“Pela primeira vez, somos forçados a considerar o risco real de desestabilizar todo o planeta”, diz o estudioso de impacto climático Johan Rockström. Em uma palestra apoiada por animações vívidas da crise climática, ele mostra como nove dos 15 grandes sistemas biofísicos que regulam o clima – do permafrost da Sibéria às grandes florestas do Norte à floresta amazônica – estão em risco de alcançar pontos de inflexão, o que poderia tornar a Terra inabitável para a humanidade. Ouça seu plano para colocar o planeta de volta no caminho da sustentabilidade nos próximos 10 anos – e proteger o futuro de nossas crianças.
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Tradução integral da aula de Johan Rockstrom:
Contagem regressiva. Dez anos é muito tempo para nós humanos na Terra. Dez voltas em torno do Sol. Quando estive no palco do TED há uma década, falei sobre fronteiras planetárias que mantêm nosso planeta em um estado que permitiu à humanidade prosperar. O ponto principal é que uma vez que transgredimos uma fronteira, os riscos começam a se multiplicar. As fronteiras planetárias são profundamente conectadas, mas o clima e a biodiversidade são limites centrais. Eles impactam todos os outros.
Naquela época, realmente pensávamos que tínhamos mais tempo. Os sinais de alerta certamente estavam ligados, mas nenhuma mudança inevitável havia sido acionada. Desde a minha palestra, evidências vêm aumentando de que estamos nos afastando rapidamente do espaço operacional seguro para a humanidade na Terra. O clima atingiu um ponto de crise global. Temos tido dez anos de quebra de recordes de extremos climáticos, incêndios na Austrália, Sibéria, Califórnia e Amazônia, inundações na China, Bangladesh e Índia. Enfrentamos ondas de calor em todo o Hemisfério Norte. Corremos o risco de romper limites que podem fazer com que o planeta deixe de ser nosso melhor amigo, amortecendo impactos, e comece a agir contra nós, amplificando o calor. Pela primeira vez, somos forçados a considerar o risco real de desestabilização de todo o planeta.
Johan Rockstrom, cientista sueco
Nossas crianças e nossos jovens veem isso. Estão se organizando na escola para exigir uma atitude, descrentes com a nossa incapacidade de nos desviar dos riscos potencialmente catastróficos. Nos próximos 10 anos até 2030, deve ocorrer a transformação mais profunda que o mundo já conheceu. Esta é a nossa missão. Esta é a contagem regressiva. (Som de relógio correndo) Quando os cientistas resumiram há cerca de uma década, pela primeira vez, o estado de conhecimento dos pontos de ruptura do clima, apenas um lugar apresentava forte evidência de estar numa séria espiral descendente: o gelo marinho do Ártico. Outros pontos de ruptura estavam bem distantes, umas 50 ou 100 voltas em torno do Sol. Mas no ano passado, revisitamos esses sistemas e eu tive o choque da minha carreira.
Estamos a algumas décadas de distância de ver o Ártico sem gelo marinho no verão. Na Sibéria, o permafrost está derretendo a escalas dramáticas. A Groenlândia está perdendo trilhões de toneladas de gelo e pode estar próxima de um ponto de ruptura. As grandes florestas do Norte estão queimando e criando nuvens de fumaça do tamanho da Europa. A circulação do Oceano Atlântico está desacelerando. A floresta Amazônica está enfraquecendo e pode começar a emitir CO2 em 15 anos. Metade dos corais da Grande Barreira de Corais morreu. O Oeste da Antártica pode já ter cruzado um ponto de ruptura. E agora, partes da geleira mais sólida da Terra, a Antártica Oriental, estão ficando instáveis. Nove dos 15 grandes sistemas biofísicos que regulam o clima estão se movendo, mostrando sinais preocupantes de declínio e alcançando prováveis pontos de ruptura.
Pontos de ruptura trazem três ameaças. Primeira, a elevação do nível do mar. Já podemos esperar o aumento de até um metro neste século, o que coloca em perigo a moradia de 200 milhões de pessoas. Ao adicionarmos o derretimento do gelo da Antártica e da Groenlândia na equação, isso pode chegar a uma elevação de dois metros, mas não vai parar por aí; vai continuar piorando. Segunda, se nosso armazém de carbono, como o permafrost e as florestas, se tornarem emissores de carbono, isso dificultará muito mais o trabalho de estabilização das temperaturas. Terceira, esses sistemas são interligados como dominós. Se um ponto de ruptura é ultrapassado, os outros ficarão mais próximos. Vamos parar por um momento e observar onde estamos.
A base de nossa civilização é um clima estável e uma biodiversidade rica. Tudo é essencialmente baseado nisso. A civilização prosperou em uma zona habitável, nem muito quente, nem muito fria. Isso é o que temos tido por 10 mil anos desde o término da última era do gelo. Vamos voltar no tempo aqui: em 3 milhões de anos as temperaturas nunca ultrapassaram o limite de 2 °C. A Terra se autorregulou dentro de uma faixa muito estreita de mais 2 °C num aquecimento interglacial e menos 4 °C na era do gelo profunda. Agora, estamos seguindo um caminho que pode nos levar a um mundo de 3 °C a 4 °C em apenas três gerações. Estaríamos retrocedendo o relógio climático, não em 1 ou 2 milhões de anos, mas em 5 a 10 milhões de anos.
Estamos vagando em direção a um planeta “estufa”. Para o aumento de cada 1 °C, 1 bilhão de pessoas serão forçadas a viver em condições que hoje consideramos inabitáveis. Isso não é uma emergência climática. É uma emergência planetária. Meu receio não é de que a Terra vá cair de um penhasco em 1º de janeiro de 2030. Meu receio é de que pressionemos botões incontroláveis do sistema terrestre. O que acontecer nos próximos dez anos irá determinar o estado do planeta que iremos entregar às gerações futuras.
Nossas crianças e nossos jovens têm toda a razão para ficarem alarmados. Precisamos levar a sério a estabilização do nosso planeta. Duas frentes guiarão essa transformação. A primeira está na ciência. Aqui está uma nova equação para um planeta sustentável: fronteiras planetárias associadas ao bem comum resultam em uma administração planetária. Precisamos de um corredor seguro para a humanidade que permita a todos nos tornarmos administradores do planeta, não para salvá-lo, mas para proporcionar um bom futuro para todos. E a segunda frente está na sociedade. Precisamos de uma nova lógica econômica baseada no bem-estar. Estamos em posição de fornecer metas baseadas na ciência para todos os bens comuns globais para todas as empresas e cidades do mundo.
Primeira tarefa, cortar metade das emissões globais até 2030 e chegar a zero em 2050 ou antes. Significa descarbonizar grandes sistemas que comandam nossa vida: energia, indústria, transporte, edifícios. A era do combustível fóssil chegou ao fim. Precisamos fazer com que a agricultura deixe de ser uma fonte de emissão para se tornar um armazenador de carbono e devemos proteger nossos oceanos e solo, os ecossistemas naturais que absorvem metade de nossas emissões.
A boa notícia é que podemos fazer isso. Temos o conhecimento e a tecnologia. Sabemos que isso faz sentido social e econômico. E quando obtivermos sucesso, poderemos respirar ar fresco. Estaremos acolhendo estilos de vida saudáveis e economias resilientes em cidades habitáveis. Estamos todos juntos nesta jornada ao redor do Sol. Este é o nosso único lar. Esta é nossa missão de proteger o futuro de nossas crianças e de nossos jovens. (247)
Obrigado.