O clima de desconfiança instalado no governo acerca do protagonismo do vice-presidente Jair Bolsonaro ganhou contornos explícitos com a internação prolongada do presidente Jair Bolsonaro. A desconfiança, estimulada por aliados e familiares, levou Bolsonaro a reassumir o cargo 48 horas após a cirurgia, em uma tentativa de barrar as iniciativas de Mourão. Nesta linha, o prolongamento da internação e a resistência do núcleo bolsonarista em ter Mourão à frente do governo têm travado o andamento de pontos considerados fundamentais para o Planalto, como a reforma da Previdência, a edição da medida provisória sobre o recadastramento de armas de fogo e o acordo sobre a cessão onerosa do excedente produzido pela Petrobrás.
Reportagem das jornalistas
Andrea Jubé e Carla Araújo, do jornal Valor Econômico, destaca que "a palavra de ordem entre ministros palacianos durante o afastamento de Bolsonaro é silêncio. Num governo sem voz, o general Mourão, de personalidade expansiva, mostrou-se aberto à imprensa e disposto a repercutir os fatos relevantes do país. No entanto, foi pressionado a se conter. Ele suspendeu, por exemplo, uma rodada de entrevistas que concederia a veículos estrangeiros, e tem falado menos com jornalistas que o aguardam na saída do gabinete".
Bolsonaro continua com a saúde debilitada, alimentando-se com o auxílio de uma sonda nasogástrica e internado na Unidade de Terapia Semi-Intensiva do Hospital Albert Eistein e sem previsão de alta. As visitas também estão restritas, o que criou complicações nas discussões sobre os rumos do governo.
"A previsão inicial no dia 30 de janeiro, quando Bolsonaro teve alta médica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), era de que despachasse com ministros no escritório montado nas dependências do hospital. Os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, do Meio Ambiente, Ricardo Salles estavam nessa agenda, que acabou sendo cancelada", destaca a reportagem do Valor Econômico.
Diante das dificuldades e do estado de saúde de Bolsonaro, o porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, chegou a informar que o presidente iria tratar dos assuntos do governo por meio de aplicativos de mensagens via celular.
Em paralelo, Mourão construiu boas relações com a imprensa, alvo constante do núcleo duro do governo e da família Bolsonaro, e deu uma série de declarações consideradas polêmicas referentes ao 13º salário e sobre famílias de mães solteiras.
Mourão também defendeu, por razões humanitárias", que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pudesse deixar o cárcere da Polícia Federal em Curitiba, onde é mantido preso por razões políticas, para comparecer ao funeral do irmão Genival Inácio da Silva. "Ontem, ao receber representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, para falar sobre a reforma da Previdência, ponderou que isso era "democracia", ressalta o texto da reportagem.
Para evitar desgastes, as críticas contra o general acabaram sendo terceirizadas. Os ataques mais pesados vieram do guru da família Bolsonaro, o filósofo Olavo de Carvalho. Olavo, que indicou dois ministros para o governo, o chanceler Ernesto Araújo e o da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, afirmou que Mourão era um "charlatão desprezível" e que estava tramando um golpe contra o presidente. Nesta quarta-feira (6), Steve Bannon, ex-estrategista do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, disse que Mourão "pisa fora da linha", além de ser uma pessoa "desagradável. Ele também afirmou que Bolsonaro foi sábio ao não atribuir responsabilidades ao vice.(247)
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