O strike promovido pelo ministro Luis Roberto Barroso e pela procuradora-geral Raquel Dodge no entorno de Michel Temer foi devastador. Numa só tacada, foram presos José Yunes, parceiro imobiliário de Temer há décadas, o coronel Lima, tesoureiro informal da família, Wagner Rossi, operador político do MDB, e empresários do setor portuário. Dada a intensidade da ação, é óbvio que Temer será alvo de uma terceira denúncia da PGR. E, desta vez, o quadro é bem diferente daquele que havia nas duas denúncias anteriores, quando o Palácio do Planalto conseguiu comprar o apoio de parlamentares.
Agora, a nova denúncia é quase um presente que cai dos céus para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e para os deputados. Maia é pré-candidato à presidência da República e só terá alguma chance se estiver no cargo, com a caneta nas mãos. Para os parlamentares, que buscam a reeleição, nada melhor do que se reconciliar com os eleitores afastando um governante rejeitado por mais de 90% da população. Ou seja: Temer já não tem mais nada a oferecer. Perdeu completamente a serventia para as forças econômicas que lideraram o golpe de 2016 e até para os deputados que a ele se venderam.
Dadas essas premissas, o cenário mais provável é que Temer seja substituído por Rodrigo Maia. Com isso, o golpe, que até agora foi incapaz de viabilizar uma candidatura competitiva, dada a fragilidade de Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles, poderá se reaglutinar em torno do presidente da Câmara. A tendência é que, nos próximos meses, o Brasil seja bombardeado com maior campanha de propaganda em torno dos atributos de Maia, para que ele possa se viabilizar.
Diferentemente de Temer, que abraçou a agenda liberal apenas por conveniência, porque essa era a precondição para que chegasse ao cargo usurpado da presidente Dilma Rousseff, Maia é um neoliberal convicto. Acredita no estado mínimo, na agenda das privatizações, nas reformas, no congelamento dos gastos e em toda essa agenda imposta ao País contra a vontade popular. O desafio que será dado a ele e a seus marqueteiro será convencer a população brasileira de que a agenda neoliberal, derrotada nas últimas quatro eleições, merece uma chance na urna.
Com isso, os golpistas buscam uma saída para uma eleição que, pelo andar da carruagem, se encaminha para uma disputa polarizada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ou seu eventual substituito) e o deputado Jair Bolsonaro. Temer havia se tornado uma mala pesada demais para ser carregada. Maia talvez seja mais leve. No entanto, caso não decole, uma hipótese que não pode ser descartada é o do cancelamento das eleições, uma vez que o Brasil não foi alvo de uma guerra tão intensa, que envolve bilionários interesses internacionais, para que o poder fosse devolvido a Lula. Ou seja: a democracia exigirá muita luta e resistência. (247).
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