Na contramão do país, Pernambuco fecha menos 4 mil vagasO estado fechou o 2017 com menos 4.753 oportunidades de emprego, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro e Alagoas.Foto: ilustração
A retomada da economia em 2017, com crescimento estimado em 1%, favoreceu a geração de empregos no país. Levantamento do portal Trabalho Hoje, realizado a pedido do Correio, aponta que 17 das 27 unidades da federação voltaram a criar vagas entre janeiro e novembro. O fechamento de postos ainda ocorre em três estados do Norte, seis do Nordeste e um do Sudeste, o Rio de Janeiro. A pesquisa analisou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, que contabiliza empregos com carteira assinada.
No topo da lista, São Paulo (92.357), Minas Gerais (51.884) e Santa Catarina (49.058) são os estados que mais abriram vagas no período analisado. No Distrito Federal, o saldo é positivo, mas o aumento foi de 664 empregos. Entre os 5.570 municípios brasileiros, São Paulo lidera o ranking dos 15 que mais contrataram entre janeiro e novembro, com a criação de 9.871 vagas formais. Outras quatro cidades paulistas estão na relação.
Joinville (SC), com 7.406 empregos gerados, é a vice-campeã. Outras três cidades catarinenses fazem parte das 15 que mais contrataram. Completam o ranking dois municípios de Goiás, entre eles Goiânia, dois de Minas Gerais, um de Mato Grosso e um do Rio Grande do Sul.
Entre as ocupações que mais geraram emprego, a pesquisa aponta alimentadores de linhas de produção, com abertura de 96.563 vagas. Na lista das cinco primeiras posições estão ainda vendedores e demonstradores em lojas ou mercados (47.494); escriturários, agentes, assistentes e auxiliares administrativos (41.163); trabalhadores nos serviços de manutenção de edificações (39.646); e trabalhadores agrícolas na fruticultura (30.073).
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Arte: CB |
Na outra ponta, as demissões atingiram principalmente trabalhadores da construção civil (-27.279); supervisores de serviços administrativos (-24.329); gerentes administrativos, financeiros e de riscos (-22.956); vigilantes e guardas de segurança (-17.972); e gerentes de marketing, comercialização e vendas (-16.141).
Responsável pelo levantamento, o especialista em mercado de trabalho Rodolfo Peres Torelly detalha que a geração de postos de trabalho se concentrou em ocupações de menor nível de qualificação, com salários menores. “As contratações se concentraram no chão de fábrica. Cargos gerenciais foram extintos diante da necessidade de ajuste das empresas ao nível de demanda”, avalia. “A tendência é de que 2018 seja melhor para a geração de emprego formal.” Entre os fatores que devem delinear um ambiente mais favorável para o mercado de trabalho, ele inclui as mudanças nas leis trabalhistas, como a flexibilização das normas para contratação e a extensão de até seis meses para emprego temporário.
Apesar do otimismo, Torelly explica que os números de 2017, ainda não fechados, devem terminar com número menor de vagas abertas do que no ano anterior, apesar dos resultados positivos de boa parte do período. Segundo ele, dezembro é historicamente um mês de demissões, com média de 500 mil postos formais encerrados. “Com isso, o Brasil deve terminar com saldo negativo de até 200 mil postos”, projeta.
Um entre milhões de desempregados do país, Carlos Silva, 23 anos, formou-se em Relações Internacionais, em 2016 e, desde então, procura uma vaga no mercado formal. Ele tem apostado em sites especializados em mão de obra, buscado indicações de amigos e parentes, além de entregar currículos pessoalmente. A principal barreira para a conquista do primeiro emprego, conta, é a exigência de experiência profissional. Segundo Silva, algumas empresas não consideram estágios como experiência e as vagas são disputadas por pessoas com melhor currículo. “E os processos seletivos, mesmo aqueles de trainee, não costumam ser transparentes e nem sempre dão uma resposta, deixando o candidato no escuro”, critica.
Formada em moda, Mohana Jensen, 25 anos, conseguiu emprego há um mês e meio como vendedora em uma loja de bolsas. Até encontrar essa vaga, por indicação de amigos, ela enviou o currículo para diversas lojas, mas recebeu poucos retornos. “Entrei em grupos de oferta e procura de empregos nas redes sociais, falei com amigos, enviei currículos nos e-mails de empresas, mas a demanda é muito grande para pouca oferta”, comenta.
Segundo Mohana, em consequência da alta concorrência, algumas pessoas começam a trabalhar em um setor diferente da formação profissional. “O mercado está em trânsito. Acredito que este seja um bom momento para investir em capacitação, de forma a abrir portas quando o mercado de trabalho tiver uma melhora mais notável”, completa.
Pequenos negócios lideram
Além de terem como característica principal o baixo nível de qualificação, os empregos gerados ao longo do ano passado estão concentrados em micro e pequenas empresas, ressalta o ex-diretor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Allan Costa, especialista da multiplataforma AAA.
Costa comenta que esse movimento tem relação com o processo de redução do endividamento das famílias. Com mais dinheiro no bolso, fruto do pagamento de dívidas e não de aumento salarial, elas aumentaram a capacidade de consumo. Com isso, indústrias com baixos estoques e capacidade ociosa passam a demandar mão de obra para suprir as lojas, que, por sua vez, abriram contratações.
O processo de recomposição de estoques justifica o fato de cidades como São Paulo (SP), Joinville (SC), Franca (SP), Blumenau (SC) e São José do Rio Preto (SP), com forte presença de fábricas, estarem entre as que mais geraram postos de trabalho, ressalta Costa.
Além disso, a pujança do agronegócio, que deve gerar nova supersafra de alimentos em 2018, é a razão de municípios como Goiânia (GO), Aparecida de Goiânia (GO), Sinop (MT) e Uberlândia (MG) completarem a listas dos que mais contrataram com carteira assinada.
O ex-diretor do Sebrae destaca que a tendência é que de 2018 seja um ano melhor para o mercado de trabalho. “No Brasil, quanto mais aguda é a crise, mais forte é a recuperação. Este ano e o próximo podem sinalizar um novo ciclo de prosperidade econômica. Agora é hora de se preparar. Quem está em busca de uma vaga deve estudar, fazer cursos, se qualificar, porque as vagas são surgir”, recomenda.
Na avaliação do economista Carlos Alberto Ramos, da Universidade de Brasília (UnB), a geração de empregos tende a crescer em 2018, diante da perspectiva de alta de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Ele adverte, entretanto, que a incerteza sobre o futuro tende a manter baixo o nível de investimentos, até que fique claro quem será o próximo presidente, e se as reformas para reequilibrar as contas públicas serão aprovadas pelo Congresso. Até lá, a geração de empregos estará relacionada ao suprimento da capacidade ociosa dos setores econômicos. “O desemprego também tende a cair diante da expansão do mercado informal. Os brasileiros têm sido criativos e se reinventado para garantir renda e manter as contas em dia”, afirma.(DP).
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