Houve
um tempo em que pensar em agricultura de precisão (AP) implicava na
imagem de gigantes e sofisticados maquinários, utilizados por grandes
produtores em extensos plantios de grãos. Hoje sua aplicação tem outras
perspectivas, com o uso de técnicas e equipamentos mais simples e de
baixo custo, e que podem ser aplicados mesmo em áreas pequenas e em
culturas perenes, como é o caso da fruticultura.
Esse conceito, porém, ainda não está
plenamente difundido entre os produtores, e a aplicação da AP continua
representando certo tabu para o setor agrícola.Com a intenção de
desmistificar o assunto, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf)
realizaram, entre os dias 23 e 24 de julho, o Workshop sobre Agricultura
de Precisão em Fruticultura, na cidade de Juazeiro (BA).
Para um público de cerca de 150 pessoas,
entre produtores, consultores, técnicos e estudantes, o pesquisador
Ricardo Yassushi Inamasu, da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP),
caracterizou a aplicação da AP nos dias de hoje: “Entendemos que
praticar a agricultura de precisão significa respeitar as diferenças que
existem no campo, e ao fazer isso você aumenta a eficiência, reduz os
desperdícios e, consequentemente, também os danos ao meio ambiente”.
Segundo Inamasu, a imagem da AP é
geralmente associada aos grãos porque eram as culturas para as quais
existiam maquinários, enquanto a fruticultura não tinha os mesmos
recursos. Ele ressalta, no entanto, que o conceito que está por trás da
AP não é o uso de máquinas, mas a gestão da variabilidade da lavoura,
seja em relação à fertilidade do solo, acidez, pragas e doenças, entre
inúmeros outros aspectos. “Os equipamentos apenas auxiliam o homem a
fazer a gestão da produção”, conclui.
Prova disso foi apresentada pelo
pesquisador Luís Henrique Bassoi, da Embrapa Semiárido (Petrolina, PE),
fruto de um trabalho com a cultura de uva de mesa na região do Vale do
São Francisco. Além de confirmar que a AP pode ser utilizada em
fruticultura, ele também mostrou que essa forma de gestão é
perfeitamente aplicável a pequenas lavouras. No levantamento realizado
em uma área de apenas 1,6 hectare, foi possível encontrar uma
variabilidade significativa, o que permitiu, entre outras coisas, um
manejo diferenciado e mais econômico da irrigação.
Como auxílio de uma ferramenta nada
sofisticada – o trado, velho amigo dos agricultores na coleta de solo
para análise em laboratório –e com um procedimento típico de AP
–amostragem em vários pontos formando uma malha ou reticulado –foi
possível perceber que em alguns locais havia pedras e encharcamento a
partir de 80 cm de profundidade, indicando uma limitação justamente onde
a drenagem é mais lenta. Dividindo a área em 6 zonas, e monitorando a
umidade do solo, foi aplicada uma lâmina de irrigação maior naquelas
menos úmidas e menor nas mais úmidas.
“O produtor observava esse problema
visualmente. Ele mesmo havia dividido a área em vários segmentos e já
estava praticando um manejo diferenciado da irrigação, mas ainda de
maneira intuitiva. O que nós fizemos foi dar um empurrãozinho para
ajudá-lo a visualizar melhor a variabilidade no campo”, explica Bassoi.
Além disso, a aplicação da AP neste
sistema de produção subsidiou também outras decisões. Com um equipamento
simples – o clorofilômetro – foi mapeado o conteúdo de nitrogênio na
folha ao longo do ciclo, e as zonas homogêneas apontadas com esses dados
indicaram os locais mais apropriados para a coleta das bagas de uva que
serviram de amostra para verificar se já estavam no ponto de colheita.
Além disso, ao longo de vários anos o
agricultor vinha marcando, a cada safra,as plantas que apresentavam
problemas, com uma simples pintura na estaca de sustentação da planta.
Isso permitiu que fosse feito um histórico das zonas onde elas
apresentavam desenvolvimento mais fraco. Os mapas gerados com os
diversos dados coletados na área foram referenciados nos números
colocados em cada planta e em cada fileira pelo próprio produtor. “A
numeração já nos dá a referência de onde estamos colhendo a informação,
não precisamos sequer de GPS”, observa o pesquisador. E conclui: “Com
ferramentas simples e alguns ajustes em procedimentos de rotina,pode-se
também fazer agricultura de precisão”.
Pesquisas realizadas com outras culturas
frutíferas, como a maçã, o pêssego, os citros e a uva de vinho, também
foram apresentadas durante o workshop, além da experiência do Chile com a
AP. Foram discutidos ainda temas como o uso de ferramentas e imagens
espectrais para monitoramento de pragas e doenças e a aplicação do
sistema de informação geográfica e sensoriamento remoto à agricultura de
precisão em fruticultura.
Blog do Bill Art´s