Políticos relevantes – e a sociedade de modo geral – não apoiam a tomada do poder pelo Exército
Por Sérgio Praça
O presidente da República, Michel Temer, tenta equilibrar bola durante evento em Brasília (DF) - 15/03/2018 (Ueslei Marcelino/Reuters)
(Veja)
Alguns brasileiros estão ansiosos para que eleições diretas para presidente ocorram imediatamente ou sejam antecipadas para julho. Outros querem a derrubada do presidente Michel Temer (MDB) pelo Exército.
Por enquanto, as chances de qualquer uma dessas coisas acontecer são próximas de zero. Não há, nem de longe, o tipo de antagonismo entre grupos políticos para que o Exército seja chamado para dar um golpe. Quem compara a situação do início de 1964 a 2018 sabe quase nada sobre história e política. João Goulart (PTB) foi derrubado após uma longa crise institucional que em nada se assemelha ao que ocorreu no Brasil nos últimos anos. Dilma Rousseff (PT) foi destituída sem que houvesse mobilização popular. Lula (PT) foi preso sem sombra de descontentamento dos cidadãos a ponto de forçar o Judiciário a voltar atrás.
É claro que a política não está bem, mas as eleições de outubro servirão para eleger representantes – tanto o(a) presidente quanto parlamentares – com a legitimidade que falta tanto a Temer quanto ao Exército. Falta a este, é claro, em grau muito maior.
Recebi delirantes áudios no WhatsApp que estão anos-luz à frente do que se convencionou chamar fake news. Esta é a transcrição de uma gravação de 1 minuto e 56 segundos atribuída a Carlos Marun, ministro da Secretaria-Geral de Governo da Presidência: “Cláudio, só não vaze esse áudio, por favor. A jogada que eles fizeram aqui no Planalto era a seguinte: como eu tinha te falado esses dias, o governo tem um acordo com a Globo para empurrar com a barriga até as eleições. Tu sabe, né? Pois é. Isso porque nas eleições quem vai ganhar é o Meirelles. Claro que vai ganhar porque as urnas são fraudadas. Só que com essa greve dos caminhoneiros, o general [Eduardo] Villas Bôas [comandante do Exército] chegou e falou para o Temer assim ó: não dá mais para segurar, 50% dos generais já estão contra o teu governo. Se essa greve durar até domingo [ontem], segunda-feira tu vai ter que renunciar. Simplesmente deu o recado e não deixou o Temer responder e ficou por isso. Aí qual foi a ideia daquele burro do [Eliseu] Padilha [chefe da Casa Civil da Presidência]? Pega uns caras que se dizem do movimento, junta eles para fazer a reunião, todo mundo assina um acordo, chama só a Globo e diz que a greve acabou e pronto. Com isso, ele achou que a população vai ver que a greve acabou e exigir que os caminhoneiros voltem a trabalhar normalmente. A ideia parecia boa. Só que tinha um problema. O acordo é muito estúpido. E mesmo se os cabeças do movimento assinassem aquele documento, os caminhoneiros não iriam aceitar. Porque não adianta tirar 10, 20, 30, 50 centavos do diesel se na Bolívia nosso combustível não passa de 2 reais. É lógico que os caras não iriam cair nessa historinha. Agora o Temer mandou o Exército para desobstruir as estradas. Mas o problema é a paralisação, não é a obstrução. Diante disso, o Exército não pode obrigar os caminhoneiros a trabalharem. Podem apenas obrigar a desobstruir as estradas. Vou te falar uma coisa: esse governo já caiu, meu amigo”.
Bobagem completa. A voz é mais rouca do que a de Marun e tem forte sotaque gaúcho. O ministro nasceu em Porto Alegre, mas fala com sotaque diferente. Não há evidência alguma de que qualquer coisa do áudio seja verdadeira. Não há apoio civil suficiente para realizar um golpe. Nenhum político de peso apoia algo assim – nem mesmo Jair Bolsonaro (PSL), o mais delirante de todos, que está plantando desordem para colher clamor por ordem nas eleições.
Caso os caminhoneiros continuem atrapalhando o andamento normal do país, o Exército intervirá – não em apoio aos grevistas, mas para desmobilizá-los. E a polícia irá multar e prender os responsáveis.
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