Segundo especialistas, ainda são poucas as pesquisas que indicam os efeitos do produto no corpo. Ainda assim, é preciso utilizar equipamentos de proteção
Por: Wellington Silva, Guto Moraes e Artur Ferraz
Pessoas se mobilizam para retirar o óleoFoto: Léo Malafaia/Folha de Pernambuco
Além dos prejuízos ambientais, o contato com o
petróleo bruto traz consequências para a saúde, pois trata-se de produto
tóxico. Segundo especialistas, ainda são poucas as pesquisas que avaliam os
efeitos do contato humano com o produto. De qualquer forma todos são unânimes e
alertam que pessoas trabalhando na limpeza de animais e de praias devem usar
equipamentos de proteção, como luvas e roupas protetoras. De quinta-feira (17)
até segunda-feira (21), 257 toneladas de óleo foram recolhidas no litoral
pernambucano, sendo 186 toneladas tiradas apenas na segunda-feira, nas praias
do Paiva, Itapuama, Pedra do Xaréu, Gaibu e Sirinhaém.
O professor do Departamento de Oceanografia da UFPE, Gilvan Takeshi, em curto
prazo, o contato com o óleo pode causar irritação na pele e mucosas.
"Efeitos de longo prazo seriam apenas se as pessoas ficassem expostas,
constantemente, respirando alguns vapores desse petróleo. Mas como isso (o
trabalho de retirada dos resíduos) está sendo feito em ambiente de praia, que é
aberto e e com bastante vento, isso não deve ser um problema. Se ficar
respirando o dia inteiro aquilo pode ser que tenha reação alérgica ou náusea em
determinado momento. O principal efeito em longo prazo haveria caso ingerisse o
produto", disse.
De acordo
com a dermatologista Ana Cristina França, o contato com o óleo pode causar
dermatite. Por isso, a orientação é evitar tocar a substância. Ela explica que
a dermatite é um processo alérgico composto de vermelhidão no local afetado,
seguida por coceira e ressecamento na região. “Dependendo do contato e da
vulnerabilidade do paciente, pode haver um quadro cutâneo mais grave, em seu
efeito agudo, com formação de bolha. A reação pode acontecer imediatamente,
seis horas depois ou até um dia após”, detalha a especialista.
Ainda de acordo com a especialista, caso a pessoa opte por integrar as equipes
voluntárias, a recomendação é utilizar roupas com proteção UV, luvas e botas
que protejam a pele do contato direto com o resíduo. Uma vez que aconteça,
lavar com sabonete neutro e água em abundância. O óleo mineral também pode ser
utilizado. Para os olhos, a indicação é o uso de soro fisiológico. Em caso de
irritação, a primeira orientação é buscar assistência médica.
Locais afetados pelo óleo -
Crédito: Arte/Folha de Pernambuco
Contenção
Para o trabalho nas praias, o governo do Estado tem
contado com um efetivo de 400 pessoas mobilizadas, seja da Defesa Civil, CPRH,
Corpo de Bombeiros, incorporando também equipes de apoio da Seplag e da
Secretaria de Administração. O governo ainda conta com helicópteros da SDS e do
Ibama, além de dez embarcações e 30 viaturas. Todo o material coletado foi
levado para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR), em Igarassu.
De acordo com Bertotti, o comandante de Operações Navais da Marinha, almirante
Leonardo Puntel, informou que amanhã chegarão três navios da Marinha para
ajudar nos trabalhos realizados em Pernambuco. "Mas no ponto de vista de
EPIs, boias de contenção não chegou nada. Esses são alguns dos itens previstos
na implementação do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição
por Óleo em Água", disse o secretário. Ele informou ainda que hoje mandou
novo ofício para o Ministério do Meio Ambiente pedindo boias de contenção e
equipamentos de proteção individual. Conforme Bertotti, o Plano prevê a
instalação de um comitê que analise a extensão do dano, mas essa medida não
teria sido tomada pela União.
Caos no Cabo
O Cabo de Santo Agostinho, município mais atingido ontem, foi tomado pelo
petróleo. Na praia de Itapuama, era possível sentir o cheiro do óleo antes
mesmo de chegar à faixa de areia, repleta de grandes placas pretas. As pedras e
as ondas mais rasas também ficaram sujas de piche. Da mesma forma estavam os
braços e pés descalços de Everton Miguel dos Anjos, 13, que trabalhava colhendo
petróleo desde a noite de domingo, quando vieram as primeiras manchas do mar.
Acompanhado de quatro irmãos e alguns vizinhos, ele mora no bairro de Ponte dos
Carvalhos. “Minha mãe abriu o bar aqui em Itapuama e eu vim para ajudar. Tinha
nada para fazer”, revelou. No meio dos cerca de dois mil voluntários que
juntavam o petróleo bruto para guardar nos cinco mil sacos de náilon
distribuídos pela prefeitura, Everton era parte do cenário de confusão e
correria que dominou Itapuama na tarde desta terça-feira. Enquanto a maré
enchia, eles denunciavam a falta de orientação técnica. “Não tem governo que
faça o que estamos fazendo. A gente deve tirar o resíduo com o mínimo de areia
possível. Precisa de luva, mas também de material de trabalho”, protestou a
bióloga Gabriela Barros.
Minutos depois, o secretário de Serviços Públicos da cidade, Raimundo Sousa,
mandou duas retroescavadeiras para a remoção do material e reclamou da falta de
apoio. “Esse acidente é de grandes proporções. Estamos administrando isso no
peito e na raça. Isso nunca aconteceu em nossa região. O Cabo de Santo
Agostinho é a cidade mais afetada por conta da geografia. A maré veio e a
situação ficou mais agressiva. O município por si só não vai dar resposta”,
afirmou.
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