Pernambuco completa, nesta quinta-feira (18), um mês de campanha de vacinação contra a Covid-19. Desde a noite de 18 de janeiro, quando a técnica de enfermagem Perpétua do Socorro Barbosa dos Santos se tornou a primeira pernambucana vacinada no Estado, já foram aplicadas 286.386 doses - sendo 52.376 pessoas com o esquema vacinal completo, aquelas que tomaram a segunda dose.
O número representa cerca de 56% das doses já recebidas pelo Estado a partir do repasse do Ministério da Saúde. Durante a campanha, chegaram 427.560 doses da CoronaVac, vacina da parceria Sinovac/Butantan, e outras 84 mil doses do imunizante de Oxford/AstraZeneca. Em todo o Brasil, já foram aplicadas mais de 5,9 milhões de doses - das quais, mais de 620 mil são de segunda dose.
Na próxima semana, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), devem chegar a Pernambuco cerca de 400 mil doses das duas vacinas já aprovadas e em uso no Brasil. É o que foi sinalizado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
“É importante que as vacinas cheguem o mais breve possível, para que possamos concluir o processo de imunização dos grupos prioritários e avançar para outros grupos e faixas etárias. O nosso sistema de saúde já tem uma logística pronta e eficiente, montada para distribuir as vacinas para todas as regiões de forma rápida, a partir do momento da chegada dos lotes ao Estado”, afirmou o governador Paulo Câmara.
Para a sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz em Pernambuco (Fiocruz/PE) Tereza Lyra, o País, como um todo, não investiu nas vacinas e a campanha de imunização não foi conduzida da melhor forma possível.
"Quando chegaram as vacinas e estava eclodindo o caso de Manaus, o que devia ter sido feito é um bloqueio lá para evitar a circulação da nova cepa. Estamos numa escassez. Foi correto definir grupos prioritários", pontuou.
Tereza ressalta as questões burocráticas para o recebimento das doses. Segundo ela, idosos que vivem na periferia, por exemplo, deixaram de ser vacinados por causa do acesso aos sistemas de cadastro.
"Não podemos burocratizar um direito numa situação de crise tão grande. A vacina deveria estar sendo aplicada como sempre foi: nos postos, com equipes de saúde da família", acrescentou.
Por fim, a pesquisadora defende que outras estratégias poderiam ter sido definidas, como a prioridade a partir do cenário epidemiológico das regiões e não apenas idade ou profissão.
"Se onde tenho mais casos, vacino mais pessoas, diminuo a circulação do vírus, casos graves e de mortes. Se a vacina evita casos graves e mortes, eu deixo de sufocar o sistema de saúde e as pessoas deixam de morrer. É isso que a gente espera de uma campanha de vacinação bem feita", concluiu Tereza.
O médico infectologista Gabriel Serrano afirma que a campanha no Estado está num ritmo bom para aquilo que recebe do Governo Federal.
"Temos vacina, mas não temos vacinação. Não temos um protocolo bem estabelecido. Vem faltando planejamento. O SUS é tripartite, tem a função do Estado, do município e da União. A questão das vacinas é do Governo Federal", disse.
Gabriel acrescenta que a principal crítica de como a campanha de vacinação vem sendo conduzida é em relação à distribuição das doses.
"Recebemos vacina e a gente sabia que ia receber há meses. Para mim, devia ter havido um cadastro e uma melhor especificação de quem tomaria em qual momento. Tivemos que fazer subestratificações", completou o infectologista.
Para a vacinação começar a ter impacto na transmissão do vírus dentro do Estado, é preciso aumentar o número de pessoas imunizadas. "Temos pouca gente com anticorpos sem ter sido infectada. Quanto mais se demora, mais vírus circula", finalizou Gabriel Serrano.
O Estado tem tendência de estabilidade da doença, mas com viés de alta e patamares elevados. Na semana epidemiológica 06, foram registrados 732 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), total que representa 21 notificações a mais do que na semana 05, quando foram contabilizados 711 casos.
Nas solicitações de leitos de UTI, a SES-PE registrou um aumento de 20% nos pedidos entre as semanas 06 e 05. Já em relação aos leitos de enfermaria, o crescimento no número de solicitações por vagas foi de 14,3% no mesmo período. (Por Fabio Nóbrega).