sábado, 15 de junho de 2024

MUNDO: Movimento antivacina durante a Covid foi estimulado pelo Pentágono e tinha como objetivo atingir a China

Reportagem investigativa da Reuters revela como o setor militar estadunidense atacou as vacinas chinesas – o que teve apoio do Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro

Bolsonaro e enterro durante a pandemia da COVID-19 (Foto: Reprodução/Youtube | REUTERS/Bruno Kelly)


Reuters – Durante o auge da pandemia de COVID-19, o Pentágono dos EUA iniciou uma campanha secreta visando contrapor a crescente influência da China nas Filipinas, país severamente afetado pelo vírus. A operação clandestina, que não havia sido anteriormente reportada, tinha como objetivo disseminar dúvidas sobre a segurança e eficácia das vacinas e outras ajudas vitais fornecidas pela China. De acordo com uma investigação da Reuters, a campanha de propaganda do exército utilizou contas falsas na internet para simular serem de filipinos, transformando-se em uma campanha antivacina.

As postagens nas redes sociais criticavam a qualidade das máscaras faciais, kits de teste e a vacina Sinovac, a primeira a estar disponível nas Filipinas. Pelo menos 300 contas no X, anteriormente Twitter, foram identificadas como correspondentes às descrições compartilhadas por ex-oficiais militares dos EUA familiarizados com a operação nas Filipinas. Quase todas foram criadas no verão de 2020 e centradas no slogan #Chinaangvirus – em Tagalog, "China é o vírus". Essa postagem, identificada pela Reuters, coincidia com a mensagem, cronograma e design da campanha de propaganda antivacina do exército dos EUA nas Filipinas, disseram ex e atuais oficiais militares. A plataforma de mídia social X também identificou a conta como falsa e a removeu.

A campanha antivacina do Pentágono começou na primavera de 2020 e se expandiu além do Sudeste Asiático antes de ser encerrada em meados de 2021. Adaptando a campanha de propaganda para o público local em toda a Ásia Central e Oriente Médio, o Pentágono utilizou uma combinação de contas falsas de mídia social em múltiplas plataformas para espalhar medo das vacinas chinesas entre os muçulmanos, num momento em que o vírus matava dezenas de milhares de pessoas todos os dias. Uma parte chave da estratégia: ampliar a contestação de que, como as vacinas às vezes contêm gelatina de porco, os imunizantes chineses poderiam ser considerados proibidos sob a lei islâmica.

Movimento antivax no Brasil – No Brasil, um movimento similar de desconfiança às vacinas foi notado, tendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos como figuras de destaque. Eles frequentemente se referiam às vacinas chinesas de forma pejorativa como "Vachina", ecoando sentimentos antivacina durante o período crítico da pandemia. As primeiras vacinas trazidas ao Brasil, que eram chinesas, chegaram por iniciativa do então governador de São Paulo, João Doria, intensificando um debate político e ideológico sobre a vacinação no país.

O programa militar começou sob a administração do ex-presidente Donald Trump e continuou meses após a posse de Joe Biden, encontrou a Reuters – mesmo depois que executivos de mídia social alarmados alertaram a nova administração de que o Pentágono estava produzindo desinformação sobre a COVID. A Casa Branca de Biden emitiu um decreto na primavera de 2021 proibindo o esforço antivacina, que também difamava vacinas produzidas por países rivais, e o Pentágono iniciou uma revisão interna, revelou a investigação (com informações do Brasil 247).


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SUL Porto Alegre tem ato contra 'PL do Estupro': 'homens de esquerda precisam denunciar este crime que envergonha o Brasil' (vídeo)

Manifestantes levaram cartazes dizendo "gravidez forçada é tortura"

Manifestação em Porto Alegre (Foto: Reprodução (X))

Manifestantes foram às ruas de Porto Alegre (RS) em ato contra o Projeto de Lei 1904/2024, que teve o seu regime de urgência aprovado nesta semana pela Câmara dos Deputados. Um participante do ato destacou a importância do protesto. "Nosso papel, homens de esquerda, é estarmos aqui, uma solidariedade ativa pelas companheiras mulheres contra o PL 1904, que é um verdadeiro crime, envergonha o Brasil perante o mundo". As pessoas levaram cartazes dizendo "criança não é mãe estuprador não é pai", "gravidez forçada é tortura" e "nem um passo atrás".

A proposta equipara o aborto de gestação acima de 22 semanas ao homicídio. Com a decisão, a matéria não precisará passar por alguma comissão, e será votada diretamente no plenário. Não há data definida para a votação.

O aborto é permitido no Brasil apenas em casos de estupro, deformação fetal ou quando a vida da mãe estiver em perigo. Se o projeto de lei apoiado por parlamentares evangélicos se tornar lei, os abortos realizados por vítimas de estupro seriam considerados homicídio após 22 semanas de gestação.

Grupos feministas criticaram a legislação proposta por impor penas mais severas do que as aplicadas aos estupradores no Brasil, argumentando também que as mudanças afetariam principalmente as crianças abusadas por familiares.

Estas crianças, muitas vezes sem compreensão ou apoio para se reconhecerem como vítimas de crimes, frequentemente descobrem a gravidez tardiamente.

Os protestos começaram na quinta-feira nas maiores cidades do Brasil depois que a Câmara dos Deputados aprovou urgência do projeto, o que restringe o debate sobre a proposta.

Confrontado com críticas de que as vítimas de estupro que procuram abortar poderiam enfrentar penas piores do que os estupradores, o autor do projeto de lei, Sostenes Cavalcante (PL-RJ), disse que irá propor penas mais duras para o estupro, que atualmente prevê um máximo de 10 anos de prisão.

Cavalcante é pastor evangélico e membro do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. - 247.

Com informações da Reuters


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Lira terá de abortar PL do aborto

O presidente da Câmara dos Deputados, que já estava desacostumado a perder, está levando uma goleada inesquecível nas ruas, mais desmoralizante que o 7 a 1

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Empolgado com as últimas vitórias, provavelmente achando que é mesmo o rei, e pode tudo, Arthur Lira resolveu colocar na pauta um dos projetos de lei mais draconianos dos últimos tempos, mesmo em comparação com a ditadura militar, achando que a boiada ia passar, logo ele, um político experiente não se tocou que os brasileiros não iriam engolir pena de vinte anos para a mulher que aborta, inclusive em caso de estupro, enquanto o estuprador pode pegar no máximo dez. 

O estado, em vez de proteger, pune a vítima!  

É desumano e inconstitucional, como é que o Lira tem coragem de colocar para votar uma coisa dessas?! Achou que ninguém ia reagir?! 

E qual será a consequência? Superlotar ainda mais as prisões! Essa é a única consequência.  

Incrível a falta de sensibilidade do presidente da Câmara dos Deputados, segundo na linha de sucessão do presidente da República e que não satisfeito em completar dois anos de mandato tenta fazer o sucessor, a fim de continuar mandando.

Ele que já estava desacostumado a perder está levando uma goleada inesquecível nas ruas, mais desmoralizante que o 7 a 1. Conseguiu a façanha de unir o país. Contra ele.

A única coisa que lhe resta fazer é abortar o PL do aborto. - 247.


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PODER Pesquisa Atlas mostra que 51% dos brasileiros aprovam desempenho de Lula

 A aprovação do presidente continua acima do índice de desaprovação

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

A pesquisa do instituto AtlasIntel produzida em parceria com a CNN Brasil mostrou que 51% dos brasileiros aprovam o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e 47% reprovam a atuação do presidente.

De acordo com os números, 2% dos brasileiros não sabem como avaliar o desempenho de Lula à frente da Presidência da República.

Foram entrevistadas 3.601 pessoas entre os dias 7 e 11 de junho. O levantamento tem margem de erro de um ponto percentual para mais ou para menos e nível de confiança de 95%. - 247.


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Com PL do aborto, instituições temem mais casos de gravidez em meninas

 Movimentos sociais e especialistas repudiam projeto de lei na Câmara

Agência Brasil/Marcello Casal Jr. Arquivo


Entre 1º de janeiro e 13 de maio deste ano, foram feitas 7.887 denúncias de estupro de vulnerável ao serviço Disque Direitos Humanos (Disque 100). A média de denúncias nos primeiros 134 dias do ano foi de cerca de 60 casos por dia ou de dois registros por hora, conforme reportado pela Agência Brasil.

Em eventual aprovação do Projeto de Lei 1.904/2024, parte dessas meninas vítimas de estupro e que vivem em situações de vulnerabilidade social pode não conseguir interromper a gravidez indesejada. O alerta é de movimentos sociais e de instituições que vieram a público repudiar a proposta que altera o Código Penal Brasileiro.

O projeto de lei, assinado por 32 deputados federais , equipara aborto a homicídio; e prevê que meninas e mulheres que vierem a fazer o procedimento após 22 semanas de gestação, inclusive quando vítimas de estupro, terão penas de seis a 20 anos de reclusão - punição maior do que a prevista para quem comete crime de estupro de vulnerável (de oito a 15 anos de reclusão). A legislação brasileira não prevê um limite máximo para interromper a gravidez de forma legal.

Retrocesso inconstitucional

De acordo com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), o PL é inconstitucional, viola o Estatuto da Criança e do Adolescente e contraria normas internacionais que o Brasil é signatário.

“Representa um retrocesso aos direitos de crianças e adolescentes, aos direitos reprodutivos e à proteção das vítimas de violência sexual”, assinala nota do Conanda.

Também em nota, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, lembra que “as principais vítimas de estupro no Brasil são meninas menores de 14 anos, abusadas por seus familiares, como pais, avôs e tios. São essas meninas que mais precisam do serviço do aborto legal, e as que menos têm acesso a esse direito garantido desde 1940 pela legislação brasileira".

Em média, 38 meninas de até 14 anos se tornam mães a cada dia no Brasil. Em 2022, último período disponível nos relatórios do Sistema Único de Saúde (SUS), foram mais de 14 mil gestações entre meninas com idade até 14 anos.

“O Brasil delega a maternidade forçada a essas meninas vítimas de estupro, prejudicando não apenas o futuro social e econômico delas, como também a saúde física e psicológica. Ou seja, perpetua ciclos de pobreza e vulnerabilidade, como o abandono escolar”, lembra a ministra.

“A gente está institucionalizando a barbárie. A gente está deixando com que cada um haja com a sua própria energia, na medida das suas possibilidades para lidar com uma situação criminosa e que o Estado brasileiro está se recusando a equacionar”, acrescenta a advogada Juliana Ribeiro Brandão, pesquisadora sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Rio de Janeiro (RJ) 13/06/2024 – Manifestação de protesto contra o PL 1904/24, que equipara aborto a homicídio, com pena de até 20 anos, reúne mulheres na Cinelândia. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio de Janeiro (RJ) - Protesto contra o PL 1904/24 reuniu mulheres na Cinelândia nessa quinta-feira (13). Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado pelo FBSP, contabiliza que 56,8% das vítimas de estupro (adultos e vulneráveis) em 2022 eram pretas ou pardas; 42,3% das vítimas eram brancas; 0,5% indígenas; e 0,4% amarelas. A pesquisadora assinala o recorte racial e social do PL e pondera que quem tem possibilidade de custear os procedimentos para aborto seguro, no exterior ou mesmo clandestino no Brasil, “não vai mudar nada.”

Aberração jurídica

O advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos da infância e juventude, considera o PL 1.904/2024 “uma verdadeira aberração jurídica.”

Em sua opinião, o Brasil precisa “aprimorar o atendimento social, psicológico, policial, judicial e de saúde das mulheres e meninas gestantes em decorrência de estupros, e também gestantes que estejam em risco de vida ou grávidas de fetos anencéfalos.”

Ele acrescenta que meninas e mulheres vítimas de estupros “não demoram para realização do procedimento por mero capricho.” As vítimas podem demorar mais a fazer os procedimentos de aborto previstos em lei para além da 20ª semana de gestação “por estarem submetidas, ameaçadas e constrangidas por seus agressores, e em razão da burocracia dos serviços de saúde, policiais e judiciais, e também pelas oposições morais e religiosas de alguns profissionais públicos e privados e das próprias famílias.”

Para Jolúzia Batista, articuladora política do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), “o Projeto de Lei 1.904/2024 é uma tragédia”, e ganhou status de proposição que deve tramitar com urgência, depois de votação simbólica no Plenário da Câmara dos Deputados, em razão de “um contexto político e eleitoral”, disse se referindo às eleições municipais em outubro e à sucessão da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2025.

Votação simbólica

A decisão de acelerar a tramitação é atribuída ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Em declaração à Agência Câmara, Lira disse que a votação simbólica foi acertada por todos os líderes partidários durante reunião nessa quarta-feira (12). Em regime de urgência, o projeto é votado diretamente no plenário, sem passar por debates nas comissões da Casa.

“É vergonhoso e um golpe contra os direitos das mulheres, da infância e da adolescência a manobra do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, ao colocar o PL em regime de votação de urgência. Ao impedir o debate público pelas comissões pertinentes e pela sociedade, Lira desrespeita os direitos de crianças e mulheres”, critica o movimento Me Too Brasil, organização que atua contra o assédio e o abuso sexual.

 

Em 2022, de cada quatro estupros, três foram cometidos contra pessoas “incapazes de consentir, fosse pela idade (menores de 14 anos), ou por qualquer outro motivo (deficiência, enfermidade etc.)”, informa publicação do FBSP, em 2023.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que apenas 8,5% dos estupros no Brasil são relatados à polícia. A projeção do instituto é que, de fato, ocorram 822 mil casos anuais.

Mantida a proporção de três quartos dos casos registrados nas delegacias, o Brasil teria mais de 616 mil casos de vulneráveis por ano. - (Por Gilberto Costa - repórter da Agência Brasil - Brasília).

Edição: Carolina Pimentel


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Enel confirma a Lula investimento de R$ 20 bi para acabar com apagões

 Presidente reuniu-se com diretor-geral da empresa na viagem à Itália

Ricardo Stuckert/PR

Companhia com a imagem afetada por sucessivos apagões nos últimos meses, a Enel assumiu o compromisso de investir R$ 20 bilhões de 2024 a 2026 nos estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e Ceará para reduzir as interrupções de energia. A empresa prometeu o investimento após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrar-se com o diretor-geral da Enel, Flavio Cattaneo, na viagem à Itália.

“A gente está disposto a renovar o acordo se eles assumirem o compromisso de fazer investimento, e eles assumiram o compromisso de ao invés de investirem R$ 11 bilhões, eles vão investir R$ 20 bilhões nos próximos três anos, prometendo que não haverá mais apagão em nenhum lugar em que eles forem responsáveis”, disse Lula em entrevista coletiva após o encontro.

De acordo com o presidente, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, deve apresentar uma proposta na próxima semana que tratará os termos da renovação. “São Paulo, a maior capital, cidade mais importante do país, não pode ficar sem energia”, acrescentou Lula.

No fim de abril, a Enel tinha anunciado o investimento de US$ 3,7 bilhões, em torno de R$ 20 bilhões, para diminuir as interrupções de energia nas áreas onde opera. Recentemente, o governo condicionou a renovação das concessões à companhia à ampliação dos investimentos.

No momento, o Ministério de Minas e Energia e a Casa Civil da Presidência da República discutem os critérios para a renovação de 20 concessões na área de energia que vencem a partir de 2025. Além da Enel, terão os contratos renovados a CPFL Energia, a Neoenergia, a Equatorial e a Energisa, que concentram quase dois terços do mercado de distribuição de energia no país.

Multas e CPI

Após os apagões que atingiram a região metropolitana de São Paulo em novembro, a Enel foi multada duas vezes. Em fevereiro, a Aneel multou a companhia em R$ 168,5 milhões. Em abril, o Procon SP aplicou uma multa de R$ 12,9 milhões, por falhas no serviço de energia no centro da capital paulista.

Nesta semana, a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e Segurança Pública multou a filial da Enel no Rio de Janeiro em R$ 13,067 milhões. Os motivos foram a frequência de interrupção dos serviços e a demora por parte da concessionária em restabelecer o fornecimento.

Em São Paulo, a Enel foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal que pediu o fim do contrato com a companhia e cobrou investimentos de R$ 6,2 bilhões na rede de energia da capital paulista. Em abril, a 22ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve liminar que obriga a companhia a reduzir a falta de luz no estado. - (Por Fabíola Sinimbú e Wellton Máximo – Repórteres da Agência Brasil - Brasília).


Edição: Juliana Andrade



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Confira como foi o balanço feito pelo presidente Lula de seus encontros no G7

O presidente afirmou que um possível acordo 'será benéfico para a América do Sul e para os governos da União Europeia'. Também falou sobre a guerra na Ucrânia

Lula (Foto: Ricardo Stuckert / PR)


Planalto - Vocês querem fazer perguntas ou querem ouvir?

É importante dizer para vocês o seguinte: nós, na conversa que nós tivemos com a presidente da Comissão Europeia (Ursula Von der Leyen), nós voltamos a discutir a questão do acordo União Europeia e Mercosul. E eu disse para ela que, depois de todas as tratativas que o Brasil fez para mudar o acordo, colocando as coisas que nós achávamos que era necessário colocar e tirando as coisas que nós achávamos que era necessário tirar, de que o Brasil está pronto para, na hora que a União Europeia quiser, assinar o acordo. Agora os problemas são deles, porque tiveram as eleições agora, ela deve ser indicada daqui a umas três semanas para ocupar o mesmo cargo que ela está hoje, de Presidência da Comissão Europeia. E o Macron (Emmanuel Macron, presidente da França) convocou eleições para a França, então, nós temos que aguardar também, porque até o companheiro Macron estava mais flexível quando se tratou de falar do acordo. “Deixa passar as eleições para a gente conversar”.

Então eu volto com otimismo de que nós, do Mercosul, estamos prontos para assinar esse acordo e estamos certos de que o acordo será benéfico para a América do Sul, para o Mercosul e para os empresários e os governos da União Europeia.

A segunda coisa que foi importante na conversa com os outros dirigentes, vocês sabem que, com a Alemanha, a gente tem uma parceria estratégica muito poderosa. O Olaf Scholz (chanceler da República Federativa da Alemanha) nos convidou para que a gente faça uma visita, ano que vem, na Feira de Vancouver, para que a gente possa participar com ele. E, ao mesmo tempo, eu pedi para ele me explicar um pouco o que aconteceu nas eleições da Alemanha, em que o SPD teve uma votação muito pequena, muito distante daquilo que, historicamente, tinha. Ele me explicou. Eu ouvi. E estou levando o ensinamento para a casa.

Da mesma forma, perguntei para o Macron. “Macron, o que aconteceu na eleição para o parlamento europeu?”. Ele me explicou, eu entendi e vou levar o ensinamento para a casa.

E eu conversei com outros dirigentes sobre outros assuntos. Com o Macron, nós também estabelecemos uma parceria muito forte e eu acho que Brasil e França vão mudar de patamar de negociação nos próximos anos.

Com a presidenta da Suíça, presidenta Viola (presidenta da Confederação Suíça, Viola Amherd), ela foi a Genebra, conversar comigo, em um gesto de gentileza dela, pegou um avião e foi a Genebra, porque ela queria nos convidar para participar da reunião que está havendo, neste final de semana, para discutir a questão da paz. E eu disse para ela que o Brasil tinha tomado a decisão de não ir, porque o Brasil só participará de reunião para discutir a paz quando os dois lados em conflito estiverem sentados na mesa. Porque não é possível você ter uma briga entre dois e você achar que se reunindo só com um, você resolve o problema. 

Como ainda há muita resistência, tanto do Zelensky (Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia), quanto do Putin (Vladimir Putin, presidente da Rússia), de conversar sobre paz, cada um tem a paz na sua cabeça, do jeito que quer, e nós estamos, depois de um documento assinado com a China, pelo Celso Amorim e pelo representante do Xi Jinping, nós estamos propondo que haja uma negociação efetiva. Que a gente coloque, definitivamente, a Rússia na mesa, o Zelensky na mesa, e vamos ver se é possível convencê-los de que a paz vai trazer melhor resultado do que a guerra. Na paz, ninguém precisa morrer, não precisa destruir nada. Não precisa vitimar soldados inocentes, sobretudo jovens, e pode haver um acordo. Quando os dois tiverem disposição, nós estamos prontos para discutir. 

Também nós tivemos uma discussão importante com os outros dirigentes, porque o Brasil vai fazer o G20 e nós queremos que eles participem ativamente do G20, participar, inclusive, em julho, agora, onde nós vamos fazer o lançamento do programa de combate à fome e à pobreza. Vai ser feita uma conferência. Vai ser onde, Mauro (Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil)? No Rio de Janeiro. E vocês da imprensa estão convidados a participar.

Por último, a conversa com a primeira-ministra Giorgia Meloni (Itália), uma conversa em que eu tentei mostrar para ela o histórico da relação do Brasil com a Itália. E a importância de ela visitar o Brasil e ter contato com os quase 30 milhões de italianos e descendentes de italianos que moram no Brasil. São 1.400 empresas que investem no Brasil. São a geração de mais de 150 mil empregos. E eu lembro de uma discussão que eu tive quando a gente estava brigando para realizar as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Que um delegado que tem voto no Comitê Internacional italiano foi conversar comigo e ele começou dizendo: “Olha, porque nós temos um problema no Brasil, porque o Brasil tem um problema de segurança, porque o Brasil tem um problema de muita favela”. Eu falei: “Ó, cara, deixa eu falar uma coisa para você. Eu não deveria nem estar falando com você, porque se um delegado tem obrigação de votar no Brasil é você. E não questionar. Por quê? Porque se Roma estivesse disputando, tudo bem que vocês quisessem trazer a Olimpíadas para Roma. Mas, como Roma não está disputando e o Brasil é o maior país italiano depois da Itália, você tem obrigação de garantir que os 30 milhões de italianos assistam às Olimpíadas”. Não sei se aconteceu, se ele mudou de posição, o dado concreto é que nós ganhamos e fizemos as Olimpíadas.

Mas é importante, porque tem grande população italiana em São Paulo, tem população italiana no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina. E é importante. Nós vamos completar 150 anos de migração da Itália. E 200 anos da imigração da Alemanha. E nós também convidamos o governo alemão para se fazer presente na festa de comemoração dos 200 anos, que vai acontecer em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

Bom, no final das conversas, nós tivemos uma reunião com a Enel. Uma empresa de energia que é responsável pela energia do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Ceará. Aquela empresa que teve uma série de problemas que causou apagão em São Paulo, na capital; que causou apagão no Ceará, que causou apagão no Rio de Janeiro. E nós estamos conversando com eles para que a gente está disposto a renovar o acordo, se eles assumirem o compromisso de fazer investimento. E eles assumiram o compromisso. Em vez de investir 11 bilhões, eles vão investir 20 bilhões nos próximos três anos, prometendo que não haverá mais apagão em nenhum lugar em que eles forem responsáveis pela energia. Na semana que vem, o ministro de Minas e Energia [Alexandre Silveira] vai me levar uma proposta e nós vamos então saber se vamos fazer ou não para resolver esse problema energético, que São Paulo é muito importante e a gente não pode permitir que a capital mais importante do país fique sem energia.

Por último, queria dizer para vocês que a reunião do G7, ela que discutiu o problema — vocês devem ter visto o discurso que eu fiz, um pequeno pronunciamento —, em que nós estamos discutindo há algum tempo já como é que você vai mudar o funcionamento das instituições multilaterais, sobretudo as instituições criadas do sistema financeiro, como é que você vai resolver o problema de países africanos que, muitas vezes, têm que pagar de de juros o que eles não têm para fazer de investimento interno. Então, é importante que os países ricos e os fundos contribuíssem, fazendo com que metade do que eles têm que pagar de juros, não precisaria ser pago. A obrigatoriedade de fazer investimento em infraestrutura com esse dinheiro. Na África, seja energia, seja rodovia, seja ferrovia. Ou seja, o que for necessário fazer para ver se a gente dá um salto de qualidade.

E também convidei todos para entrarem na briga contra a desigualdade, contra a fome e a pobreza. Não é possível que você tenha meia dúzia de pessoas que tenham mais dinheiro que o PIB da Inglaterra, que o PIB da Espanha, que o PIB de Portugal, que o PIB da Alemanha, juntos. Não é possível. Não é possível que tão poucos tenham tanto dinheiro e muitos tenham tão pouco dinheiro. É preciso dar um certo equilíbrio se a gente quiser acabar com a fome e se a gente quiser fazer justiça social neste país.

E eu senti, também, um entusiasmo muito grande de todos eles em participar do G20. Eu acho que nós vamos fazer um grande G20. Vai ser uma experiência histórica para o nosso Brasil e eu espero que com muitos presidentes que forem ao Brasil – eu tenho convidado os presidentes dizendo para eles: “Olha, eu gostaria que vocês fossem ao Brasil e que você levasse muitos empresários para a gente juntar muitos empresários brasileiros e fazer negociações, porque é preciso aumentar a rentabilidade de cada país”. O comércio exterior, o fluxo da balança comercial. E quem trata disso é empresário, não é governo. O governo só abre a porta, mas quem vai fazer negócio são os empresários. Nós vamos ter muitos pedidos de bilaterais, nós não sabemos se tudo pode ser preenchido por ocasião do G20, mas o dado concreto é que, daqui para frente, já decidi, cada viagem que eu fizer vai ter um monte de empresário viajando para que a gente possa vender os produtos que o Brasil é capaz de produzir e comprar também aquilo que querem nos vender. 

Então eu volto, regresso ao Brasil hoje, muito otimista com o que está acontecendo na nossa política internacional. Portanto, agora, eu estou à disposição de vocês. Perguntas inteligentes e respondíveis.

Murilo Salviano (TV Globo): Oi, presidente, boa tarde já. Murilo Salviano da TV Globo. Presidente, em respeito aos colegas que estão aqui e vieram até a Puglia para cobrir o G7, eu vou fazer uma pergunta sobre o evento.

Presidente Lula: Vem mais para a frente para falar, porque não estou ouvindo o som, estou vendo só você falando. 

Murilo Salviano (TV Globo): Oi. Pronto. Agora sim. Vou fazer uma pergunta sobre o evento e, daqui a pouco, a gente entra em questões internas do Brasil, extremamente importantes. Presidente, os líderes do G7 nesse documento final foram explícitos em dizer que eles vão apoiar uma governança mais eficaz, inclusiva e igualitária nesses órgãos internacionais, que é um dos pilares do G20 no Brasil. Então, eles ressaltaram isso no documento, colocaram, inclusive, nas primeiras páginas do documento. Nessas conversas aqui, eu sei que o senhor já vem conversando um pouco para fazer acordos para que sejam anunciados no G20 do Brasil. Alguns desses líderes já deram sinalização positiva de que vai ter mudança na ONU até o G20 no Brasil? O senhor acha que o Brasil vai ser capaz de emplacar essa mudança até o G20? Que é um dos pilares, um dos tripés do G20 no Brasil?

Presidente Lula: Olha, eu não te direi que nós somos capazes de emplacar no G20. O que eu posso te dizer é que nós nunca andamos tanto no caminho certo como nós estamos andando agora sobre a necessidade de mudança na governança mundial, em todos os aspectos. Desde a composição do Conselho de Segurança, desde a participação dos vários continentes até a questão do funcionamento das instituições de Bretton Woods, que hoje não funcionam. Hoje, o papel dessas instituições é sufocar os países. E nós queremos que essas instituições ajudem os países. 

Eu nunca tinha sentido tanta flexibilidade e tanta boa vontade como nós estamos ouvindo aqui. Até a questão da OMC (Organização Mundial do Comércio) voltou a entrar na pauta do G7. É importante lembrar que a última reunião importante, quase que decisiva, que nós fizemos na Organização Mundial do Comércio foi em 2008. Eu ainda estava na Presidência e a gente parou as negociações por causa das eleições do Obama, que o Bush pediu para parar. E também a eleição na Índia. E, depois, nunca mais a gente retomou a Organização Mundial do Comércio, ela perdeu força e não funcionou mais. Eles agora estão querendo que funcione, possivelmente para ver se conseguem colocar a China dentro. Para mim, seria muito interessante que funcionasse, porque nós temos que regular, com muito cuidado, a regra de comércio exterior para que não haja uma vantagem de um país sobre o outro. Porque a boa política, a boa política, é uma política de duas mãos. É como se fosse uma rodovia. Eu compro e eu vendo, eu compro e eu vendo. Para que a gente tenha oportunidade de crescer juntos. Se você só tiver déficit comercial, você não vai para lugar nenhum. Eu achei extremamente importante. Mas mais importante ainda, eu achei, nos companheiros dirigentes do G7, é que eles estão discutindo, inclusive, a questão da organização dos materiais críticos, que é uma das inovações do debate sobre o futuro da economia do mundo. A produção de minerais que ainda não são utilizados e que, agora, são necessários para que a gente faça a revolução energética. E o que eles estão decidindo já? Estão decidindo que eles estão dispostos a participar, ajudar os países que têm os minerais, mas que a transformação seja feita no país de origem. Ou seja, não é só você exportar minério de ferro ou só exportar bauxita. Não. É você fazer o processo de transformação no seu país para ele comprar os produtos, colocando valor agregado naquilo que a nossa capacidade de produzir. É uma inovação muito grande e isso é unânime no G7. É que eu acho que isso vai ajudar muito países. O Brasil, que tem um território muito grande, tem muitos minerais, mas vai ajudar, sobretudo, os países africanos, porque eles terão que financiar um processo de industrialização. 

Me parece que, nesse primeiro quarto do século 21, as pessoas estão se dando conta de que a forma como foi organizada as coisas depois da segunda guerra mundial parou de funcionar. Inclusive a democracia, correndo o risco, com o surgimento de um extremismo de direita absurdo. Então eu acho que é um avanço. Eu estou consciente de que isso vai continuar avançando no G20. Estou consciente que aquilo que parecia impossível há algum tempo atrás, vai virar tudo possível. É só a gente ter paciência, a gente ser persistente e a gente ser convincente. Eu tenho certeza de que nós vamos conseguir esse processo democraticamente, que já tentamos desde 2008, na primeira reunião do G20, a gente já tentou mudar as instituições, ter mais gente participando do FMI, ter mais os países em desenvolvimento na direção, ter mais cargo, para que a gente possa fazer um bom uso das instituições. 

Murilo Salviano (TV Globo): A mudança na ONU até o G20 é difícil?

Presidente Lula: Eu acho que é difícil, eu acho que é difícil. Porque é aquele negócio, né? Quem chegou primeiro na festa quer ficar e não quer dar lugar para outro. E nós queremos mostrar que o que está acontecendo na Ucrânia, o que está acontecendo na Faixa de Gaza, é muito pela fragilidade do papel das Nações Unidas. Não existe veracidade nas conversas, porque se a ONU tivesse uma direção forte, se a ONU tivesse uma representatividade forte e se os países que compuseram o Conselho de Segurança tivessem, não assumindo o papel de um ou de outro, mas assumindo o papel da neutralidade em busca de um acordo, possivelmente a gente estaria em uma mesa de negociação, sentado, ouvindo o que cada um quer para a gente poder saber o que é possível para cada um. Eu acho que nós vamos chegar lá. É uma questão de tempo. 

Eu digo para todo mundo: eu nunca tive experiência de guerra, mas eu tive muita experiência de greve. Então, numa greve, quando você começa ela, você começa achando que você pode tudo. Você chega a dizer: “Não, porque nós só vamos voltar a trabalhar quando atenderem as nossas reivindicações. Eu não volto a trabalhar, é tudo ou nada”. E muitas vezes a gente fica sem nada. Então, eu acho que essa guerra já está durando demais e não é necessária. Eu espero que o bom senso tome conta da cabeça dos dirigentes e que a gente possa fazer as mudanças que precisamos fazer.

Laís Alegretti (BBC Brasil): Presidente, bom dia. Laís Alegretti da BBC Brasil. Eu queria fazer uma pergunta para o senhor que eu acredito que muitos brasileiros e brasileiras gostariam de fazer, porque é um assunto que levantou muito protesto do Brasil. Foi a aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto que equipara aborto a homicídio. Gostaria de perguntar para o senhor, primeiro, o que o senhor acha da possibilidade desse projeto ser aprovado durante o governo do senhor e, segundo, se o senhor acredita que legislação que a gente tem sobre aborto no Brasil hoje precisa de alguma mudança. Obrigada.

Presidente Lula: Veja, a primeira coisa que eu preciso dizer para vocês em alto e bom som – e não é a primeira vez, porque já fui candidato em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006, fui candidato em 2022, ou seja – é que eu, Luiz Inácio Lula da Silva, fui casado, tive 5 filhos, 8 netos e uma bisneta. Eu sou contra o aborto. Entretanto, como o aborto é a realidade, a gente precisa tratar o aborto como uma questão de saúde pública. E eu acho que é insanidade alguém querer punir uma mulher com uma pena maior que o criminoso que fez o estupro. É, no mínimo, uma insanidade isso. Eu, sinceramente, a distância, não acompanhei os debates muito intensos no Brasil. Quando eu voltar, vou tomar ciência disso. Eu tenho certeza que o que tem na lei já garante que a gente aja de forma civilizada para tratar com respeito, para tratar com rigor, o estuprador. E para tratar com respeito a vítima. É isso que precisa ser feito. Quando alguém apresenta uma proposta de que a vítima tem que ser punida com mais rigor do que o estuprador, não é sério. Sinceramente, não é sério.

Denise Odorissi (Record TV): Boa tarde, presidente. Denise Odorissi da Record TV. Sobre o discurso que o senhor fez ontem na sessão do G7, o senhor mencionou os conflitos e mencionou o conflito em Gaza. E aí o senhor falou uma frase que “o legítimo direito de defesa foi transformado em direito de vingança”. E o senhor não menciona diretamente nenhum dos dois lados, o senhor não menciona Israel. Então, eu gostaria de saber se isso foi uma escolha para amenizar o discurso aqui sobre esse assunto na Europa.

Presidente Lula: Olha, deixa eu te falar uma coisa. Eu fico triste quando o óbvio não acontece. É triste, porque quando você faz política e você vê que uma coisa está acontecendo, você já vislumbra o que vai acontecer. O que eu falei na primeira entrevista que eu dei, na União Africana, sobre o que acontecia em Israel, eu mantenho 150% do que eu falei. Mantenho 150%. E aconteceu, porque o primeiro-ministro de Israel não quer resolver o problema, ele quer aniquilar os palestinos. Isso está possível em cada gesto dele, em cada ato dele. Vamos ver se ele vai cumprir a decisão do Tribunal Internacional. Vamos ver se ele vai cumprir a decisão tirada da ONU agora. Então, é por isso que nós defendemos uma mudança na ONU. Porque, quando a ONU tomar uma decisão, ela precisa ser cumprida. E eu quero dizer em alto e bom som: só será resolvido os conflitos no Oriente Médio, entre o governo de Israel e o povo palestino, no dia que a ONU tiver força para implementar a decisão que demarcou o território, em 1967. E deixar os palestinos construírem sua pátria livremente. E viver harmonicamente com o povo judeu. É isso que eu quero. É isso que eu sonho e é por isso que eu vou brigar a vida inteira. Não dá para a gente deixar de enxergar o que está acontecendo lá. Não dá. É efetivamente um genocídio contra mulheres e crianças o que está acontecendo. É triste, mas o tempo se encarregou de provar que eu tinha razão quando fiz a crítica no primeiro momento.

Repórter: Presidente, existe uma preocupação muito grande no Brasil, nessa semana ficou muito claro isso, com relação à questão fiscal. O ministro Haddad [ministro da Fazenda] — muita gente considerando que ele está isolado – tentando manter a disciplina fiscal. E ele falou, nessa semana, na necessidade de se rever os custos do governo. O senhor concorda com o corte de despesas do governo. Concorda, por exemplo, em desvincular os gastos com saúde e educação para resolver a questão fiscal? Muito obrigado.

Presidente Lula: Deixa eu falar uma coisa para você. Vou dizer uma coisa com muita sinceridade para você. Eu aprendi economia com uma mulher. Vou repetir o que eu já falei 300 vezes, tá? Eu aprendi a fazer economia com a Dona Lindu, que era analfabeta. E ela pegava o envelope dos oito filhos e distribuía a tarefa de cada um. O dinheiro do ônibus, o dinheiro do pão, o dinheiro do cigarro, o dinheiro do leite. Se não sobrasse alguma coisa, não tinha para a farra, mas era assim que ela distribuía. No governo é a mesma coisa. No governo é a mesma coisa. Eu acho que tudo aquilo que a gente detectar que é gasto desnecessário, você não tem que fazer. Você não tem que fazer. Eu, 90% da minha vida, eu nunca tive uma dívida, porque eu nunca gostei de me endividar e fazer uma despesa maior do que o meu salário. E o que nós estamos fazendo é o seguinte: nós já fizemos o que ninguém esperava que precisava ser feito. Nós já fizemos a regulação do Marco Fiscal, já aprovamos a Reforma Tributária. Nós estamos demonstrando a nossa seriedade de garantir estabilidade jurídica, estabilidade política, estabilidade fiscal, estabilidade econômica e estabilidade social. Isso está garantido. Agora, o Haddad, ele jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente da República, porque ele é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim e mantido por mim. Então, é o seguinte: se o Haddad tiver uma proposta, o que vai acontecer é que ele vai me procurar nessa semana e sentar para discutir a economia comigo. Eu quero antecipar, eu quero antecipar. A gente não vai fazer ajuste em cima dos pobres. Vou dizer em alto e bom som: a gente não vai fazer ajuste em cima dos pobres. Porque os que ficam criticando o déficit fiscal, os que ficam criticando o gasto do governo são os mesmos que foram para o Senado e aprovaram a desoneração de 17 grupos empresariais. São os mesmos. E que ficaram de fazer uma compensação para suprir o dinheiro da desoneração e não quiseram fazer. Então, eu disse para o Haddad: “Haddad, não é problema mais do governo, o problema agora é deles”. A decisão da Suprema Corte diz que, dentro de 45 dias, se não tiver o acordo, está válido o meu veto. Aí não vai ter a desoneração. Então, agora, os empresários se reúnam, discutam e apresentem para o ministro da Fazenda uma proposta de compensação. 

Mas deixa eu te falar uma coisa, eu às vezes fico incomodado, porque eu não sou presidente de um ano. Eu já vivi isso muitas vezes. Acontece que nós estamos, cada vez mais, reféns de um sistema financeiro que praticamente domina a imprensa brasileira. Ou seja, a questão do déficit fiscal aparece na primeira página, segunda página, na terceira página. Ou seja, ninguém fala da taxa de juros, de 10,25%, em um país com inflação de 4%. Ninguém fala. Pelo contrário, faz uma festa para o presidente do Banco Central, em São Paulo. Normalmente, os que foram na festa devem estar ganhando dinheiro com a taxa de juros. Normalmente. Então, eu acho que a discussão econômica é muito séria. Ela é mais séria. Nós temos que sentar e eu sento na mesa com todos os meus ministros para discutir com seriedade o que a gente tem que fazer. Agora, achar que nós temos que piorar a saúde, que nós temos que piorar a educação para melhorar, isso é feito há 500 anos no Brasil. Há 500 anos. Há 500 anos o povo brasil não participava do Orçamento. 

Por isso que o Brasil foi um dos últimos países a ter uma universidade. Eu já falei isso também. Dizem que velho repete muito, mas eu não esqueço o que já falei. Então deixa eu lhe contar uma coisa: por isso é que o Brasil só foi ter sua primeira universidade, 1920, quando o Peru teve a primeira em 1554. 

Então o povo pobre ficou esquecido. Se não tem dinheiro, vamos deixar o pobre para lá. Não, gente, não é possível. Eu quero acabar com a pobreza nesse país. Eu quero criar um país de classe média baixa, onde todas as pessoas possam trabalhar, estudar, comer e almoçar. Ir no restaurante no final de semana e ainda passear com a sua família. É possível construir esse país. E eu vou repetir uma máxima que muitos não gostam que eu fale: tem muito dinheiro na mão de poucos e pouco dinheiro na mão de muitos. Quando a gente reverter isso, você vai perceber como o Brasil vai melhorar de forma extraordinária. Todas as estabilidades — jurídica, política, social, econômica e fiscal. É isso.

Presidente Lula: Mais uma. Faça mais uma pergunta. Não é possível que você veio de tão longe e não vai fazer uma pergunta.

Michele Oliveira (Folha): Obrigada, presidente. Michele Oliveira da Folha. Falando um pouco de PL 1904, um pouco de economia. O líder do governo na Câmara essa semana, deputado José Guimarães, falou que vive com a faca no pescoço, disse que está faltando ao governo comando político e estratégico, centralizado. Que avaliação o senhor faz desse diagnóstico que vem dele e de onde precisa sair esse comando? Obrigada.

Presidente Lula: Deixa eu te falar uma coisa. Como você tem 513 deputados, eu não posso ficar comentando cada fala de cada deputado. O que eu posso te dizer é o seguinte: nunca antes na história do país houve um presidente da República que tivesse a preocupação de cuidar do povo. E eu sei que isso incomoda. Os nossos cuidados com as trabalhadoras domésticas incomoda. O nosso trabalho do Bolsa Família, garantindo que as pessoas tenham mais, incomoda. O nosso trabalho de diminuir o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 — que é o que nós vamos fazer antes de terminar o meu mandato — incomoda. Nesse país, a Petrobras acaba de pagar R$ 45 bilhões para os acionistas como dividendos e não ficou R$ 1 de Imposto de Renda. Um real. O cidadão que tem uma herança paga menos Imposto de Renda do que o cara que ganha três salários mínimos. Então, é preciso fazer uma reversão, que a gente está tentando fazer. E a gente tem resistência, mas nós somos teimosos. As pessoas acham e sempre acharam que o Lula não vai ganhar as eleições para presidente, perdeu em 1989. “Acabou com o Lula”. Voltei em 1994, perdi outra vez. “Ah, o Lula acabou”. Aí veio 1998, me candidatei outra vez. “Ah, o Lula perdeu, o Lula acabou”. E eu não acabo, sabe por quê? Porque eu não sou eu, eu sou vocês. Eu sou uma parte das aspirações que o povo brasileiro tem. É isso. 

Então, eu vou continuar trabalhando para que haja uma ascensão social nesse país, capaz de a gente dar um salto de qualidade na vida do nosso povo. Eu vou provar isso. Então, tem gente que fala: “o Lula agora teve esse processo contra ele e acabou, agora é o fim dele”. E eu voltei. Voltei. E não me provoque mais, não me provoque mais. Porque o que eu quero é terminar o meu mandato com a maior decência possível, quero levar a economia brasileira para ser a sexta economia do mundo até o final do meu mandato. Presta atenção no que estou falando: quero fazer a economia voltar a ser a sexta economia do mundo. Nós chegamos a ser a sexta, em 2011. Agora, voltamos para a 12ª e agora estamos na 8ª. Eu, quando vejo as páginas dos jornais, “PIB vai crescer 0,8%”, “PIB vai crescer 0,7%.” E aí, quando cresce mais, as pessoas ficam com vergonha de publicar. Quando dá muito emprego, sabe, foram 2,2 milhões de empregos em 15 meses. E as coisas vão continuar acontecendo, presta atenção no que eu vou dizer para vocês. Presta atenção: a nossa economia vai crescer mais do que todas as previsões negativas, nós vamos continuar gerando emprego. O governo vai continuar fazendo parceria com o setor privado para fazer investimento, a gente vai continuar investindo em educação, a gente vai continuar investindo em saúde, porque a saúde não é uma coisa qualquer. A minha briga com a saúde é porque nós precisamos dar ao povo o respeito que o povo merece.

Vocês e eu, quando estamos doente, a gente vai no médico e o médico detecta uma doença na gente e logo fala: “Você precisa procurar o doutor fulano de tal, que é especialista. Você vai no especialista. Você precisa fazer uma ressonância magnética”. Você faz a ressonância magnética. Tudo é mais fácil, agora para o povo pobre, ele vai em uma UPA, vai na UBS, recebe um diagnóstico e o médico fala que tem que procurar um especialista. Esse especialista demora 8 meses, 9 meses. Depois o especialista fala: “Muito bem, tá vivo depois de 9 meses, veio a mim, agora a gente precisa fazer uma ressonância magnética”. É mais 9 meses. A doença não para, que nem o basquete, quando para o jogo e para de correr o tempo. Não, a doença continua andando. Então, nós precisamos garantir ao povo os direitos elementares que ele tem direito. E eu acho que é possível fazer isso. É engraçado, porque eu vou repetir uma coisa que eu falo todo dia: a única coisa que não é tratada como gasto é o dinheiro que a gente paga de juros de uma dívida, por conta da alta da taxa de juros. Isso é gasto. Quanto de dinheiro a gente paga, todo ano, de juros, que poderia estar sendo investido em saúde, em educação, em mais universidades, em mais emprego, em mais desenvolvimento, em mais ferrovia, em mais rodovia.

Então, meu caro, só para você saber: eu, antes de sair, falei para o companheiro Rui Costa [ministro da Casa Civil]: “Rui, quando eu voltar, semana que vem, prepare uma reunião do Conselho Orçamentário, porque eu quero fazer a discussão sobre Orçamento e quero discutir os gastos”. Porque, o que muita gente acha que é gasto, eu acho que é investimento. Sabe? E digo isso com a maior tranquilidade. Eu acho que nós precisamos dar ao Brasil a decência que o Brasil merece. Esse país nunca teve a chance de fazer o povo subir o segundo degrau. A gente sobe o primeiro, aí derrubam. Aí sobe mais uma vez e derrubam. Não, nós queremos subir o segundo, o terceiro, e ficar em um padrão de vida que eu acho que o Brasil pode garantir ao seu povo. 

Então, gente, obrigado pela paciência de vocês. 

Eu vou pegar um avião agora. 

Um beijo no coração de vocês.

Cortes 247


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"Mídia e mercado estão numa ofensiva contra o programa eleito em 2022", diz Lindbergh Farias

"Querem impor ao Lula e ao PT um ajuste fiscal radical. Nossa elite é mesquinha e não aceita um governo popular", dispara o deputado

Lindbergh Farias | Lula (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados | Ricardo Stuckert/PR)

O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou em postagem no X, antigo Twitter, neste sábado (15) que o governo Lula (PT) sem sido nos últimos dias alvo de uma "ofensiva" da mídia corporativa e do mercado financeiro, que pressionam por um ajuste fiscal em detrimento dos mais pobres. 

"Nos últimos dias a grande mídia e o mercado estão numa ofensiva contra o programa eleito nas urnas em 2022. Querem impor ao Lula e ao PT um ajuste fiscal radical. Nossa elite é mesquinha e não aceita um governo popular que coloque o povo no Orçamento!", disse o parlamentar antes de afirmar que Lula está "corretíssimo" ao garantir os benefícios das camadas mais pobres.

"Hoje, Lula resolveu reagir e disse que é contra rever pisos da saúde e da educação e que não fará ajuste fiscal 'em cima dos mais pobres'. Lula está corretíssimo! Pode contar comigo nessa luta, meu presidente! Fomos eleitos para fazer do Brasil um país generoso com o seu povo e não um lugar de privilégio de poucos. 'Vamo pra' cima!", publicou Lindbergh. - 247.

Cortes 247



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CHUVAS EM PERNAMBUCO: Olinda e São Lourenço da Mata registram deslizamento de barreiras

 

De acordo com Defesa Civil do Estado, há 87 desalojados e outros 24 desabrigados em Pernambuco, em decorrência das chuvas


                        Por Germana Macambira/Folhape

A Defesa Civil do Estado, por meio de nota no final deste sábado (15), informou que Pernambuco registra pelo menos 87 desaljoados e outros 24 abrigados em decorrência das chuvas.

As cidades de Joaquim Nabuco, Rio Formoso, Olinda e São Lourenço da Mata tiveram deslizamentos de barreiras, mas sem vítimas fatais.

Ainda de acordo com o Órgão - que disponibiliza o número 199 para casos de urgência, assim como a Defesa Civil dos municípios também pode ser acionada - as localidades atingidas pelas chuvas com alagamentos foram Jaboatão dos Guararapes, Recife e São José da Coroa Grande.


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Militares do Exército começam a combater incêndios no Tocantins

  Brigadistas de outras unidades de conservação foram remanejados Marcelo Camargo/Agência Brasil O combate aos incêndios florestais no Tocan...