O objetivo da pesquisa é avaliar os riscos aos quais esses trabalhadores estão expostos durante a pandemia e subsidiar políticas públicas (Andréa Rêgo Barros/PCR Divulgação)
A má notícia: casos graves de Covid-19 podem deixar sequelas nos pulmões. A boa notícia é que estas tendem a melhorar com o tempo.
Essas foram as conclusões de um estudo realizado no estado do Tirol, na Áustria, um dos epicentros de infecção do coronavírus no país, e apresentado na última segunda-feira (7) em um congresso da Sociedade Europeia de Respiração, com apoio da Fundação Europeia de Pulmão.
Os pesquisadores recrutaram pacientes internados nos hospitais da Universidade Clínica de Medicina Interna, em Innsbruck, no Hospital St. Vinzenz, em Zams e no Centro de Reabilitação Cardiopulmonar, em Münster, e avaliaram suas condições após 6 e 12 semanas de alta hospitalar. Uma terceira avaliação, com 24 semanas, foi concluída nesta semana, porém os resultados ainda não foram divulgados.
Um total de 86 pacientes foi avaliado entre 29 de abril e 9 de junho, embora o número de pacientes agora atinja 150 participantes. A idade média dos pacientes era de 61 anos, e a maioria (65%) eram homens, fumantes (50%) e acima do peso (65%). O tempo médio de hospitalização foi de 13 dias.
Durante a primeira visita, mais da metade dos pacientes apresentava ao menos um sintoma persistente (65% ou 56 pacientes), em especial falta de ar, também chamada de dispneia (47% ou 40 pacientes), e tosse (15% ou 13 pacientes).
Análises de tomografia revelaram danos nos pulmões em 88% dos pacientes após seis semanas de alta hospitalar.
Completadas 12 semanas após a saída do hospital, a taxa de pacientes com danos nos pulmões caiu para 56%. A persistência dos sintomas foi menor, caindo de 65% para 54%, sendo que destes 39% (31 pacientes) ainda apresentavam dispneia e 15%, tosse.
Comparativamente, as análises de tomografia mostraram melhora da condição chamada de "vidro fosco" nos pulmões.
Se antes, com 6 semanas, o escore que mede a severidade dos danos aos pulmões indicava 8 pontos, com 12 semanas esse índice caiu pela metade, para 4 pontos. A taxa de tecido inflamado também melhorou; antes presente em 88% dos casos (74 pacientes), passou para 56% (48 pacientes) após 12 semanas.
Em relação ao coração, os médicos perceberam leves disfunções no ventrículo esquerdo, responsável pela diástole -relaxamento da musculatura cardíaca-, após seis semanas em 48 pacientes (58,5%), que podem ser indicativos de uma pré-condição cardíaca em parte dos pacientes ou de uma condição inflamatória generalizada.
Para Sabina Sahanic, uma das autoras do estudo e estudante de doutorado na Universidade Clínica de Medicina Interna, a disfunção do coração não deve ser observada como relacionada à Covid-19 em si, mas sim um sinal da severidade da doença como um todo.
"Na coorte de Innsbruck [do hospital da Universidade Clínica de Medicina Interna] não observamos nenhuma disfunção cardíaca severa nos pacientes. A disfunção diastólica observada também melhorou com o tempo."
Thomas Sonnweb e Ivan Tancevski, outros autores do estudo e pesquisadores do centro de Innsbruck, afirmam ainda que outro ponto favorável para a recuperação cardíaca é que os danos não estavam relacionados à severidade dos casos.
Em cerca de 15% dos pacientes um programa de fisioterapia e reabilitação pulmonar teve início logo após a fase aguda da doença, o que pode estar relacionado a uma melhora mais rápida. Os pesquisadores afirmam ainda que exercícios de fisioterapia e reabilitação são fundamentais para acelerar esse processo, mas que a regeneração também pode ser observada em indivíduos que não fizeram fisioterapia.
"A recuperação total é possível e acreditamos que a maioria dos pacientes irá recuperar completamente os danos aos pulmões nas próximas semanas. Estamos analisando os dados colhidos com 24 semanas e esperamos publicar os resultados dentro dos próximos 15 dias", explica Sonnweb.
O estudo foi realizado com uma pequena coorte e possui dados conclusivos para pacientes de Covid-19 que apresentaram quadros graves e internados em hospitais. Não é possível, a partir dos resultados observados, extrapolar conclusões para todos os pacientes de Covid-19, afirmam os autores.
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