sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Equador em chamas

Ausência de Estado, corrupção e desigualdade social abrem caminho para redes criminosas


Militares patrulham as ruas no Equador (Foto: Prensa Latina )

O Equador vive uma das maiores crises de segurança de sua história recente. O assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio, em agosto do ano passado, marcou o início de uma onda de violência, instabilidade e insegurança na qual o país vem afundando rapidamente.

A explosão de homicídios no país, as repetidas rebeliões em presídios, o sequestro de policiais e a fuga de dezenas de detentos, incluindo o chefe da gangue criminosa Los Choneros, Adolfo "Fito" Macías, e até a invasão de uma emissora de televisão por homens armados, levaram o presidente Daniel Noboa a declarar a existência de um "conflito armado interno".

Em 2023, o Equador se tornou o país mais violento da América Latina, com uma taxa de mortes violentas de 46 por 100 mil habitantes. Em alguns bairros de Guayaquil, essa taxa sobe para 114 por 100 mil habitantes, uma das mais altas do mundo.

A decisão tomada pelo jovem Presidente prevê um estado de exceção para todo o território nacional por 60 dias, que pode ser prorrogado, a mobilização e mais poderes para militares e polícias, e uma "declaração de guerra" contra 22 organizações criminosas, que qualifica como "terroristas e atores não estatais beligerantes".

A resposta do crime organizado não tardou, com mais assassinatos, mais motins e fugas de prisões e o ataque mortal ao promotor César Suárez, encarregado de investigar o ataque à emissora de televisão em Guayaquil.

Uma situação que não pode ser explicada simplesmente com o transbordamento do crime organizado no país ou a mudança nas rotas do narcotráfico na América Latina que atualmente privilegiam o Equador.

Um Estado evaporado

Trata-se de uma crise de enormes dimensões que tem suas raízes na progressiva evaporação do Estado nos territórios, juntamente com o abandono dos setores mais despossuídos, o aumento da desigualdade social, da pobreza e do desemprego e a incontrolável corrupção pública.

Um fenômeno dramático que se agravou nos dois últimos governos neoliberais que, de pacote em pacote, mergulharam a grande maioria na miséria, reprimiram o protesto dos povos indígenas e dos movimentos sociais e entregaram territórios em bandeja de prata ao capital transnacional e ao crime organizado.

As primeiras medidas econômicas adotadas por Noboa seguem a mesma lógica, com aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de 12% para 15%, mais isenções e exonerações para grandes grupos econômicos e novas privatizações no setor público.

Tudo isso, somado à infiltração criminosa na política, na segurança pública e nas instituições do Estado, deixam o Equador de mãos ao alto e costas contra a parede.

"A situação é muito difícil e as pessoas têm até medo de sair às ruas. Muitos deles estão saindo do país e há um aumento significativo na migração. Tudo está se tornando caótico e há muito medo", disse a La Rel César Fernando López, presidente da Fesitrae(Federação Sindical Independente das/os Trabalhadoras/es do Equador).

Para o dirigente sindical, é urgente ter um governo cuja política se concentre em garantir o desenvolvimento às grandes massas excluídas, com mais e melhor saúde, educação, moradia e trabalho digno.

"Por mais duro que seja este governo, a situação dificilmente vai mudar se toda essa corrupção não for encerrada, se a pobreza, a desigualdade, a falta de desenvolvimento e a ausência do Estado nos territórios não forem atacadas com força", concluiu López.

 (*) Giorgio Trucchi é jornalista. Publicado originalmente em espanhol por Rel-UITA (Regional Latinoamericana de la UniónInternacional de Trabajadores de laAlimentación, Agrícolas, Hoteles, Restaurantes, Tabaco y Afines - http://www.rel-uita.org/ecuador/ecuador-en-llamas/). Tradução: Rose Lima. - Por Giorgio Trucchi (*).


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