Com o governo de Michel Temer, rejeitado por 95% dos brasileiros, vivendo seus dias derradeiros, a Petrobras anunciou que não irá explorar cinco de oito campos do pré-sal que serão leiloados em outubro.
A alegação da companhia, sob a gestão de Pedro Parente, é que a empresa não tem recursos para explorar uma riqueza que ela própria descobriu.
Com isso, enquanto todos os países do mundo cuidam de suas reservas energéticas, o Brasil abre caminho para que seu petróleo seja explorado por empresas como Shell, Exxon, Chevron e Total.
Com essa abertura, Temer cumpre uma das promessas do golpe parlamentar de 2016, que era a entrega do pré-sal.
Alguns presidenciáveis, no entanto, alertam que esses acordos são precários e serão revistos no futuro. "Tudo que o Parente fizer será desfeito", avisa Ciro Gomes.
Abaixo, reportagem da Reuters:
Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Diante de restrições financeiras, a Petrobras anunciou nesta quinta-feira que exercerá o direito de preferência em apenas três dos oito prospectos que serão ofertados nos dois leilões do pré-sal, sob regime de partilha, em outubro.
A Petrobras estimou em 810 milhões de reais o valor correspondente ao bônus de assinatura a ser pago pela companhia, considerando que os resultados dos leilões confirmem apenas as participações mínimas de 30 por cento indicadas em cada bloco.
Tal montante, disse o presidente da empresa Pedro Parente, equivale a 0,3 por cento do plano plurianual de investimento da companhia, de cerca de 74,1 bilhões de dólares, e não impacta as metas da petroleira, que busca reduzir seu elevado endividamento.
Na segunda rodada do pré-sal, a empresa informou que exercerá a preferência para a área unitizável adjacente ao campo de Sapinhoá, um dos maiores do Brasil já em produção, enquanto na terceira a estatal exercerá preferência nos prospectos exploratórios de Peroba e Alto de Cabo Frio Central.
"Todas as áreas são muito boas. Sem dúvida nenhuma, nem poderia ser diferente, as decisões (sobre a preferência) levaram em conta restrições de natureza financeira", afirmou o presidente da Petrobras a jornalistas, em conferência para tratar do tema.
A Reuters adiantou na noite de quarta-feira que a decisão da Petrobras sobre sua participação nos leilões do pré-sal seria anunciada nesta quinta-feira.
Ainda que considere mínimos os aportes com o bônus do pré-sal, perto dos investimentos totais previstos, a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Solange Guedes, disse que a empresa decidiu postergar atividades exploratórias no litoral da Bahia para fazer à participação da empresa no leilão.
Dessa forma, a empresa não precisará aumentar a previsão de investimentos em seu plano até 2021.
Em contrapartida, a empresa não descarta a possibilidade de ampliar o percentual de 30 por cento indicado para as áreas onde está exercendo seu direito de preferência, formando consórcios para participar das licitações.
Isso, em tese, abre espaço para a participação de grandes petroleiras globais nos leilões.
A companhia também disse que, nas áreas em que não exerceu direito de preferência, poderá participar em condições de igualdade com os demais licitantes, seja para atuação como operador ou como não-operador.
Enquanto busca reduzir sua enorme dívida, a maior para uma petroleira no mundo, com forte redução de custos e um bilionário plano de venda de ativos, a Petrobras não revelou de onde viriam novos recursos para possíveis participações maiores.
O presidente da Petrobras evitou dar detalhes sobre as estratégias definidas pela empresa até agora, mas destacou que deverá participar das licitações em consórcios.
"Nossa preferência sempre será para a formação de consórcios e não esperamos hipótese de não haver consórcio", afirmou Parente.
O executivo negou que já tenha conversado com petroleiras possivelmente interessadas nos leilões, mas destacou que pôde observar em viagens recentes ao exterior forte interesse de companhias multinacionais nos prospectos que serão ofertados.
POSSIBILIDADES ABERTAS
O executivo frisou ainda que as restrições financeiras terão que ser levadas em conta em suas futuras decisões, além das avaliações sobre os interesses da empresa na agregação de áreas exploratórias ao portfólio.
"Existe uma sequência de questões que se colocam de hoje até a realização do leilão que vão determinar várias possibilidades diferentes para decisões que a empresa tem que tomar, onde restrições financeiras especialmente no curto prazo certamente são relevantes", disse Parente.
O executivo destacou ainda que estuda participar da 14ª rodada de licitação de áreas exploratórias de petróleo e gás, sob regime de concessão, que ficam fora da área definida como pré-sal.
"(Na rodada de concessões) tem áreas que podem vir a ser do nosso interesse e que podem melhorar a resultante risco e retorno do nosso portfólio como um todo", afirmou.
Segundo a Petrobras, o investimento em áreas nesses leilões não impactará as metas de seu Plano de Negócios e Gestão 2017-2021, como a de redução de sua dívida.
A segunda rodada vai oferecer aos investidores as áreas unitizáveis adjacentes aos prospectos de Carcará (bloco BM-S-8), Gato do Mato (bloco BM-S-54), Campo de Sapinhoá, na bacia de Santos, e Campo de Tartaruga Verde (jazida compartilhada de Tartaruga Mestiça), na bacia de Campos. Os bônus de assinatura totalizam 3,4 bilhões de reais.
A terceira rodada ofertará as áreas de Pau Brasil, Peroba e Alto de Cabo Frio Oeste, na Bacia de Santos, e a área de Alto de Cabo Frio Central, nas Bacias de Santos e Campos. O valor dos bônus de assinatura soma 4,35 bilhões de reais.
No regime de partilha, ganha o leilão aquele consórcio/empresa que oferecer o maior percentual de óleo ao governo.
Até hoje apenas um leilão foi realizado sob regime de partilha de produção, que foi com a oferta do promissor prospecto de Libra, em 2013.
Os próximos dois leilões serão os primeiros com a nova regra de direito de preferência da Petrobras.
No passado, a Petrobras era obrigada a ser operadora em todas as áreas do pré-sal. Na nova regra, além de ter o direito de decidir antes do leilão se será ou não operadora das áreas ofertadas, a empresa terá ainda o direito de confirmar seu interesse em ser a operadora no dia do leilão, caso a oferta vencedora esteja acima de sua capacidade financeira.
Se a empresa desistir de ser operadora, o consórcio vencedor irá decidir quem ficará com a parcela da Petrobras. (247).
(Com reportagem adicional de Luciano Costa em São Paulo)
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