquerda do partido, e não o partido se adequar a ele…Isso é evidente. Não temos um projeto eleitoral, mas de governo. Não abrimos mão. Se a pré-candidatura do ex-ministro for para frente, ela tem que se incorporar a esse programa e às ideias do partido, que tem 70 anos. O PSB não apareceu agora. Tem história. Está no campo de centro-esquerda. Qualquer candidato do partido vai ter que ter coerência com o que nós pensamos.
- A morte do Eduardo Campos deixou o partido fragmentado. A candidatura presidencial não é importante para isso?
Governador – Isso sempre existiu. As diferenças regionais existem. Mas, mesmo com a morte de Eduardo, conseguimos um ponto de equilíbrio, que foi a ida do Carlos Siqueira para a presidência do PSB. No final, o PSB sempre mostra unidade.PSB já vê consenso para candidatura de Joaquim Barbosa. O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) esteve muito próximo do PSB, mas a aliança com ele não foi para frente. Ele destoa muito do pensamento do partido? A gente tem muito respeito pelo ex-governador Geraldo Alckmin. Tivemos uma convivência muito boa. Aqui em São Paulo o PSB é um aliado dele. Mas o Brasil é grande e o partido tem um programa de governo. Muitas bandeiras que Alckmin defende, o partido discorda. As reformas, por exemplo. Não defendemos a reforma da Previdência que foi exposta pelo governo federal, e o ex-governador Alckmin defendeu. Alckmin e outros candidatos de centro vão ter dificuldade de conseguir votos no Nordeste? O candidato a presidente que quiser ter votos no Nordeste vai tem que apresentar um programa com ações efetivas, como o presidente Lula teve capacidade de fazer.
Governador – O Nordeste tem muita gratidão pelo que o presidente Lula fez pelo desenvolvimento da região. Isso está muito presente na cabeça do povo nordestino, que rejeita a forma como o Brasil está sendo governado pelo presidente Temer. As pesquisas e avaliações mostram isso.
- Qual será o reflexo da prisão do ex-presidente Lula na campanha à Presidência e na disputa em Pernambuco?
Governador – A população ainda está assimilando isso. Não tenho uma opinião formada sobre isso. A própria decisão do STF sobre a prisão do Lula foi dividida, 6 a 5. Há muita divisão no País, mas a população nordestina tem muita solidariedade e gratidão (a Lula). Isso pode pesar nas eleições de 2018.
- Como avalia a estratégia do PT de manter a candidatura do Lula, mesmo preso?
Governador – O ideal era que todos os partidos e forças políticas de centro-esquerda conversassem mais e tivessem uma estratégia que pudesse resultar em uma candidatura única ou aliança no segundo turno. Fazemos parte de uma frente de partidos e assinamos um manifesto pela democracia. Estamos dispostos a dialogar. Temos até julho para discutir isso e ver a melhor estratégia.
- Marina Silva foi a candidata do PSB após a morte do Campos, mas saiu do partido. O que houve com essa relação?
Governador – O afastamento veio da própria Marina, e não do PSB, que sempre esteve aberto a conversar com ela. A Rede participou do meu governo por três anos, com pessoas próximas a Marina, em pastas importantes, como o Meio Ambiente. O ex-secretário Sérgio Xavier era muito presente na vida de Marina Silva. Ela simplesmente se afastou do PSB, especialmente em Pernambuco, onde tinha uma identificação muito grande comigo e com a família de Eduardo Campos. Infelizmente, a política tem isso. A gente só quer estar junto de quem quer estar junto de nós. Se ela quiser conversar, o PSB está de portas abertas, mas não basta só um lado querer dialogar.
- Quanto pretende gastar na campanha?
Governador – O limite de gastos da legislação é em torno de R$ 9 milhões, menos da metade do que gastamos em 2014. Pretendo gastar o que a legislação permitir. Mas o partido ainda não definiu a distribuição. O PSB tem muitas candidaturas majoritárias.
- Nesse aspecto, uma candidatura presidencial não drena recursos dos palanques estaduais?
Governador – Prejudica, mas vamos ter que nos adaptar se tivermos candidatura. Uma campanha presidencial puxa voto.
- A intervenção federal na segurança do Rio tem sido criticada. Pernambuco também sofre coma questão da violência. Como avalia esse processo? Pode ser válido para Pernambuco?
Governador – Eu, como governador, não aceitaria uma intervenção. Cabe ao governante tratar a questão da segurança do Estado. A União tem um papel a cumprir, mas não cumpre bem há muito tempo.
- Renata Campos tem um papel central na política de Pernambuco?
Governador – Ela sempre esteve presente na trajetória de Eduardo. Tem uma vivência e experiência. Mas, com o falecimento de Eduardo, decidiu não entrar na vida partidária. Gosta da política, mas não será candidata. É uma pessoa que sempre é ouvida.
- O João Campos, filho de Eduardo, assumiu esse papel mais partidário?
Governador –Ele se formou aos 21 anos em engenharia e definiu que queria entrar na vida pública. É um talento. Foi meu chefe de gabinete. Vai disputar agora um mandato de deputado federal. Mas a família está dividida. Marília Arraes, prima de Eduardo, é pré-candidata pelo PT, o irmão, Antonio, está no Podemos. Dr. Arraes sempre deixou muito claro que não tinha herdeiros na política. Eduardo caminhou com suas próprias pernas.
- Como foi sua relação com o governo Dilma Rousseff? Como é a relação com Michel Temer?
Governador – A relação foi difícil com Dilma. Já éramos oposição em 2015. Ela quis fazer um ajuste naquele ano sem consequências que paralisou o Brasil. É muito difícil, de uma hora para outra, sem planejamento, parar com os investimentos federais no Brasil. O governo Temer tem prioridades totalmente contrárias ao que a gente entende que é melhor para o Brasil. Isso gera muito conflito. É um governo sem legitimidade que acabou trazendo a ampliação das desigualdades. Nós fomos um dos Estados que mais sofremos. A falta de acesso ao crédito em Estados que têm níveis baixos de endividamento dificultou muito. Podíamos estar gerando emprego e renda com nossas próprias pernas.
- O PSB vai ter candidatura própria?
Governador – A gente tem um período de maturação. Não dá para ter uma definição. Hoje, o partido nem pré-candidato ainda tem.
- A educação será a principal bandeira do senhor?
Governador – Ser governador tem muito sofrimento e algumas alegrias. Mas a gente tem algumas alegrias realmente. A educação dá muita alegria, porque você vê meninos pobres que se dedicam, passam o dia nas nossas escolas de tempo integral, estudam, aí já estão ganhando o mundo nesse programa que manda para o exterior. Meninos que nunca viram o mar, que não conhecem o Recife, vão para o Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos, Espanha, e voltam sabendo que só depende deles. Eu estou motivando (esses jovens) a fazer universidade, principalmente os que não têm renda, eu dou uma bolsa, para quem é da escola pública, tem baixa renda e que passa na universidade pública, de dois anos para se manter até conseguir um estágio, arrumar emprego. E esses meninos estão passando em todas as universidades, estão vindo para São Paulo estudar Direito na USP, estão indo para a UnB estudar Relações Internacionais, indo para o Recife estudar na Federal. Educação a gente vê que transforma a vida. Em 2007, quando Eduardo assumiu, Pernambuco estava lá atrás, a pior educação do ensino fundamental, último lugar, 21º no ensino médio. Em 11 anos, se tiver foco, gestão, prioridade, se faz uma transformação como a gente está fazendo.
- Quanto o sr.investe em educação?
Governador – Eu invisto 27% das nossas receitas, o limite é 25%. Mas a gente consegue ter um (gasto) per capita, por aluno, muito menor do que todos os Estados, porque nós temos merenda, fardamento escolar, tudo devidamente dado. E tem gestão. Acho que o grande salto que nós demos foi na gestão, priorizamos escola em tempo integral, escolas regulares. Em dez anos é possível transformar. O que o Brasil precisa é de planejamento. Se qualquer presidente deixar de ficar quatro anos pensando em reeleição, se pensar em plantar sementes, a gente transforma. Isso é possível fazer. O Brasil tem tudo para avançar, mas precisa de gestão, de priorização, de regras claras, de mais entendimento.
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