Bannon, que participou da visita de Bolsonaro a Washington no mês passado, diz ser inaceitável um vice-presidente manter postura antagônica ao governo
Por: Agência Brasil
Hamilton MourãoFoto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Estrategista
da campanha que elegeu Donald Trump à Casa
Branca, Steve Bannon afirma que o
vice-presidente brasileiro, o general Hamilton Mourão, tenta se
mostrar preparado para assumir o Planalto caso Jair Bolsonaro não dê certo
no comando do governo.
Bannon, que participou da
visita de Bolsonaro a Washington no mês
passado, diz ser inaceitável um vice-presidente manter postura
antagônica ao governo. E acrescenta: se tiver princípios, honra e decência, Mourão deve renunciar ao
cargo e migrar para a oposição.
"O
vice-presidente está tentando mostrar que está preparado se Bolsonaro falhar. E isso não é
aceitável. Não é aceitável por ser alguém do governo. Se quiser fazer isso,
Mourão deveria renunciar amanhã de manhã e ir para a oposição", afirmou à
reportagem. "Se ele não acha que pode falar a voz do governo, se é um homem de
princípios, honra e decência, deveria renunciar e ir para a oposição."
A
declaração de Bannon, que se tornou um dos conselheiros de parte da ala
ideológica do governo brasileiro, ocorre na véspera da chegada de Mourão aos
EUA e em meio a forte crise política no Planalto, que não consegue articular
uma base aliada sólida no Congresso.
O
vice-presidente desembarca em Boston nesta sexta-feira (5) para participar da
Brazil Conference, evento organizado por alunos brasileiros das universidades
de Harvard e do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Na
cidade, tem encontros com pensadores de esquerda, como Mangabeira Unger,
ex-ministro de Lula, além de imigrantes brasileiros –agenda que Bannon
classificou como "um tapa na cara do governo".
O
roteiro de Mourão nos EUA incomodou aliados de Bolsonaro. Eles avaliam que os
compromissos reforçam a tese de que o vice está tentando se firmar como figura
plural e dissonante de Bolsonaro.
Mourão
tem se colocado do outro lado do tabuleiro nas principais polêmicas do governo.
Na mais recente, enquanto o presidente e seu ministro das Relações Exteriores,
Ernesto Araújo, insistiam na ideia de que o nazismo foi um movimento de
esquerda, Mourão disparou: "De esquerda é o comunismo, não resta nenhuma
dúvida".
Após a
passagem por Boston, o vice-presidente brasileiro segue para Washington, na
segunda-feira (8), pouco mais de 20 dias após Bolsonaro ter se encontrado com
Trump na capital.
Para
Bannon, a proximidade das visitas de um presidente e um vice de um mesmo país é
incomum nos EUA e tem gerado dúvidas entre políticos e empresários locais.
"Estou
chocado que um militar não está seguindo o comando central do governo. É muito
estranho ter uma pessoa do governo vindo para os EUA e marcando seus próprios
compromissos. Nos outros países isso não acontece, especialmente porque tivemos
uma grande delegação aqui e muito foi feito."
Na
passagem pelos EUA, Bolsonaro conseguiu apoio de Trump para o ingresso do
Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o
status de aliado extra-Otan para o país.
Ainda
há dúvidas entre os analistas sobre a concretude desses acordos, mas o governo
os viu como um trunfo.
Líder
do The Movement, grupo que promove a direita nacionalista e populista no mundo,
Bannon saiu da Casa Branca em 2017, depois que seu nome foi citado em um livro
sobre o governo chamando um dos filhos de Trump de "traidor" –o
ex-assessor nega.
Hoje
Bannon diz ser um "observador" do Brasil e tem estreitado laços com o
filho caçula de Bolsonaro, Eduardo, que ganhou mais projeção em questões de
política externa após a visita do presidente aos EUA. O ex-estrategista de
Trump também se aproximou de Filipe Martins, assessor da Presidência para
assuntos internacionais.
Esta
semana, o jornal britânico "Financial Times" publicou um artigo no
qual chamava Mourão de "moderado" –opinião rechaçada por Bannon. Para
ele, vice quer ser o "homem dos globalistas", mas é visto como um
"palhaço" nos EUA.
"Ele
absolutamente não é [moderado]. Bolsonaro, Ernesto e Guedes [Paulo Guedes,
ministro da Economia] estão fazendo um movimento para cumprir tudo o que
prometeram: reforma da Previdência, política externa. Não há surpresas no que
Bolsonaro está dizendo", disse.
"O
vice-presidente estava na campanha e se comprometeu com todo o programa de
Bolsonaro. Por que isso mudou nos cem primeiros dias de governo? Isso machuca o
Brasil e o povo brasileiro."
Em
Washington, Mourão tem encontro com empresários e em centros de pesquisa. Ele
ainda tenta marcar reunião com o vice-presidente americano, Mike Pence, e com
parlamentares.
Quando
esteve na cidade, Bolsonaro não conseguiu se encontrar com integrantes do
Congresso, que estava em recesso, e cumpriu agenda mais restrita ao encontro de
pessoas ligadas a seu campo ideológico conservador.
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