O
médico cubano Juan Delgado, de 49 anos, retratado numa imagem do
fotógrafo Jarbas Oliveira, em que era vaiado por médicas brasileiras, se
disse “impressionado” com a manifestação ocorrida em Fortaleza e deu
uma lição em seus agressores. “Me impressionou a manifestação. Diziam
que somos escravos, que fôssemos embora do Brasil. Não sei por que
diziam isso, não vamos tirar seus postos de trabalho”, afirmou ele.
De fato, Delgado e os demais
estrangeiros que chegaram ao Brasil irão trabalhar em 701 municípios que
não atraíram o interesse de nenhum médico brasileiro, a despeito das
bolsas de R$ 10 mil oferecidas pelo governo federal.
Negro, e formado por uma universidade
pública de Cuba, Delgado questionou várias vezes o fato de ter sido
chamado de “escravo” pelos brasileiros. Ele se disse um homem livre, que
veio por vontade própria ao Brasil e disse ainda ter atuado em outras
missões humanitárias, em países como o Haiti.
Sobre a escravidão, ele disse algo que
poderia ser lembrado pelas próximas gerações de médicos no Brasil. “Isso
não é certo, não somos escravos. Seremos escravos da saúde, dos
pacientes doentes, de quem estaremos ao lado todo o tempo necessário”,
afirmou, em depoimento ao jornalista Aguirre Talento, da Folha. “Os
médicos brasileiros deveriam fazer o mesmo que nós: ir aos lugares mais
pobres prestar assistência”.
Ele afirmou ainda que a atuação dos
estrangeiros não será simples. “O trabalho vai ser difícil porque vamos a
lugares onde nunca esteve um médico e a população vai precisar muito de
nossa ajuda”, disse. Sobre o desconhecimento da língua portuguesa,
disse que não será um empecilho e afirmou que a população brasileira
“aceitará muito bem os cubanos”.
Responsável pelo corredor polonês armado
contra os cubanos, o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, José
Maria Pontes, disse que as vaias não eram dirigidas contra os
profissionais estrangeiros, mas sim aos gestores do programa Mais
Médicos. Um vídeo (assista aqui), no entanto, deixa claro que médicos
cubanos, como Juan Delgado, foram cercados e chamados de “escravos” por
uma turba selvagem e enfurecida de médicos cearenses. Até agora, o
Conselho Federal de Medicina ainda não soltou nenhuma nota condenando o
que ocorreu em Fortaleza.
Postada ontem com indignação pelo 247, a
imagem da vaia dirigida a Juan Delgado havia sido compartilhada por 185
mil pessoas no Facebook – uma marca histórica e um fenômeno raro na
história da internet (saiba mais aqui). O que demonstra o estrago que a
classe médica tem feito à própria imagem com os atos de xenofobia e até
racismo contra médicos estrangeiros, sobretudo cubanos, que vêm sendo
incitados por parte da chamada grande imprensa brasileira. (Brasil247)
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