Após a segunda-feira tempestuosa em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, trocou seis ministros, a tarde desta terça começa com a demissão coletiva dos três comandantes das Forças Armadas: Edson Leal Pujol, do Exército; Ilques Barbosa, da Marinha; e Antônio Carlos Bermudez, da Aeronáutica, reagiram à intempestiva “reforma ministerial” do chefe do governo que “queimou” o até então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, muito respeitado na força que comanda. Os comandantes anunciaram sua decisão após reunião com o novo titular da Defesa, general Braga Netto.
Segundo inúmeras informações de Brasília, a recusa de Azevedo e Silva de apoiar explicitamente a intenção de Bolsonaro de endurecer contra os governadores na decretação de lockdowns motivou a demissão do general. O presidente teria pedido a cabeça de Pujol, por considera-lo fraco, e ficado furioso com a negativa do ex-ministro da Defesa.
O ato dos três comandantes é inédito na história brasileira. Eles deixam claro, com o gesto, que não têm a menor intenção de ultrapassar as linhas do Estado democrático de direito e violar a Constituição, que é o sonho de Bolsonaro. Em abril de 2016, ao votar pelo impeachment de Dilma Roousseff, o atual presidente da República votou “pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, o que foi considerado “estarrecedor” por políticos e ativista dos direitos humanos.
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A demissão de Azevedo e Silva provocou uma crise de Bolsonaro com a área militar que deve enfraquecê-lo ainda mais. O presidente está acuado. Ele tem hoje justamente o apoio parte de uma base militar (incluindo as PMs), um pequeno segmento da área empresarial, os defensores de armamento e evangélicos fundamentalistas. A crise armada com a caserna enfraquece sua relação com as Forças Armadas, cujo respeito à hierarquia é basilar.
Segundo O Estado de S. Paulo, a reunião entre os três comandantes e Braga Netto e foi tensa. Ilques Barbosa, da Marinha, teria sido o mais exaltado, “com reações que beiraram à insubordinação, conforme relatos de presentes”, relata o jornal.
“Insano desonrou a farda”
“Está chegando ou já chegou a hora de as Forças Armadas decidirem se embarcam na aventura golpista de um insano que inclusive desonrou a farda ou se ficam com a Constituição e a democracia”, postou o ex-presidente da OAB-RJ Wadih Damous, no Twitter.