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Encerrando os preparativos para uma visita ao Brasil, onde desembarca na segunda-feira para uma estadia de cinco dias, o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel já definiu os pontos principais da agenda.
No Rio de Janeiro, primeira escala da viagem estará presente em eventos em duas universidades e irá participar de um ato em homenagem a vereadora Mariella Franco, do PSOL, executada com quatro balas na cabeça em 14 de março.
Dois dias depois, Esquivel estará em Curitiba, onde, em companhia de um grupo de parlamentares sul-americanos, pretende fazer uma visita a Lula, encarcerado numa sala isolada da Polícia Federal desde a dramática noite de sábado, 7 de abril, quando se apresentou aos policiais encarregados de sua prisão.
Ainda em Buenos Aires ele tem se dedicado a conversar com advogados e militantes brasileiros que podem ajudá-lo a conseguir autorização para uma conversa que, se for impedida pelo juiz Sérgio Moro, irá produzir um inesquecível vexame internacional na reputação de um país que já começa a ser olhado com desconfiança no exterior, depois da deposição de uma presidente eleita e, agora, pela condenação sem prova do candidato favorito as eleições presidenciais marcadas para outubro.
"O que fizeram com Lula é uma injustiça", diz Esquivel, em entrevista pelo telefone ao 247. "Tudo está sendo feito para impedir que ganhe a eleição. Querem que ele desapareça do noticiário, que que se torne invisível".
Para Esquivel, "as democracias estão em perigo, em várias partes do mundo, com golpes no Brasil, Paraguay, Honduras. Temos de ficar atentos porque, em alguns lugares, os militares estão voltando. Pode ocorrer uma remilitarização". Perguntado se teria um conselho para ser seguido nessa situação, ele afirma: "é preciso dar prioridade aos pontos que nos unem e não valorizar as diferenças. A partir disso pode-se fazer propostas".
Convencido da inocência de Lula, Esquivel conta que, durante a última visita a São Paulo, quando esteve no Instituto para encontrar-se com o ex-presidente, os dois tiveram uma conversa esclarecedora sobre o caso. "Ele me explicou que nunca foi dono daquele apartamento que diziam que era dele, mas montaram tudo para que pudesse ser condenado de qualquer jeito".
Idealizador de uma campanha para dar o Premio Nobel da Paz a Lula, que já ultrapassou a marca de 200 000 adesões pela internet, ele se diverte quando pergunto se é possível imaginar que Lula receba uma homenagem tão importante quando se encontra numa situação tão difícil como a atual. "Eu estava preso quando resolveram me dar o Nobel", diz.
Ao lado de uma corajosa militância contra a tortura e execução de presos políticos na Argentina e em outros países latino-americanos, no início dos anos 1970, Esquivel teve um papel importante na criação da Comissão de Direitos Humanos na ONU, que daria uma outra estatura a um drama essencial das democracias mas que até então era encarado como um problema secundário.
Em 1977 ele foi preso e torturado pelos militares argentinos. Conseguiu ser solto no ano seguinte, sem que jamais lhe dessem uma explicação formal pelo encarceramento. Foi para casa num regime de liberdade vigiada, pelo qual tinha obrigação de prestar contas de seus movimentos a polícia. Iniciados em 1979, os esforços para lhe dar o Nobel trouxeram resultado no ano seguinte, quando foi a Oslo, capital da Noruega, receber a mais respeitada homenagem política de nossa época -- até então, era proibido de deixar o país. No discurso de agradecimento, fez um discurso vigoroso, unindo os direitos políticos a necessidade de garantir condições de vida decentes para a população pobre e excluída, de modo a assegurar uma vida melhor em todos os seus aspectos.
Quanto comento que muitos brasileiros cultivam uma frustração pelo fato de que nenhum de nossos conterrâneos recebeu um Nobel, em qualquer categoria, Pérez Esquivel deixa claro que não se trata de uma honraria pessoal: "o Premio não é para a pessoa agraciada. É para o povo". Este é o argumento que emprega para defender o Nobel a Lula."Nenhum presidente, em nenhum país do mundo, fez o que Lula fez, que foi retirar 36 milhões de pessoas da miséria e da fome. Isso isso é reconhecido pela FAO e outras entidades internacionais, todas respeitadas. Este trabalho, que hoje serve de exemplo para vários países, tem importância para toda a humanidade".
No tom de quem está convencido de suas razões, Pérez Esquivel só adverte que será preciso ter alguma paciência. É que a lista de possíveis indicações para este ano já está fechada e será preciso fazer um trabalho pensando no próximo.
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