Revista Fórum - “É como pisar em baratas”. Foi dessa forma que o médico Luis Henrique Correia Lima de Oliveira reagiu frente aos ataques e às ameaças que vem sofrendo, via Facebook, depois de postar em sua página um texto, no qual revela a experiência de ter atendido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a passagem de sua caravana pelo Ceará. “Resolvi escrever e publicar um texto emocionado sobre isso e passei a receber inúmeras ofensas, tanto no público quanto no privado. O pior é que 90% são pessoas que se identificam como médicos”, revela o médico, que reside e atua em Sobral, no Sertão do Ceará.
Luis Henrique não pretende, ao menos por enquanto, tomar alguma medida jurídica, em relação às ameaças. “Os ataques não partiram de nenhuma entidade de classe. São pessoas fascistas, que transitam por um ambiente rasteiro, no qual não estou acostumado. São covardes, que não têm condições de manter um diálogo de nível e só usam argumentos rasos. Por isso, a princípio, não pretendo fazer nada, a não ser se ocorrer alguma postagem que fira minha imagem pessoal ou profissional. Caso contrário, não vejo o menor sentido em discutir com esse tipo de gente”.
Tudo começou com a publicação do texto. “Realmente, a experiência de acompanhar a caravana com Lula foi extremamente impactante para mim. Isso me motivou a escrever uma mensagem, que acabou viralizando e compartilhada, inclusive, pela ex-presidenta Dilma Rousseff, pela Gleisi Hoffmann, entre outras pessoas”.
Em contrapartida, o médico passou a sofrer ataques na rede, a maioria por parte de “colegas” de ofício. “São médicos que desejam o retorno de privilégios que tinham no passado e são contra o fortalecimento do sistema de saúde universal. Além disso, o Lula, quando foi presidente, inaugurou muitas universidades, o que deixou o mercado mais competitivo, e não agradou esse pessoal. Outro aspecto que explica isso é o programa Mais Médicos. Os cubanos aceitaram trabalhar nos lugares mais afastados do Nordeste, o que não acontece com todos, que acham uma humilhação. Acredito que o médico tem um papel social importante de modificador, buscando, sempre contribuir para que se chegue a uma sociedade mais justa e igualitária. Esses que me ofendem não pensam assim”, analisa.
Convite
Luis Henrique não se cansa de lembrar a experiência de estar ao lado de Lula na caravana. “Quando recebi o convite não imaginava que ficaria tão próximo dele. Minha função era examiná-lo uma vez por dia e atendê-lo caso precisasse. Mas foi muito mais intenso do que eu esperava. E a reação do povo é algo inesquecível. Não tinha a noção e a dimensão da paixão das pessoas pelo Lula. A TV não mostra, apenas algumas páginas do Facebook. Mas ao vivo é diferente. Vi gente desmaiando depois de tocar nele. É uma troca de energia incrível entre o povo e Lula”, recorda.
O médico relembra de uma passagem que exemplifica bem o que ele diz: “Quando havíamos passado por três cidades do Ceará e em todas ele discursou. Quando estávamos saindo de Quixadá, pedi a ele que descansasse e poupasse a voz, porque teria outro discurso mais à frente, em Juazeiro do Norte. A resposta dele foi a seguinte: ‘Não posso. Preciso falar com eles. São essas pessoas que me motivam. São essas pessoas que fazem com que eu esteja firme aqui, apesar dos 71 anos’. É assim que ele encara o povo. O olhar das pessoas para ele é o mesmo de um filho para o pai. Por isso que Lula representa a esperança e o sonho de uma Nação melhor, pois ela anda muito maltratada”, completa Luis Henrique.
Confira a íntegra do texto do médico Luis Henrique Correia Lima de Oliveira:
Foi amor sim, amor à primeira consulta
Por Luis Henrique Correia Lima de Oliveira*
Acompanhei o presidente Lula como médico da sua comitiva durante toda a sua travessia no estado do Ceará. Depois da solicitação na noite anterior, compareci ao quarto do presidente às 8h da manhã acompanhado da médica do MST.
Entrei no quarto e meu coração estava muito acelerado, senti minhas mãos trêmulas e minhas pernas bambas. Olhei pra ele, ele abriu um sorriso, o quarto estava iluminado com a sua presença; sim, ele estava muito feliz com o resultado da caravana até aquele momento, apesar das constantes falhas na voz, ele estava feliz, era visível, era transparente e verdadeiro o que ele sentia.
Sentamos todos numa mesa no meio do quarto, com quatro cadeiras milimetricamente dispostas em volta daquele cômodo. Sem pensar muito no que dizer, eu disse: “Presidente, eu estou em choque, pois eu estou diante da figura histórica mais importante do país”. Ele olhou pra mim, sorriu e disse: “Que nada! Eu sou só um homem do sertão que foi pra São Paulo num pau de arara em busca de um sonho!”.
Após essas breves palavras que tocaram meu coração, a médica que me acompanhava perguntou como ele tinha passado a noite, se a garganta de estava melhor… Após outras breves perguntas sobre a saúde dele, eu iniciei um exame físico: auscultei seu coração, auscultei o seu pulmão, vi sua pressão, sua frequência cardíaca, sua glicemia e sua oxigenação do sangue. Estava tudo incrivelmente dentro dos conformes, apesar dos seus 71 anos. Terminamos a avaliação clínica e ele começou a puxar conversa comigo, perguntou de onde eu era, se eu trabalhava no sistema público ou privado, quantas filhas eu tinha…
E muitas outras perguntas de ordem muito pessoal e a cada pergunta que ele fazia, eu me perguntava por que um homem da sua magnitude estava me fazendo tantas perguntas – esse foi um questionamento que ele me respondeu minutos depois sem que eu perguntasse (ele disse que antes de iniciar uma conversa, ele precisava conhecer a história de vida daquela pessoa pois, numa conversa, ele gostava de ver o interlocutor com os olhos dele!).
Depois de me desarmar por completo e conseguir se conectar com as coisas mais íntimas da minha vida, ele começou a falar de política e da sua forma de ver o mundo e que era necessário promover mudanças muito profundas na nossa sociedade para acabar com síndrome da casa grande e que era necessário um certo tempo até as pessoas mudarem culturalmente e começarem a olhar pro mundo sob uma nova ótica, onde todos servissem ao bem comum, sem individualismos e mesquinharias.
E depois de falar durante quase uma hora, ele nos olha e diz: “bom gente, eu acho que eu já tomei bastante tempo de vocês”. Nos levantamos, eu olhei pra sua mão que ajeitava a barba e sem conter o ímpeto da fala, pego sua mão, digo que era uma honra estar ali naquele momento e dou um beijo na sua mão, prontamente ele puxa a minha cabeça e me dá um beijo no rosto.
Mas antes de nos despedirmos para cair na estrada, eu falo: “Presidente, eu posso tirar uma foto com o senhor? Pode ser naquele quadro com aqueles cactos?”. E ele: “Companheiro, já vi que você não entende de planta! Aquilo é um pé de palma. Vamos tirar a foto”. E tiramos essa foto linda… Sim, foi amor à primeira consulta, foi amor e dava pra ver nos meus olhos! O Lula é um ser humano lindo, carinhoso, atencioso e sobretudo empático! Ele olha pra gente como se estivesse olhando para nossa alma, ele é sincero e verdadeiro nas palavras, por isso, ele comove tanto as multidões. Ele não faz tipo, ele é só um sertanejo que foi do sertão de Pernambuco para São Paulo em busca de um sonho… Ele é só um filho do Brasil e muito provavelmente a nossa última esperança por dias melhores! (247).
*Luis Henrique Correia Lima de Oliveira é médico
Blog do BILL NOTICIAS