Especialistas alertam para a necessidade de conscientizar os pais sobre os riscos enfrentados pelos jovens em ambientes muito barulhentos
É de conhecimento geral que estar exposto a 100 decibéis por horas não é adequado para a saúde auditiva. No entanto, pouco se sabe que, para as crianças, a situação é muito mais delicada: do ruído dos carros ao barulho da televisão ou dos brinquedos, alguns sons podem afetar permanentemente suas capacidades auditivas.
Essa é a advertência da Academia Americana de Pediatria em uma revisão científica publicada na revista “Pediatrics”. O risco para as crianças é maior do que para os adultos devido às diferenças na anatomia do ouvido externo. Quanto menor o canal, maior será a intensidade das frequências mais altas: ao nascer, é de cerca de seis quilociclos, e diminui para três no segundo ano de vida, quando atinge os valores dos adultos.
“Até mesmo pequenas quantidades de perda auditiva podem ter efeitos profundos e negativos na fala, compreensão da linguagem, comunicação, aprendizado em sala de aula e desenvolvimento social”, destacam os autores do relatório. Outro estudo publicado pela JAMA Otolaryngology calcula que um em cada seis adolescentes americanos tem problemas de audição.
Os autores reconhecem que é necessário investigar mais a fundo a ligação entre a exposição ao ruído e a perda precoce de audição, embora insistam na necessidade, por parte dos pediatras, de conscientizar sobre a importância da prevenção.
Segundo Luis Lassaletta, presidente da comissão de Otologia da Sociedade Espanhola de Otorrinolaringologia, “a audição que perdemos é impossível de ser recuperada”, o que faz com que seja “importante evitar, na medida do possível, situações que possam prejudicar nossos ouvidos”. O médico, que não participou do estudo, afirmou ainda que a idade em que os problemas começam a surgir está diminuindo.
–A perda de audição que costumava ser assumida aos 70-80 anos, agora começa aos 50-60 – disse ele.
De fato, 23,8% dos jovens que usam dispositivos de áudio pessoais em intensidade elevada ou frequentam locais de entretenimento com música alta correm o risco de sofrer algum tipo de surdez ou dano auditivo, de acordo com um estudo da revista British Medical Journal Global Health. Muitos desses aparelhos já têm integrado um sistema de alerta que avisa os usuários que estão excedendo o limite recomendado.
É possível, ainda, ativar uma opção que reduz os sons que ultrapassam os 80 decibéis, que muitos estudos identificam como a máxima intensidade que o ouvido deve suportar. Para Lassaletta, “se você precisar tirar os fones de ouvido para ouvir o que as pessoas estão dizendo, significa que o volume está muito alto”.
“É importante lembrar que a exposição ao ruído não envolve apenas a intensidade, mas também a duração e a frequência”, enfatizam os autores. Além disso, também é preciso prestar atenção aosambientes escolares: é essencial adotar medidas para garantir qe os 35 decibéis não sejam excedidos durante pelo menos 80% do tempo.
– Assim que você percebe o quão barulhentos os lugares supostamente adequados para crianças podem ser, é difícil ignorar o que seus próprios ouvidos estão dizendo: está muito alto, por favor, abaixe o volume – aconselha Reilly.
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