A espada de Dâmocles dos militares continua pairando sobre o Brasil. Pelo menos é isso que se deduz da entrevista que o general Villas Boas, chefe das Forças Armadas, concedeu à "Folha de São Paulo". Ele revelou, entre outras coisas, que se não tivesse estacionado tanques em frente do Supremo Tribunal Federal, intimidando-o para negar o habeas corpus a Lula, poderia ter havido um golpe militar. Acentuou que se manifestou no limite de perder o controle, diante da disposição, dentro e fora dos quartéis, para uma intervenção militar. "Sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse – ele disse na entrevista – porque outras pessoas, militares da reserva e civis identificados conosco, estavam se pronunciando de maneira mais enfática". O general informou ainda que surgiu "uma demanda crescente pela tal intervenção militar, intervenção militar constitucional, que até hoje não sei como é que se faz".
Na verdade, em meio às manifestações de rua orquestradas pelo MBL e apoiadas pela mídia, contra o governo Dilma, era frequente o apelo por uma intervenção militar. Grupos imbecilizados pela mesma mídia, com sua campanha sistemática contra o PT e a classe política, abriam faixas pedindo que os militares tomassem o poder. Tais manifestações, naturalmente, animaram a caserna que, a partir daí, respaldada em pequena parcela da população, passou a dar recados através de generais de pijama. E a ditadura, que parecia distanciada no tempo, voltou a ser vista por brasileiros alienados como a solução para todos os problemas do país. Essa visão ganhou força com a candidatura de Jair Bolsonaro, contribuindo para a sua eleição. E hoje não é dificil concluir que, embora muita gente – inclusive o general Villas Boas – diga que as nossas instituições são sólidas e estão funcionando perfeitamente, a ameaça de golpe está sempre pairando no ar. A Constituição não garante nada , pois até o Supremo, que tem o dever de respeitá-la e resguardá-la, é o primeiro a estupra-la.
Ninguém sabe o que o futuro nos reserva, com o governo Bolsonaro, pois os sinais emitidos até agora não são nada animadores. As declarações inconsequentes, que tem provocado atrito com outros países e ameaçam produzir efeitos desastrosos para a nossa economia; as medidas anunciadas até agora de modo improvisado, com avanços e recuos; e as indicações dos nomes que integrarão o próximo governo parecem indicar um agravamento da situação do Brasil, inclusive com o seu isolamento no concerto das nações, destruindo tudo o que foi construído com muita dificuldade ao longo dos últimos quinze anos. E com esse diplomata Ernesto Araujo, sem nenhuma bagagem para ocupar o Ministério das Relações Exteriores, além de devoto fanático do "santo" Trump, o país corre o risco de ser anexado aos Estados Unidos e alijado do BRICS, onde se ombreava a grandes potências como a Russia e a China. Estamos retornando, de maneira acelerada, para a condição de colônia americana, num dos mais vergonhosos retrocessos da nossa História. Ninguém se espante se no seu primeiro encontro com o presidente norte-americano o novo chanceler brasileiro lhe oscule as mãos.
O novo governo ainda nem começou e seus efeitos deletérios já começam a ser sentidos com o desmonte do programa Mais Médicos, que perde os mais de oito mil médicos cubanos responsáveis pela assistência à população pobre do interior do país. Muita gente que votou em Bolsonaro já começa a se arrepender. E vem mais arrependimento por aí se o presidente eleito acolher o pedido de 19 governadores eleitos em outubro, entre eles João Doria, e acabar com a estabilidade do servidor público, o que permitirá uma demissão em massa de funcionários, considerada necessária pelos novos governantes como medida de economia. É simplesmente revoltante: esse pessoal ainda nem tomou posse e já está pensando em colocar seus eleitores no olho da rua, aumentando o contingente de desempregados do país. O governador Flavio Dino, do Maranhão, que se reelegeu no último pleito, já se manifestou contra essa medida, não compactuando com os seus novos colegas que, de maneira vergonhosa, estão traindo a confiança do povo de seus Estados.
Enquanto isso o futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu exoneração do cargo de juiz federal, depois de instruir a sua substituta na Lava-Jato, juíza Gabriela Hardt, sobre como conduzir o processo do sitio de Atibaia contra Lula, inclusive quanto à sua nova condenação. Ninguém tem dúvidas de que ela repetirá a farsa do processo do triplex do Guarujá, dando uma nova sentença a Lula mesmo sem prova de nada, a qual deverá ser confirmada pelos desembargadores "imparciais" do TRF-4 e pelo acovardado Supremo. Como não existe pena de morte no Brasil, querem condenar Lula à prisão perpétua, o que equivalerá a uma condenação à morte, mediante várias condenações nos vários processos que instauraram sem nenhuma prova e sem base jurídica, já que o ex-presidente é preso político. O presidente eleito já disse que quer que ele apodreça na prisão, mesmo desejo de Moro. Diante desse panorama, em que a Constituição não vale mais nada e o país está entre a cruz e a espada ou, melhor dizendo, entre a toga e o fuzil, só nos resta rezar para que Deus, que dizem ser brasileiro, faça alguma coisa. Afinal, a esta altura só podemos confiar na Justiça Divina, onde não existem partidarismos.
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