Pais devem prever gastos, sem se esquecer de poupar
para a própria aposentadoria
Alexandre Neves RodriguesFlickrReprodução
Aumentar a família com a inclusão de mais um membro traz preocupações em muitos aspectos, com destaque para o emocional. O econômico, porém, não pode ser deixado de lado. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing (Invent), o custo para criar uma pessoa até os 23 anos pode chegar a R$ 2,08 milhões em uma família de classe média alta, que recebe mais de R$ 15 mil por mês.
No caso de uma família de classe B, com renda entre R$ 5 mil e R$ 15 mil, o custo total chega a R$ 948 mil. Para a classe C, que recebe de R$ 2 mil a R$ 5 mil mensais, o total também não é pequeno: R$ 407 mil.
É preciso pensar no peso do montante total para além do momento em que as crias saem de casa. Afinal, em tempos de reforma da Previdência, todos devem pensar em ter uma poupança para a aposentadoria. R$ 1 milhão gasto com o filho é R$ 1 milhão a menos no fundo de aposentadoria quando chega o momento de parar de trabalhar. Esse valor proporciona renda mensal de aproximadamente R$ 5 mil ao longo de 30 anos. No passado, era comum as pessoas contarem com os filhos para bancar suas despesas na velhice. É cada vez menor a possibilidade de isso acontecer, até porque eles mesmos terão de ter a própria poupança para a maturidade.
Planejamento
“Planejando, é possível poupar sempre”, diz o educador financeiro Jonata Bueno. Ele explica que os custos com educação, alimentação e saúde são os principais. “Independente de quanto ganha, a pessoa tem que fazer um planejamento”, opina. De acordo com ele, ensino é um dos maiores ativos que os pais podem proporcionar aos filhos, portanto esse é um item que pode crescer muito no orçamento.
Ele destaca que a geração atual tem ficado mais tempo em casa e, na hora do planejamento, isso tem que ser considerado. “Cada boca nova em casa é um custo a mais”, brinca. Para ele, a partir do momento em que a pessoa decide a quantidade de filhos que quer ter e padrão de vida que ela deseja, é preciso conciliar ambos. “Tem que pensar na melhor maneira de organizar e planejar tudo ao longo do tempo”, destaca.
É importante lembrar que as despesas com uma criança começam antes mesmo da chegada dela. O tratamento de pré-natal é caro. Além dos exames e vitaminas que serão recomendados às gestantes, é preciso retornar ao consultório da obstetra várias vezes até o dia do parto. Caso a pessoa não possua um plano de saúde, a soma das consultas, de no mínimo R$ 200,00 cada, com exames e procedimentos necessários para um acompanhamento adequado, pode ultrapassar os R$ 3 mil. É recomendado que todas as despesas da gravidez, sempre que possível, sejam realizadas por meio de um plano de saúde.
A publicitária Juliana Cezario, 32 anos, tem três filhos e nunca colocou no papel os gastos, mas não tem dúvidas de que o mais alto é a mensalidade escolar. Ela não tem previsão de até que idade custeará os gastos com os filhos. “Difícil saber quando eles ainda são pequenos, mas, se for do jeito que foi comigo, seria até o casamento. Enquanto eles estiverem morando debaixo do meu teto, eu ajudo financeiramente”, diz.
Juliana teve que mudar de apartamento com a chegada da terceira filha. “Além disso, mudança de carro para caber toda a família. Em viagens, muitos hotéis não aceitam todos nós no mesmo quarto. Tudo isso mudou depois que tive eles”, observa. Apesar de nenhuma de suas crianças estarem com a idade em que planeja colocá-los na escola, aos cinco anos, ela já pesquisou alguns preços e sabe que de início gastará pelo menos R$ 900,00 para que a primeira comece a estudar. Juliana lembra que agora tem que considerar os pequenos em todos os programas que vai fazer. “Pensamos tudo de forma a dar um futuro melhor para eles”, finaliza.
O bebê precisará de um espaço próprio, talvez não de imediato, mas em algum momento ao longo do seu crescimento. A decoração de um quarto de bebê feita do zero e com móveis novos costuma sair entre R$ 2 mil e R$ 10 mil. Mas os pais podem aproveitar móveis de casa ou de parentes e procurar coisas em bazares. Nesse caso, os custos são de pelo menos R$ 500,00. Muitas famílias economizam fazendo chás de fralda e chás de bebês, nos quais ganham presentes que as ajudem a se preparar para a vinda da criança.
A atendente Ana Paula Nascimento, 25 anos, tem um filho de cinco anos e destaca o peso no bolso por ser mãe solteira. Ela teve que fazer um empréstimo para montar o quarto do bebê. “Fiz um empréstimo de R$ 2 mil para comprar o berço, carrinho, guarda-roupa, enxoval e ainda assim, não deu. Peguei mais mil reais com meu pai”, revela.
Emergências
Ela explicou que, como o filho tem bronquite asmática, ela gastava muito com remédio quando ele era bebê. “Eu pago R$ 315 de convênio, mas, ainda assim, os remédios, eu tinha que comprar por fora e dava pelo menos R$ 100 por compra”, esclarece. Segundo Ana, os gastos mensais com fralda eram de R$ 150 durante quatro meses, já que as que ganhou no chá foram suficientes para os outros meses.
Ana sempre optou por comprar roupas e calçados mais baratos porque perdia tudo muito rápido. Por mês, eram, no mínimo, R$ 200,00 em roupas. Quando ele cresceu, esse custo subiu para R$ 400,00 mensais. Como ela trabalha, sempre pagou R$ 350,00 para uma babá por meio período e R$ 160,00, para buscarem-no na creche. Para o lanche, ela gasta R$ 20,00 por dia em frutas, suco. “Antes, quando ele ia para a escolinha, eu gastava R$ 450,00 de mensalidade. Todo ano, é pelo menos R$ 600,00 em material escolar e uniforme”, relata.
As com o vestuário são contínuas e, conforme a criança cresce, é necessário comprar mais. Nos primeiros meses, os pais economizam nesse item também por ganharem muitas roupas de amigos e familiares. Mas, ao longo dos anos, é mais um item para colocar na planilha.
Nesse último ano, de acordo com Ana Paula, o orçamento apertou um pouco e ela colocou um limite de R$ 500,00 por mês. “Eu estabeleci esse limite, mas anteontem mesmo, ele ficou doente e neste mês eu já gastei mais porque precisou fazer exames que o convênio não cobria”, comenta.
Tecnologia
Conforme o Invent, os pais podem gastar entre R$ 36 mil e R$ 160,7 mil em brinquedos e tecnologias. Bueno recomenda que os pais façam um planejamento de longo prazo, de forma a guardar dinheiro para o filho jovem adulto. “A geração de hoje tem essa questão de trabalhar com aquilo de que gosta, então acho que desde cedo incentivar carreiras nas áreas em que a criança tenha potencial e gosta é interessante. Quanto mais cedo eles descobrirem o que gostam, mais rápido vão conseguir se desenvolver e adquirir independência financeira”, observa.(DP).
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