sábado, 12 de maio de 2018

Desistência de Lula seria suicídio político

Ricardo Stuckert

Cresce a pressão de setores da esquerda para que Lula desista de concorrer à Presidência da República nas eleições deste ano e escolha logo Ciro Gomes como seu substituto. Diante da resistência de petistas ao nome do ex-governador cearense, porém, uma reação natural às suas inoportunas declarações hostis a Lula e ao Partido dos Trabalhadores, aparentemente esses setores estão preocupados com uma possível divisão da esquerda, o que, para eles, poderia facilitar a vitória de um candidato da direita. E já lançam antecipadamente nas costas do PT a culpa pela hipotética divisão, por sua determinação em manter a candidatura de Lula mesmo atrás das grades. Por conta disso, a presidenta do partido, senadora Gleisi Hoffman, vem sendo duramente criticada. Ela justifica, porém, a sua posição, dizendo: "Se Lula é inocente, se a maioria do povo quer votar nele, se à luz da Constituição seus direitos políticos estão assegurados, por que razão deixaríamos de apresentá-lo como candidato?" Para ela, uma eleição sem Lula "seria fazer o jogo dos seus algozes".
A senadora paranaense, na verdade, está certa em sua posição, porque o momento não é de descartar o ex-presidente, que é o líder nas pesquisas de intenção de votos com uma larga margem sobre o segundo colocado, mas de cerrar fileiras em torno da sua libertação. Enquanto a situação eleitoral de Lula não for legalmente definida, escolher um nome agora para substitui-lo na corrida sucessória seria admitir a legalidade da sua prisão, mesmo sem ter praticado nenhum crime. O próprio Lula, aliás, em carta à presidenta do partido, confirmou que não abre mão da sua candidatura, argumentando que ao "aceitar a idéia de não ser candidato estarei assumindo que cometi um crime". E acrescentou: "Não cometi nenhum crime. Por isso, sou candidato até que a verdade apareça e que a mídia, juízes e procuradores mostrem o crime que cometi ou parem de mentir". Por sua vez, o presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, disse que "a esquerda ficará isolada se não defender a liberdade de Lula e o seu direito de ser candidato".
Percebe-se, sem muita dificuldade, uma grande pressão de simpatizantes de Ciro para que ele seja escolhido sem demora pelo ex-presidente para substitui-lo na corrida sucessória, pois entendem que a inelegibilidade do líder petista já está decidida, sem chances de reversão. Ou seja, esse pessoal que defende a candidatura do ex-ministro não está se importando se Lula continuará preso ou não. Desde que transfira seus votos para Ciro, garantindo a sua eleição, pode apodrecer no cárcere, até porque depois que fizer a indicação ninguém mais estará preocupado com o seu destino, a não ser os petistas. Ele será esquecido porque, deixando de ser uma ameaça aos golpistas, não terá mais a menor importância se estiver na prisão ou fora dela. Certamente por isso o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, foi bastante claro quando disse recentemente que "se desistir de concorrer Lula poderá ficar livre".
Só um cego não vê que essa grande farsa do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e do combate à corrupção pela Operação Lava-Jato, com a conivência do Supremo Tribunal Federal, teve como objetivo precisamente impedir Lula de voltar ao Palácio do Planalto, pois ele não atende aos interesses dos norte-americanos e da elite brasileira. Se, logo no inicio da perseguição de que foi vítima, tivesse declarado que não pretendia concorrer às eleições presidenciais deste ano, provavelmente hoje não estaria preso. Por que ele não ganha um recurso em nenhuma instância do Judiciário? Na verdade, todo mundo sabe, inclusive os ministros da Suprema Corte, que não existe nenhum fundamento jurídico para a sua condenação e prisão, esta considerada "esdrúxula" pelo decano da Corte, mas ninguém vota pela sua liberdade. Todo mundo sabe que o crime de que é acusado não existe, mas mesmo assim o Tribunal Regional Federal da 4ª. Região, além de confirmar a sua condenação, ainda ampliou a pena única e exclusivamente para evitar a sua prescrição. Os magistrados perderam o pudor para assegurar que Lula seja banido da vida pública.
Ainda existem três recursos da sua defesa pedindo a sua libertação, mas ninguém precisa ser profeta para saber que todos serão negados, o que significa que pretendem mantê-lo preso pelo menos até as eleições. Diante dessa perspectiva ele deve manter a sua candidatura até o último minuto, porque desistir agora seria um enorme erro, quase suicídio político. E para manter-se vivo politicamente precisa indicar alguém confiável, que possa executar o seu programa de governo e expandir o seu pensamento, nunca quem se declara não ser "puxadinho do PT" e que "não cumpre a sua agenda". Ciro sem dúvida seria o possível herdeiro dos seus votos se não tivesse feito a burrice de agredir gratuitamente o PT e o próprio Lula. E continua batendo no ex-presidente ao dizer, em recente entrevista à apresentadora Godoy, que foi ele, Lula, quem nomeou Geddel e Eduardo Cunha. Ciro, na verdade, não é confiável, até por suas ligações afetivas e históricas com os tucanos: ele participou, inclusive, da reunião de cúpula do PSDB que definiu Fernando Henrique como candidato à sucessão de Itamar Franco.
Lula não precisa ter pressa para indicar o seu substituto, pois a estrutura jurídico-midiática que foi montada para impedi-lo de voltar à Presidência da República se voltará, imediatamente, contra o nome escolhido, com denúncias e ações espalhafatosas da Policia Federal. Basta observar o que aconteceu contra Jacques Wagner e Fernando Haddad: a simples citação do nome deles como possíveis substitutos de Lula na sucessão presidencial foi suficiente para a deflagração de ações policiais contra ambos. Enquanto isso, os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alkmin são premiados, o senador com a remessa dos seus inquéritos do STF para a primeira instância em Minas Gerais onde deverão percorrer o mesmo demorado caminho trilhado por Azeredo, e o ex-governador paulista blindado pelo procurador geral de São Paulo, Gianpaolo Smanio, nomeado por ele para o cargo. A obsessão em banir do cenário político o maior líder popular do país fez todo mundo perder o pudor. Ninguém mais do Judiciário se preocupa em esconder as lambanças.(247).


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