(Foto: Ricardo Stucket | Reprodução)
Durante a entrevista à TV 247, nesta quarta-feira, 18, a ex-presidente Dilma Rousseff analisou o comportamento agressivo e antidemocrático de Jair Bolsonaro com a imprensa e, principalmente, com as jornalistas brasileiras.
Dilma fez questão de lembrar a maneira como esta mesma imprensa a tratou, também com machismo e misoginia, quando ela passou exerceu o mandato e foi alvo da campanha pelo impeachment.
"Mas eu não posso deixar de dizer uma coisa: uma imprensa que dizia que Fernando Haddad era equivalente a Bolsonaro está recebendo o que plantou. Isto não significa que se justifique o que o Bolsonaro faz. Mas que ela recebe o que plantou, recebe", disse Dilma ao jornalista Leonardo Attuch.
Leia, abaixo, a declaração de Dilma de na íntegra:
Eu tenho profundas críticas à imprensa brasileira, pelo que fez no processo de impeachment. Pela falta de coragem com que enfrentou aquele momento do Brasil. E pela capacidade de difundir mentiras. Lembro que foi um órgão de imprensa que, antes do processo de impeaachment iniciar, pedia a minha renúncia. Hoje há vários estudos sobre o tratamento desigual e até machista que deram a mim.
Agora, eu não concordo de maneira alguma que a relação que o presidente Bolsonaro estabelece com a imprensa seja correta. É desrespeitosa, é antidemocrática, e atinge um elemento fundamental da nossa democracia, que é o respeito que um chefe de estado deve ter pelos órgãos de imprensa e pelo seu povo.
Ele não pode tratar, por exemplo, as mulheres jornalistas como ele trata. Aí ele mostra o seu caráter extremamente machista e misógino. Ele não pode fazer gestos de xingamento para repórteres. É inadmissível isto.
Mas eu não posso deixar de dizer uma coisa: uma imprensa que dizia que Fernando Haddad era equivalente a Bolsonaro está recebendo o que plantou. Isto não significa que se justifique o que o Bolsonaro faz. Mas que ela recebe o que plantou, recebe.
Ela permite que jornalistas qualificadas sejam acusadas como ele acusou, com atitudes que eu considero barbaras, grosseiras, toscas. Não significa que isto justifique o tratamento absolutamente misógino que foi dado contra mim, aceitando certo tipo de fala e certo tipo de reação, que permite o que fazem hoje.
Fizeram comigo e é isso que autoriza a fazer hoje.
Então eu critico profundamente o Bolsonaro, seus assessores, todos os seus auxiliares e seus filhos, que tratam a imprensa da forma como tratam. Não é de um país civilizado, não é de um país democrático.
Mas a imprensa vai ter de olhar para si e tentar entender porque ela é absolutamente sem reação. Ela é impotente diante disso. Impotente porque não criou as condições para que a sociedade reagisse. Porque quando você começa a aceitar, você sanciona, você deixa aquilo instilar nas pessoas. Então ela hoje é impotente para reagir. É de ficar perplexo e envergonhado pela não reação.(247)
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