Família trata caso como feminicídio; professora de Educação Física faria aniversário
neste sábado (2)
Agente penitenciário, Jorge Barbosa Andrade, 58 anos, demonstra
ter conhecimento teórico sobre o manuseio de armas. Sob o argumento, não
acredita que o tiro que acertou o peito da filha,
a professora de Educação Física Gleise Santos Andrade, 30 anos, seja
consequência de um acidente.
Autor dos disparos, o soldado da Polícia Militar Kleber Fernando
dos Santos, 33, namorado da vítima, afirma que limpava a arma, na noite de
quarta (30), quando houve o disparo. Tudo aconteceu por volta das 23h, na casa
do PM, no bairro de Itapuã, em Salvador.
A personal chegou a ser socorrida pelo próprio namorado até o
Hospital Aeroporto, em Lauro de Freitas, mas não resistiu ao ferimento.
Jorge argumenta que é “princípio básico de qualquer treinamento
policial” que, ao fazer a manutenção da arma, é importante obedecer às regras:
“A arma sempre apontada para baixo e travada”, diz. “Isso gera
dúvidas porque ele era orientado. Acredito que foi um feminicídio”.
O pai foi chamado até o hospital por Kleber, que adiantou que
havia acontecido “um acidente”, sem dar detalhes. “Ele estava lá desorientado.
Vi nesse momento, mas não quero mais ver ele”.
O agente penitenciário disse ainda que o genro, que se
apresentou espontaneamente no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP), no início da manhã desta quinta-feira (31), se relacionava com a filha
havia cerca de um ano e meio. Ele foi ouvido e liberado. Em nota, a PM
confirmou o disparo acidental [veja abaixo integra da nota]
Casal estava junto há cerca de um ano e meio, diz pai (Foto: Acervo Pessoal)
Em nota, a Polícia Civil informou que a arma foi submetida à
perícia no Departamento de Polícia Técnica (DPT). Testemunhas ainda devem ser
ouvidas por equipes da 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico),
responsável por investigar a morte da professora.
‘Amigos de infância’
Fruto do único casamento de Jorge, Gleise deixa, além dos pais, um irmão mais
velho, e duas filhas – de 6 e 8 anos de idade. As crianças, que não sabem da
morte da mãe, não devem participar do sepultamento, no final da manhã desta
sexta, no Cemitério Bosque da Paz.
“Elas vão precisar de tratar. Todos nós, minha esposa está
dilacerada”, lamenta, ao salientar que não quer a presença do militar no
enterro. “Eu não quero que ele vá, nenhum de nós quer. Ele não tem o que
dizer”, afirma, ao lembrar que o relacionamento dos dois começou há um ano e
meio, depois que Kleber ficou viúvo.
Amigos de infância, a personal e o PM se reaproximaram depois
que a primeira esposa do soldado, Flávia Antunes, 34,
foi assassinada durante uma tentativa de assalto,
em 2017. Na ocasião, Kleber foi baleado na mão.
Flávia estava casada há apenas um mês; morta com tiro nas costas
(Foto: Reprodução)
Gleise foi uma das amigas que, na época, prestaram apoio ao
viúvo, recorda a tia da vítima, a aposentada Zélia Santos, 76. Segundo ela,
meses depois os dois começaram a namorar e a sobrinha voltou a frequentar a
casa do militar, na região da Avenida Dorival Caymmi, em Itapuã.
“Como as filhas dela têm um pai que gosta muito, quando as
meninas iam ficar com ele, Gleise ia para casa de Kleber”. Zélia diz que
aguarda as investigações da polícia mostrarem “a verdade”.
‘Cheia de
vida’
Uma mulher feliz, e que “corria atrás dos sonhos”, relata a aposentada, ao
lembrar que a sobrinha completaria 31 anos neste sábado (2), feriado do Dia de
Finados. Já estava tudo pronto para a festa, que aconteceria durante a noite,
em um bar da capital baiana.
A professora estava realizada, diz a tia. Há pouco mais de seis
meses, havia aberto uma academia em Lauro de Freitas, onde também dava aulas de
musculação. Esforçada, garante a tia, também trabalhou como bombeira e,
atualmente, dividia a atenção entre o negócio e o cuidado com as filhas do
primeiro casamento, que acabou há “alguns anos”.
Vitima faria aniversário neste sábado (2) (Foto: Acervo Pessoal)
“Ela não tinha medo de nada. Era guerreira, alegre e vaidosa.
Tudo isso acabou conosco. Justo ela, que ajudou tanto quando ele [Kleber]
precisou”.
Irmã da mãe da personal, Zélia afirma que o caso “precisa ser
investigado”. Embora não tenha conhecimentos de brigas ou qualquer
desentendimento entre o casal, reforça o que pensa o pai da vítima: “Mais uma,
entre tantas mulheres assassinadas”.
Integra da
nota da PM
“Por
volta das 23h30 de quarta-feira (30), deu entrada no Hospital Aeroporto uma
mulher, esposa de um policial militar, vítima de disparo de arma de fogo, que
não resistiu aos ferimentos. Ela foi socorrida para unidade pelo marido, que
informou a 15ª CIPM e foi apresentado a 12ª Delegacia e encaminhado para o
Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) para adoção das medidas
cabíveis. Segundo relato do policial, ele fazia a manutenção da arma quando
houve o disparo acidental e atingiu a esposa.
Para
esclarecimento de uma ocorrência passada, que vem sendo utilizada de forma
incorreta, a Polícia Militar esclarece que há dois anos, o mesmo policial
militar estava em um ponto de ônibus, em Abrantes, Camaçari, acompanhado da
esposa, à época, quando o casal foi vítima de assalto. Os dois foram atingidos
por disparos de arma de fogo. A esposa não sobreviveu e o PM foi atingido na
mão. O fato foi comprovado com base nas imagens de câmera de segurança em via
pública”.(Correio da Bahia)
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