Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia
No começo de 2003, pouco depois da posse, acompanhei Lula em sua primeira viagem internacional ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça.
Ali já deu para ter uma ideia da importância da sua eleição no Brasil.
Os principais líderes mundiais queriam falar com ele. Lula já conhecia a maioria das muitas viagens internacionais que fez antes de chegar a presidente.
Por três dias seguidos, havia fila para encontros bilaterais, almoços e jantares, não houve um momento de folga.
Na viagem de volta, ainda no velho Sucatão, paramos na França e na Alemanha.
Em Paris, Lula manteve longo encontro com Jacques Chirac, que morreu esta semana, um político conservador com quem ele tinha uma boa relação.
À noite, na embaixada do Brasil, encontrou os principais líderes da esquerda francesa.
Lula já era então um cidadão do mundo, que falava de igual para igual com governantes de qualquer espectro político.
Nesta época, o ex-capitão Jair Bolsonaro já era um irrelevante deputado do baixo clero, líder sindical dos militares, figura folclórica que pedia pena de morte para Fernando Henrique Cardoso, o antecessor de Lula.
Apenas 16 anos depois, quase nada na vida de um país, Jair Bolsonaro é presidente da República, após uma eleição fraudada, em que Lula foi impedido de concorrer pela Justiça da Lava Jato, com a ajuda do STF e do TSE.
E Lula, preso político há mais de 500 dias na República de Curitiba, continua recebendo em sua cela personalidades do mundo inteiro, que vêm ao Brasil para lhe prestar solidariedade.
Nesta terça-feira, o Conselho de Paris lhe outorgou o título de “cidadão de honra” da cidade e denunciou a farsa da sua condenação.
Desde 2001, apenas 17 cidadãos receberam este título, entre eles, Nelson Mandela, nenhum outro brasileiro.
Nenhuma autoridade do governo ousou se manifestar, a grande mídia brasileira esnobou solenemente a notícia, e bolsominions e tucanos descornados piraram nas redes sociais, desdenhando da honraria.
Um deles, o bolsominion-padrão chamado Luciano Hang, mais conhecido como “Véio da Havan”, contrafação de empresário e palhaço, que se veste de verde-amarelo em cerimonias oficiais, postou no Twitter uma mensagem que sintetiza a estupidez vigente no país.
O indigitado chama Paris, uma das mais importantes capitais mundiais de “cidade decadente, sujeira para todos os lados”, por ter dado a honraria a Lula, “um presidiário que não pode receber o título”.
É difícil para um estrangeiro entender como Lula, Bolsonaro, seu ministério e o “Véio da Havan” possam ter nascido no mesmo país.
Mas esse é o Brasil de hoje, onde convivem um cidadão do mundo, que está preso, e boçais empoderados, que estão soltos por aí, destruindo o país.
Em carta ao Conselho de Paris, Lula afirma que a iniciativa “será mais uma vez de inestimável valia, para furar o muro de silêncio da mídia brasileira para denunciar ao mundo os crimes que estão sendo cometidos contra a democracia em nosso país”.
Tudo é tão absurdo, tão vergonhoso, tão inacreditável, que me pergunto se este lado do Brasil inerte e cúmplice não merece ser governado pela aberração bolsonariana, que leva para o palanque oficial um “Véio da Havan” saltitante, símbolo de um país que se degradou diante do mundo, na mesma tribuna da ONU onde Lula foi consagrado líder mundial, faz tão pouco tempo.
Será que vivemos mesmo todos no mesmo país? Não será um pesadelo? Ninguém merece isso. (247)
Viva Lula, chega de barbárie!
Vida que segue.
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