Diagnóstico seguro de câncer de mama necessita de mamografia. Foto: Paulo Paiva/DP
Outubro é o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama. E a necessidade de esclarecimento se faz oportuna, a partir do momento em que 73% das pessoas na Região Metropolitana do Recife acreditam que o autoexame (toques nos seios e axilas) basta para detectar um tumor. A informação faz parte da pesquisa Câncer de mama hoje: como o Brasil enxerga a paciente e sua doença?, realizada pela Ibope Inteligência em parceria com a farmacêutica Pfizer. Divulgado na última quinta-feira (26), o levantamento traz outro aspecto regional que chama a atenção: só 27% dos recifenses relacionam o surgimento da doença a maus hábitos, como sedentarismo e consumo de álcool.
A maioria dos recifenses acha que o câncer de mama aparece por fatores hereditários (67%). Ainda, uma parcela significativa crê que é culpa da paciente não ter feito os exames preventivos necessários (34%). Por fim, 10% pontuaram que a doença surgiu por ser “destino da pessoa” ou “estar nos planos de Deus” e 2% por guardar mágoa/rancor.
Quanto ao autoexame, o índice de confiança no toque é próximo da média nacional (71%). Vale destacar que 57% dos moradores da capital pernambucana não têm certeza da importância da mamografia - 26% dizem que ela só deve ser feita quando outros exames (ultrassom ou toque) indicarem alterações na mama e 31% não sabem.
Para a mastologista Denise Sobral, coordenadora do serviço de mastologia do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), os resultados da pesquisa refletem a realidade. “A gente vê essa desinformação na nossa rotina, tanto nos atendimentos pela rede pública quanto nos consultórios particulares. Essa falta de conhecimento é relacionada à falta de sintomas da doença. A paciente pode passar anos com um tumor sem sentir absolutamente nada”, diz.
Arte: Silvino/DP
“Não é incomum encontrar mulheres com mamografias atrasadas. Elas estão nos procurando mais tarde. É como se o câncer fosse uma realidade distante, sendo que cada vez mais diagnosticamos casos graves e avançados. Não vemos uma melhora na questão preventiva”, pontua Denise. Um diagnóstico seguro exige, além do autoexame, fazer uma mamografia ao menos uma vez ao ano.
No entanto, nem é questão de esquecimento, já que o sistema público de saúde nem sempre colabora. No dia 17 de setembro, o Diario mostrou a situação do Hospital Barão de Lucena, um dos centros de referência de mastologia. Por lá, pacientes de todo o estado chegaram a pernoitar no corredor apenas para garantir uma consulta.
"Muito caso deve ficar subnotificado pela dificuldade no acesso aos tratamentos", preocupa-se Marina Sahade, do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês. Foto: Diogo Cavalcante/DP
Em 2019, Pernambuco deve registrar 2.680 novos casos de câncer de mama, sendo o sétimo estado com mais ocorrências em todo o país, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Mas para a médica Marina Sahade, titular do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, o número deve ser maior. “Isso me preocupa. Muito caso deve ficar subnotificado pela dificuldade no acesso aos tratamentos. A gente sabe que muita paciente vai morrer com a doença sem nem ter tido a chance de se cuidar. E é aí que as campanhas fazem toda a diferença”, defende.
“Em São Paulo, recentemente tivemos o Corujão da Saúde, em que hospitais particulares ficam na ativa durante a madrugada para realizar mamografias nas pacientes do SUS. Medidas como essa ajudam a melhorar a fila de atendimento. O que a gente não pode é observar isso com tranquilidade, porque um diagnóstico precoce faz toda a diferença”, finaliza.(DP)
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