A conversa mais frequente nos últimos dias, nos círculos progressistas, diz respeito à chamada "unidade das esquerdas". Muita gente boa, quase sempre bem intencionada, tem usado argumentos razoáveis para defender que os quatro principais partidos desse campo – PT, PDT, Psol e PCdoB – construam uma aliança já para o primeiro turno. A inviabilidade da proposta, no entanto, esbarra numa realidade concreta. Neste momento, os dois principais candidatos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o pedetista Ciro Gomes, disputam uma única vaga no segundo turno.
Quem deixou isso claro foi o próprio Lula, numa carta enviada à senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em que afirmou que os que pregam a sua desistência são, na verdade, concorrentes. Ao usar esta palavra, ele mandou um recado direto para Ciro, que tem feito movimentos para isolar o petismo e, efetivamente, com algum sucesso. Na última semana, ele ganhou espaço com a desistência de Joaquim Barbosa, do PSB, e recebeu sinalizações positivas vindas do PCdoB, tradicional aliado do PT. Sinais que partiram tanto por parte do governador maranhense Flávio Dino, como da própria candidata Manuela D'Ávila.
De certa forma, Ciro tenta repetir a fórmula de sucesso de Lula em 2002, com alianças em torno de um projeto desenvolvimentista, no momento em que a economia anda de lado com o fracasso da política econômica de Michel Temer e Henrique Meirelles. Não por acaso, Ciro, tal qual o "Lulinha paz e amor", busca um empresário para ser seu vice, seja ele Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar, ou Benjamin Steinbruch, da CSN. A vantagem competitiva de Ciro em relação a Lula é a percepção, em alguns setores da esquerda, de que em algum momento Lula será impedido e, por isso mesmo, será necessário buscar uma saída pragmática.
O PT, no entanto, ensaia os primeiros movimentos de uma reação. De um lado, cresce a possibilidade de que seja escolhido um vice no próprio partido, que leve a mensagem de Lula aos quatro cantos do País. Um nome que ganhou força na semana passada foi o do embaixador Celso Amorim. Em paralelo, o ex-prefeito Fernando Haddad irá percorrer estados do Nordeste, em busca de contribuições para a construção do programa de governo de Lula. Ou seja: claramente, o PT decidiu manter uma estratégia já traçada e tornada pública. Trata-se de registrar a candidatura em 15 de agosto e pagar para ver se o golpismo cometerá um novo atentado contra a democracia brasileira, cassando os direitos políticos de Lula – o que fere a lei eleitoral.
O fato de Lula e Ciro serem concorrentes não significa, no entanto, que não seja possível um encontro entre essas duas forças mais adiante, possivelmente no segundo turno. O que não acontecerá, neste momento, será uma desistência forçada de Lula por pressão do PDT ou de partidos do campo progressista.(247).
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