O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva classificou como “muito grave” a denúncia de que os Estados Unidos
espionaram e-mails e telefonemas de Dilma Rousseff. Ele afirmou que não
opinará sobre como a presidenta deve agir em torno da questão, mas
cobrou uma resposta clara de Barack Obama sobre o episódio.
“Nós, que passamos a vida inteira
lutando por soberania, lutando por democracia, nós não podemos admitir, a
pretexto nenhum, que um país se dê o luxo de ficar tentando gravar,
copiar e-mails, telefonemas de um país como fizeram com a Dilma. Acho
que a resposta americana não pode ser uma resposta via diplomacia porque
a espionagem não foi via diplomacia. Espionagem foi espionagem. Cabe ao
Obama humildemente pedir desculpas à presidenta Dilma e pedir desculpas
ao Brasil”, disse, durante conversa com jornalistas na sede do
Instituto Lula, na zona sul de São Paulo, após se reunir com deputados
estaduais do PT.
A entrevista foi gravada antes da
reunião entre os presidentes de Brasil e Estados Unidos, que mantiveram
encontro particular em paralelo à reunião do G20 realizada hoje e amanhã
em São Petersburgo, na Rússia. O Palácio do Planalto e a Casa Branca
confirmam que Dilma e Barack Obama discutiram a questão, mas não dão
detalhes sobre a conversa, realizada após a recente denúncia de que os
norte-americanos interceptaram e-mails e telefonemas da chefe de Estado
no âmbito do esquema de espionagem promovido pelo país.
“O que acho é que a soberania dos
Estados está sendo colocada em risco com o comportamento americano”,
acrescentou Lula, que lamentou o argumento do governo norte-americano de
que a espionagem é necessária para proteger o mundo. “Os Estados Unidos
não foram nomeados para serem xerifes do mundo. Ninguém pediu. Se quer
saber alguma coisa da Dilma, que pergunte. Não tem que ficar
bisbilhotando. Foi grave. Muito grave. Os americanos passaram do limite
do respeito à soberania dos países. Sempre haverá no Brasil um vira-lata
que acha que o Brasil pode tudo. Sempre haverá.”
O ex-presidente acredita que a denúncia
expõe ainda a maneira como a Casa Branca enxerga o maior país da América
do Sul. “A verdade é que os americanos não suportam o fato de o Brasil
ter virado um ator global. No fundo, no fundo, o mais que eles aceitam é
que o Brasil continue subalterno como sempre foi. Quando o Brasil cria
orgulho próprio, cria a Unasul, não aceita a Alca, faz a união América
do Sul-América Latina, os americanos acham que estamos incomodando.”
Após a denúncia, Dilma decidiu cancelar a
viagem que diplomatas fariam no próximo fim de semana aos Estados
Unidos para preparar a missão oficial da presidenta a Washington, o que
colocou em dúvida a visita agendada para outubro.
Para Lula, o episódio serve também para
mostrar a vulnerabilidade do sistema de transmissão de dados do Brasil.
“É importante que a gente desafie nossas universidades, nossos
cientistas, nossos pesquisadores a construírem e apresentarem ao governo
um programa de comunicação que dê à presidenta a segurança de passar um
e-mail para a filha dela e não tenha ninguém bisbilhotando, que faça um
telefonema entre chefes de Estado e não tenha ninguém ouvindo esse
telefonema.” As Informações são do Brasil 247.
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