Após o #29M e o #19J, partidos e movimentos querem ampliar a pressão sobre Arthur Lira para que dê andamento aos pedidos de impeachment contra o presidente
Por Redação RBA
Mais de 500 mil mortos pela pandemia e corrupção na compra de vacinas devem insuflar novos protestos contra o governo
São Paulo – Movimentos sociais e partidos de oposição marcaram para 24
de julho novas manifestações pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A
nova data das mobilizações nacionais foi decidida ontem (22), em reunião
virtual das lideranças das frentes Povo Sem Medo, Brasil Popular e Coalizão
Negra por Direitos. Juntas, as três organizações compõem a Campanha Nacional
Fora Bolsonaro.
Assim como ocorreu nas duas manifestações anteriores – #29M e #19J – ,
os movimentos exigem a aceleração da vacinação contra o novo coronavírus e o
pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia. Mas o
principal intuito é aumentar a pressão sobre o presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), que tem a atribuição de decidir sobre a abertura dos processos de
afastamento contra Bolsonaro.
Nesse sentido, nove partidos de oposição (PT , Psol, PSB, PDT, Rede, PV,
PCdoB, Cidadania e UP), associações, movimentos sociais, estudantes, juristas,
lideranças religiosas e parlamentares do DEM, PSL e PSDB também preparam um
“super pedido” de impeachment, que deve apontar mais de 20 tipos de crimes de
responsabilidade cometidos por Bolsonaro.
No total, já foram apresentados 121 pedidos de impeachment. Mas Lira vem
resistindo. Também ontem, em entrevista no jornal O Globo, o presidente da Câmara afirmou que a
tragédia da pandemia, com mais de 504 mil vítimas, “não é motivo” suficiente
para a abertura do processo de afastamento de Bolsonaro. Chegou a afirmar que,
mesmo que o governo tivesse antecipado a compra das vacinas, “não teria
resolvido o problema da pandemia”.
Covaxin
Contudo, além da demora na aquisição dos imunizantes, a CPI da Covid
começa a investigar indícios de corrupção na compra da vacina Covaxin. Além da
comissão, o superfaturamento também é investigado pelo Ministério Público Federal
(MPF). Anteriormente, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia apontado que a
dose da Covaxin negociada pelo governo é a mais cara entre todas as que foram
contratadas pelo Ministério da Saúde. Enquanto a dose da vacina fornecida pela
Oxford-AstraZeneca custa, em média, R$ 19,87, o governo aceitou pagar R$ 80,7
por dose do imunizante indiano. No contrato firmado com o governo, a dose da
Covaxin saiu 1.000% mais cara do que o valor informado
seis meses antes.
Nesse sentido, em depoimento sob sigilo ao MPF, um servidor da área
técnica do ministério afirmou ter “sofrido pressão atípica” da gestão do
general Eduardo Pazuello para tentar garantir a importação dessa vacina mais
cara. O contrato com a empresa Precisa, que intermediou a importação da
Covaxin, totalizou R$ 1,6 bilhão.
Uma das sócias da Precisa é a Global Saúde, que tem ligações com o
deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR), atual líder do governo na
Câmara. Ele também é investigado por improbidade administrativa, quando era
ministro da Saúde, por favorecimento à Global. Desta vez, ele foi responsável
por uma emenda à MP que autorizou a compra excepcional dos imunizantes,
incluindo o órgão regulador indiano na lista de dispensa de autorização da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação de vacinas, desde
que aprovadas por autoridades sanitárias internacionais reconhecidas.
Crescendo
Essas denúncias têm potencial para aumentar ainda mais a revolta contra
o governo. No último sábado (19), mais de 750 mil pessoas saíram às ruas em mais de
400 municípios das 27 unidades da federação, segundo os organizadores. Já nas
mobilizações de 29 de maio, mais de 420 mil
pessoas em cerca de 200 municípios foram às ruas em atos pelo Fora
Bolsonaro.
Os organizadores prometem redobrar os cuidados com protocolos
sanitários, para garantir a segurança dos manifestantes. Assim como nos atos
anteriores, todos devem usar máscaras de alta proteção (PFF2/N95) e álcool em
gel. Além disso, as manifestações ocorrerão ao ar livre, e os participantes
também são orientados a manter o distanciamento.
“A mobilização por vacinação, auxílio de R$ 600 e Fora Bolsonaro está
crescendo”, afirmou o líder do MST João Pedro Stédile. Pelas redes
sociais, ele anotou que os protestos estão se ampliando para mais setores da
classe trabalhadora. E defendeu uma construção unitária entre os movimentos
para dar um “salto de qualidade” até os atos marcados para o mês que vem.
“Queremos forçar a Câmara a instaurar o pedido de impeachment e dar apoio à CPI
(da Covid)”, disse o coordenador da Central de Movimentos Populares e um dos
líderes do movimento, Raimundo Bonfim, em entrevista à agência Estadão Conteúdo.