(C.Geral)
Já consagrada como a maior festa do Sertão pernambucano, unindo, de forma única, o sagrado e o profano, e preservando assim as tradições, a cultura e a fé do povo sertanejo, a 48ª edição da Missa do Vaqueiro de Serrita, localizada a 544 km de distância do Recife.
O evento será realizado entre os dias 19 e 22 de julho, com uma missa em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó no último dia, tradicionalmente um domingo.
Na grade musical, nomes como Fulô de Mandacaru, Banda Magníficos, Josildo Sá e Coral Aboios. Ao todo, 12 atrações se apresentam, gratuitamente, no Parque Estadual João Câncio, no Sítio Lajes. Mais de 50 mil pessoas são esperadas durante a festa, que ainda promove diversas atividades culturais ligadas ao ofício do vaqueiro, como vaquejada, pega de boi, rodas de forró com sanfoneiros e apresentações de aboiadores e repentistas. O escritor Nelson Barbalho, um dos principais nomes da literatura e da história de Caruaru, será o homenageado (in memorian) desta edição. A escolha, segundo Helena Câncio, que comanda a organização do evento, é uma forma de celebrar o centenário do escritor que é o autor da música “A Morte do Vaqueiro” (tengo lengo tengo lengo tengo), eternizada na voz de Luiz Gonzaga e feita em homenagem à morte do vaqueiro Raimundo Jacó, primo de Gonzagão
A programação musical começa nesta quinta-feira (19), no distrito de Ipueira, com show de Epitácio Pessoa, músico nascido em Exu, terra de Luiz Gonzaga, sendo declaradamente um discípulo do Rei do Baião. Ele, que tocou durante anos com o mestre e hoje mantém viva sua herança, promete um show regado a muito forró pé de serra. Ipueira entra no roteiro da Missa pela interessante história do povoado, que já foi palco de um embate entre a família Xavier, tradicional na região, e o grupo de Lampião.
Na sexta-feira (20), é a vez de Donizete Batista, que será seguido pelos músicos Galego do Pajeú, Fábio Carneirinho, Ranieri e a Banda Arreio de Ouro. No palco secundário, intitulado de “Tenda”, um espaço destinado aos aboiadores, repentistas e trios de forró, o cantor Cosme do Acordeon abre a programação musical do dia. Vale ressaltar que o espaço ainda dá oportunidade para que artistas presentes na plateia possam participar das atividades. Uma vaquejada completa a programação da sexta.
No sábado (21) o público poderá conferir as atrações musicais mais esperadas da festa. Após Kinho Ramalho se apresentar na “Tenda”, é a vez do Coral Aboios subir ao palco principal do evento, no que já virou uma tradição da Missa do Vaqueiro. O coral, fundado há aproximadamente 18 anos, é formado por amigos, vaqueiros, que se apresentam vestidos a caráter, com a intenção de exaltar a vida e o ofício do vaqueiro. E a festa não para por aí, depois se apresentam Joquinha Gonzaga, o cantor Flávio Leandro e as grandes atrações da festa, a Banda Fulô de Mandacaru, que foi a grande campeã do Programa SuperStar, da Rede Globo, em 2016, ficando conhecida por levar o autêntico forró para todo o Brasil, e a Banda Magníficos, uma das maiores bandas de forró eletrônico do País, com mais de 20 anos de estrada e diversos sucessos na bagagem. No sábado ainda acontece mais uma vaquejada e a pega de boi de pé de porteira, na Fazenda Favinha, com distribuição de troféus e premiação total de R$ 10.000, sendo R$ 1 mil para o primeiro colocado.
A tradicional missa em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó, cuja morte deu o mote para a criação do evento, acontece no domingo (22). Para a celebração e homenagens, participam do momento representantes religiosos e artistas, como Josildo Sá, Coral Aboios, Flávio Leandro, Mariana Aydar, os aboiadores Ronaldo, Fernando e Inácio e o repentista Pedro Bandeira.
Uma das novidades deste ano é que a infraestrutura do evento recebeu diversas melhorias para atender com mais conforto as milhares de pessoas que anualmente saem de suas cidades natal, em Pernambuco e em outros estados nordestinos, para prestigiar a tradicional festa. Inclusive, diversas caravanas, com integrantes que não perdem uma edição da Missa, já confirmaram presença no evento.
A Missa do Vaqueiro de Serrita é uma realização da Associação Rebanho Cultural, conta com patrocínio da Empetur e do Governo do Estado de Pernambuco. Entre os apoiadores, a Prefeitura de Serrita, a Fundação Padre João Câncio, Apega (Associação dos Vaqueiros de Pega de Boi), Santa Clara, Frisco e Associação Lula Gonzaga dos Forrozeiros do Brasil.
Sobre a história da Missa – Realizada anualmente sempre no quarto domingo do mês de julho, a Missa do Vaqueiro tem em suas origens uma história que foi consagrada na voz de Luiz Gonzaga: a de Raimundo Jacó, um vaqueiro habilidoso na arte de aboiar. Reza a lenda que seu canto atraía o gado, mas atraía também a inveja de seus colegas de profissão, fato que culminou em sua morte numa emboscada. O fiel companheiro do vaqueiro na aboiada, um cachorro, velou o corpo do dono dia e noite, até morrer de fome e sede.
A história de coragem se transformou num mito do Sertão e três anos após o trágico fim, sua vida foi imortalizada pelo canto de Luiz Gonzaga. O Rei do Baião, que era primo de Jacó, transformou “A Morte do Vaqueiro” numa das mais conhecidas e emocionantes canções brasileiras. Mas Gonzaga queria mais. Dessa forma, ele se juntou a João Câncio dos Santos – padre que ao ver a pobreza e as injustiças cometidas contra os sertanejos passou a pregar a palavra de Deus vestido de gibão – para fazer do caso de Jacó o mote para o ofício do vaqueiro e para a celebração da coragem
Assim, em 1970, o Sítio Lajes, em Serrita, onde o corpo de Jacó foi encontrado, recebe a primeira Missa do Vaqueiro. De acordo com a tradição, o início da celebração é dado com uma procissão de mil vaqueiros a cavalo, que levam, em honras a Raimundo Jacó, oferendas – como chapéu de couro, chicotes e berrantes – ao altar de pedra rústica em formato de ferradura.
A missa, uma verdadeira romaria de renovação da fé, acontece sempre ao ar livre e se assemelha bastante aos rituais católicos, porém contando com toques especiais que caracterizam o evento: no lugar da hóstia, os vaqueiros comungam com farinha de mandioca, rapadura e queijo, todos montados a cavalo.(Robério Sá)
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