Ação conhecida como “Janeiro Roxo” amplia o rastreio da hanseníase, em uma parceria do Estado com os municípios
Por: Renata Coutinho
Teste de hanseníaseFoto: divulgação
Manchas na pele que se apresentam com alteração de sensibilidade. Esse é um sinal clássico de alerta para uma doença secular, mas ainda endêmica em vários países em desenvolvimento como o Brasil: a hanseníase. Popularmente conhecida como lepra, e provocada pelo bacilo Mycobacterium leprae, tem em média dois mil novos casos ao ano em Pernambuco. Além de pacientes adultos, ainda existem muitas crianças contaminadas, o que escancara que a hanseníasepermanece em atividade alta. Nos últimos cinco anos, mais de mil meninos e meninas foram diagnosticados. Para alertar sobre esses e outros aspectos da hanseníase, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) em conjunto com alguns municípios reforçou nesta última semana de janeiro ações de rastreio da hanseníase, ação conhecida por Janeiro Roxo.
A coordenadora de Controle da Hanseníase da SES, Monique Lira, comentou que Pernambuco é o 8º estado brasileiro com mais decretação de novos casos da doença quando se leva em conta a população em geral. Quando se observa apenas o público até os 15 anos de idade fica no 3º lugar nacional. “São as condições socioeconômicas e ambientais que favorecem a manutenção dessa cadeia, além da dificuldade do diagnóstico precoce e da avaliação dos contatos desse paciente”, explicou Monique sobre os fatores que acabam contribuindo para a manutenção da hanseníase. Mesmo com uma queda de cerca de 10% no aparecimento de novos casos entre 2017 e 2018, e redução de 30% no público infanto-juvenil, os números pernambucanos ainda estão longe do ideal, principalmente entre as crianças e adolescentes.
Entre os meninos e meninas, menores de 15 anos, o aceitável seria 0,50 caso por 100 mil habitantes, mas a realidade local é de nove casos para 100 mil habitantes. “Quando temos criança doente na população significa que a gente tem doença em atividade. A criança não transmite o agravo. Então, quando a gente tem uma criança com a doença temos um adulto transmitindo sem tratamento. Por isso, que este (o público infantil) é um indicador importantíssimo sobre transmissão”, contou Monique Lira. Os pequenos acabam não transmitindo a hanseníase porque a quantidade de bacilo que produzem é pequena. O Recife teve, no ano de 2018, 23 casos em menores de 15 anos, segundo a coordenadora do programa municipal de Hanseníase, Sâmmea Grangeiro.
A capital pernambucana lidera o número de casos com mais de 430 doentes novos no ano passado. “Nós concentramos ainda o maior número de casos pelo tamanho da população, que é bem maior que os outros municípios”, justificou a gestora. Sâmmea reforçou que, além do desafio de encontrar e tratar os contatos íntimos (com familiares e colegas de trabalho) do paciente triado inicialmente, outra guerra a ser vencida é a subnotificação. “Em muitos casos, o usuário não procura atendimento porque acha que aquela mancha, que não coça, não incomoda, não é nada”, disse. O medo do estigma social é outro fator que faz o paciente não aderir. Ela reforça que quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo a cura e menor a chance de sequela. O tratamento é ofertado pelo SUS.
Brasil
Em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 143 países reportaram 214.783 casos novos de hanseníase, o que representa uma taxa de detecção de 2,9 casos por 100 mil habitantes. No Brasil, no mesmo ano, foram 25.218 casos novos, perfazendo uma taxa de detecção de 12,2/100 mil habitantes. Esses parâmetros classificam o País como de alta carga para a hanseníase, sendo o segundo com o maior número de casos novos registrados no mundo.
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