A grande vencedora do carnaval de 2018 foi a verdade. Foliões em todo o Brasil demonstraram com muito bom humor o descontentamento com o momento atual do país. Na avenida mais famosa do carnaval, a Marquês de Sapucaí, a Paraíso do Tuiuti deu uma aula de Brasil e venceu a desinformação e a conivência da Rede Globo de Televisão com o que acontece hoje em nosso país.
A escola de samba do bairro de São Cristóvão, até então desconhecida do público fora do Rio de Janeiro, precisou de apenas duas de suas alas para desmascarar mais de três anos de cobertura global. O enredo que versava sobre a escravidão e suas novas formas, em uma denúncia contra a Reforma Trabalhista- que precariza o trabalho e retira direitos da população- foi além: escancarou a cumplicidade da Globo no processo golpista.
Manifestantes de camisa da CBF e panelas nas mãos viraram "manifestoches", fantoches nas mãos dos poderosos. O pato da FIESP, símbolo do impeachment, também estava representado, assim como um vampiro trajando uma faixa presidencial e carteiras de trabalho maltratadas e sujas. A vice-campeã Tuiuti apresentou os elementos e deixou no ar os personagens de uma trama suja para condenar o povo brasileiro a mais um tipo de escravidão: a de não ser respeitado no direito de escolher seus representantes. E isso gerou não apenas constrangimento no privilegiado estúdio da Globo no Sambódromo, como retaliações.
Durante a transmissão, o "vampiro-neoliberalista", chamado pelo comentarista Milton Cunha de "vampirão", não tinha nome, sobrenome, nem cargo, apesar da enorme faixa verde e amarela que ostentava no peito. O ponto alto da escola não foi abordado no pós-desfile na emissora, que existe justamente para analisar os destaques da apresentação. Um "silêncio ensurdecedor" dava agonia a quem assistia o desfile. Comentaristas cautelosos pensavam bem no que falar, para, por fim, não dizer coisa alguma; a emissora não estabeleceu uma relação entre os manifestantes manipulados com os direitos dos trabalhadores destruídos. Uma vergonha e um desrespeito com o enredo da Tuiuti e com todo o público.
Mas uma imagem vale mais do que mil palavras, como dizem. Não adiantou. Era ao vivo, era carnaval, era para o mundo todo ver. E viu. O desfile foi notícia na imprensa internacional. A censura, porém, só estava começando. A Rede Globo boicotou a Tuiuti da cobertura dos desfiles. No Jornal Nacional dessa segunda-feira, foram apenas 35 segundos dedicados à escola, contra 65 para a Grande Rio, que acabou rebaixada e 89 para a Vila Isabel. O integrante da escola que interpretou Michel Temer como um vampiro também não foi entrevistado.
A campeã Beija-Flor cantou sobre a intolerância religiosa, a falida guerra às drogas e a corrupção. Ratos carregando malas de dinheiro foram mostrados pela Globo, que não fez o mesmo com um tucano enjaulado no desfile da Tuiuti, nem na transmissão, nem em nenhuma outra reportagem.
Assim como fez com a cobertura das manifestações pelas Diretas Já, quando só passou a noticiar quando o Brasil todo já estava tomado por aquele sentimento, a Globo só se prestou a descrever o desfile de maneira mais fiel na terça-feira, após a Tuiuti ser o assunto mais comentado das redes sociais.
Não é a primeira tentativa de manipulação da emissora, nem mesmo durante o carnaval. O mesmo Sambódromo, palco da derrota sofrida nesse ano, já foi um alvo por ter sido concebido e construído por dois adversários políticos: Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. A Globo apostou e trabalhou pelo fracasso da obra, e não quis transmitir o desfile. Após o sucesso do primeiro ano, transmitido pela TV Manchete, lá estava ela de novo...(247).
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