Por Thais Moya e Mauro Lopes - Desde a última terça-feira (4), são fartas as evidências de que a Globo tenta manipular os resultados da pesquisa eleitoral que encomendou ao Ibope: prorrogou a divulgação dos resultados alegando que devido à impugnação da candidatura de Lula pelo TSE, não teria aplicado o cenário que continha Lula como opção, condição prevista no registro da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi o que se viu na divulgação no Jornal Nacional e nas mídias conservadoras na noite desta quarta. A informação mais importante da pesquisa foi omitida e acabou saindo apenas na manhã desta quinta (6), escondida numa matéria do Estado de S. Paulo: a parcela dos eleitores que afirmam que votariam “com certeza” no ex-prefeito subiu nove pontos porcentuais, de 13% para 22%, desde 20 de agosto. E os que “poderiam votar” passaram de 14% para 17%. Ou seja: o potencial de voto do Haddad saltou de 27% para 39%. Tentaram fazer o país de trouxa.
A Globo manipulou os resultados, numa manobra que lembra outras duas realizadas pela emissora da família Marinho, sua participação no escândalo Proconsult em 1982, com o objetivo de fraudar as eleições para governo do Rio de Janeiro e impedir a vitória de Leonel Brizola, que acabou eleito (leia
aqui) e a edição do último debate da eleição presidencial de 1989, quando eliminou os trechos de melhor performance de Lula e apresentou apenas os que favoreciam Fernando Collor de Mello.
Leia abaixo o “Esclarecimento” do Ibope, n que nada esclarece:
A nota de “Esclarecimento” do Ibope parece propositadamente redigida para não esclarecer e apresenta argumentos que são ridicularizados no universo dos institutos de pesquisa do país:
1) Afirma o instituto registrou sua pesquisa no TSE em 29 de agosto, "cinco dias antes da data de divulgação, como prevê a lei" -mas a data da divulgação era, desde o início, ontem sete dias depois do registro;
2) diz que estava tudo pronto para o campo na pesquisa no sábado e domingo quando, diante da cassação de Lula no TSE na madrugada do sábado, o instituto teria retirado o questionário com o ex-presidente e mantido apenas um com Haddad e feito o campo. A informação é pouco crível, pois analistas de pesquisas informam que o campo de uma pesquisas dessas é todo articulado e seria difícil simplesmente tirar um questionário;
3) mesmo considerando a informação verdadeira, o que é pouco crível, a nota enrola-se ainda mais com uma mentira grotesca: "para estar de acordo com o julgamento e as determinações do TSE, o Ibope não pesquisou o cenário com Lula". Ora, a lei é clara e determina que todos os candidatos registrados sejam pesquisados, mas nunca houve vedação a que outros nomes fossem submetidos aos eleitores nos levantamentos, e o Ibope sabe disso desde sempre. Não há nenhuma vedação legal a que as pesquisas continuem apurando o nome de Lula. Tanto não proibição legal que o instituto incluiu Haddad como cabeça de chapa sem que ele seja candidato a presidente. O que há é um veto político a Lula da mídia conservadora e dos institutos de pesquisa a ela vinculados.
O juiz do TSE, Felipe Salomão, se absteve de orientar o instituto, que decidiu de comum acordo com a Globo publicar os resultados:
O instituto apresentou os dados obtidos com um título que nitidamente tenta emplacar uma realidade paralela e irreal na qual Bolsonaro seria líder nas pesquisas há algum tempo, ignorando por completo a liderança de Lula até então. A edição Globo-Ibope simplesmente apagou da memória a série de pesquisas com Lula, como se o nome do ex-presidente jamais tivesse sido submetido pelo instituto aos eleitores. Veja:
Na divulgação, Haddad aparece com irrisórios 6% de intenção dos votos, com metade dos votos de Ciro e Marina; além de ser o único dentre os testados que não venceria Bolsonaro em eventual segundo turno. O desempenho de Haddad é reflexo da má-fé do instituto de pesquisa que:
1) Não indicou a filiação partidária dos nomes apresentados aos eleitores por uma razão política e não metodológica: o PT tem quase 30% da preferência do eleitorado brasileiro e o questionário apostou na desinformação;
2) Um escândalo: a divulgação escondeu o resultado da questão P07, que se refere exatamente ao tema da transferência de votos de Lula para Haddad. A pergunta consta no registro da pesquisa realizado no site do TSE. A omissão dos resultado ao público é a comprovação taxativa que a operação Globo-Ibope é uma manipulação grosseira dos dados com objetivo político. A informação acabou saindo apenas na manhã desta quinta (6), escondida numa matéria do Estado de S. Paulo e contém o dado mais relevante da pesquisa: a parcela dos eleitores que afirmam que votariam “com certeza” no ex-prefeito subiu nove pontos porcentuais, de 13% para 22%, desde 20 de agosto. E os que “poderiam votar” passaram de 14% para 17%. Ou seja: o potencial de voto do Haddad saltou de 27% para 39%.
Veja abaixo a pergunta P07 no questionário do Ibope:
Outra evidência da manipulação grosseira: não foram divulgados os resultados da pergunta espontânea, que é prática consagrada nas pesquisas eleitorais, quando a pessoa menciona seu candidato sem que lhe seja apresentado previamente nenhum nome. Pior ainda: o próprio Ibope tinha essa questão nas pesquisas anteriores! É evidente que Lula muitas vezes mencionado, tendo em vista que, na última pesquisa do instituto, divulgada em 20 de agosto, o ex-presidente pontuou com 28% das indicações espontâneas, mais do que a soma de todos os outros candidatos indicados pelos eleitores: 22%.
Na divulgação de agosto, tanto o Ibope quanto a Globo e o jornal O Estado de S.Paulo deram com destaque a pesquisa espontânea, agora omitida. Veja o resultado de agosto na tabela do próprio Ibope:
Está patente que a operação Globo-Ibope, com O Estado de S.Paulo como sócio menor guarda pouca relação com o universo propriamente dito das pesquisas e é uma operação política que tem como objetivo interferir no resultado da eleição presidencial, no mínimo pelas seguintes razões:
1. Descumpriram a lei eleitoral 9504/97, que obriga que as pesquisas sejam realizadas exatamente como registradas, o que não fizeram quando retiraram a ficha que continha nome de Lula -ou, o que é informação corrente no mercado de pesquisas, esconderam o resultado do questionário com Lula, que o teria apresentado com 40% das intenções de voto;
2. Esconderam os partidos na apresentação dos nomes dos candidatos aos eleitores, para dificultar a identificação de Haddad pelos entrevistados;
3. Esconderam o resultado da questão P07 que trata da transferência de votos de Lula para Haddad;
4. Esconderam os resultados da questão P03 que trata da modalidade espontânea, que apresenta Lula em liderança isolada.
Essa conduta desmente a nota publicada pelo instituto que afirmou que “não quer privar o eleitor de informações relevantes” acerca do cenário eleitoral, e demonstra, que fez exatamente o oposto.
Diante disso, o PT, e demais partidos que prezam pela democracia, devem exigir que o TSE cumpra os artigos e parágrafos da lei eleitoral que seguem:
"§ 1º Mediante requerimento à Justiça Eleitoral, os partidos poderão ter acesso ao sistema interno de controle, verificação e fiscalização da coleta de dados das entidades que divulgaram pesquisas de opinião relativas às eleições, incluídos os referentes à identificação dos entrevistadores e, por meio de escolha livre e aleatória de planilhas individuais, mapas ou equivalentes, confrontar e conferir os dados publicados, preservada a identidade dos respondentes.
§ 2º O não cumprimento do disposto neste artigo ou qualquer ato que vise a retardar, impedir ou dificultar a ação fiscalizadora dos partidos constitui crime, punível com detenção, de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo prazo, e multa no valor de dez mil a vinte mil Ufirs.
§ 3º A comprovação de irregularidade nos dados publicados sujeita os responsáveis às penas mencionadas no parágrafo anterior, sem prejuízo da obrigatoriedade da veiculação dos dados corretos no mesmo espaço, local, horário, página, caracteres e outros elementos de destaque, de acordo com o veículo usado.
Art. 35. Pelos crimes definidos nos arts. 33, § 4º e 34, §§ 2º e 3º, podem ser responsabilizados penalmente os representantes legais da empresa ou entidade de pesquisa e do órgão veiculador."
O que foi vendido aos eleitores e à opinião pública como “pesquisa” na noite desta quarta foi apenas mais uma operação de manipulação como as que a Globo tem realizado sistematicamente ao longo da história com o objetivo de atingir seus inimigos: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Leonel Brizola e, agora, Lula.247
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