Em seu editorial deste
sábado, a Globo, peça central dos golpes de 1964 e 2016, e também na crise que
levou ao suicídio de Getúlio Vargas, deixa claro que fará de tudo para impedir
a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera todas as
pesquisas eleitorais, ao poder.
Confira abaixo:
Cerco de depoimentos confirma Lula como o chefe
O tamanho do petrolão mostrou que era impossível o então
presidente não saber do esquema
No escândalo do mensalão, denunciado em 2005, faltou uma peça, o
chefe do esquema. No encaminhamento das denúncias pelo MP contra aquela
“organização criminosa”, o ex-ministro José Dirceu parecia caminhar para este
patíbulo, em silêncio como disciplinado militante, mas, em julgamento de
recurso, a responsabilidade de ser o capo do esquema lhe foi tirada, e o espaço
ficou vago. Mas apenas nos autos processuais, porque nunca fez sentido tudo
aquilo acontecer sem a aprovação e o acompanhamento de alguém centralizador e
vertical como Luiz Inácio Lula da Silva.
O surgimento do petrolão — construído paralelamente ao mensalão,
com muitos zeros a mais — foi a estridente evidência de que Lula não podia
desconhecer aquilo tudo. A leitura benevolente do mensalão era que desfalques
no Banco do Brasil, dados pelo militante Henrique Pizzolato, mancomunado com
Marcos Valério, se justificavam pela “causa”. O partido tinha um projeto de
poder longevo, para “acabar com a pobreza e a miséria”. Não serve de atenuante
na Justiça criminal, mas aliviava a culpa moral de petistas, com injeções de
ideologia.
O enredo, porém, não fechava. Dirceu voava em jatinhos
particulares, morava em condomínio de alto padrão. E este lado “burguês” do
lulopetismo — já detectado por Golbery do Couto e Silva, na década de 70,
segundo Emílio Odebrecht — precisava ser custeado.
Ficou, então, tudo misturado: dinheiro surrupiado de estatais
aparelhadas por companheiros, e drenado por meio de conhecidas empreiteiras e
seus contratos superfaturados, parte para campanhas petistas e de aliados,
parte desviada para bolsos privados de comissários. A “causa” continuava
presente — era preciso manter uma grande bancada no Congresso, como já
conseguira a Arena/PDS na década de 70, para sustentar a ditadura com fachada
de democracia representativa. Mas, desta vez, havia Lula de ego nas alturas,
chamado de “o cara” por Obama, com o desejo de ter sítio em Atibaia, tríplex no
Guarujá, um instituto para ajudar países subdesenvolvidos a superar a pobreza,
também uma adega bem abastecida etc.
O efeito da videoteca das delações da Odebrecht e da decisão de
Léo Pinheiro, da OAS, construtora do prédio do tríplex, de fazer delação
premiada na Lava-Jato, foi desmontar o jogo de espelhos que Lula, advogados e
militância manipulada ainda tentam jogar, e continuarão insistindo. Só fé de
religioso sectário para continuar a acreditar. Virou, há tempos, questão de
dogma.
Lula tem quase nada em seu nome. Usufrui do patrimônio de amigos
e compadres, o advogado Roberto Teixeira o principal deles. A quem Lula indicou
para a Odebrecht, a fim de idealizar uma fraude contratual com a finalidade de
esconder que a empreiteira gastara bem mais que R$ 500 mil, o orçamento
inicial, na reforma do sítio de Atibaia, a pedido da ainda primeira-dama Marisa
Letícia, segundo delação da empreiteira.
O GLOBO revelou o tríplex do Guarujá em 2010. Veio uma contínua
avalanche de desmentidos, alguns arrogantes e agressivos. Mesmo com o vídeo em
que Léo Pinheiro mostrava o imóvel ao ainda presidente da República. O casal
Luiz Inácio e Marisa pediu obras, devidamente executadas. Depois, foi dito que
a OAS era a real proprietária do imóvel.
Na verdade, era mesmo de Lula e família, acaba de confirmar Léo
Pinheiro, perante o juiz Sérgio Moro. E também coube à OAS parte da reforma do
sítio em Atibaia, executada, em maior proporção, pela Odebrecht. As cozinhas
modeladas do sítio e do tríplex do Guarujá foram compradas no mesmo
lugar.
Tanto a empreiteira multinacional Odebrecht quanto a OAS, ambas
fundadas na Bahia, utilizaram o mesmo sistema contábil: o custo de reformas em
imóveis para Lula e outras despesas pessoais dele foram debitadas de propinas
arrecadadas em estatais, por meio de contratos superfaturados. Ou seja,
dinheiro público também elevando o padrão de vida de Lula, família e outros
lulopetistas, por certo.
Os depoimentos que foram divulgados nos últimos dias da
Odebrecht e agora de Léo Pinheiro não surpreendem pelos fatos em si, muitos
deles já ventilados, mas pela dimensão do esquema, pela riqueza de detalhes
sórdidos na forma como os governos Lula e Dilma foram corrompidos e também
corromperam. Não há inocentes na história. Seja em nome da “causa” ou da boa
vida.
O desnudamento de Lula em carne e osso, em praça pública, com os
pecados da baixa política brasileira, parece apenas começar. Afinal, não se
pode admitir que tudo o que foi falado até agora por Marcelo, Emílio Odebrecht
e seus executivos, sobre o toma lá dá de cá com o presidente e ex-presidente,
não tenha sustentação em provas documentais. O mesmo vale para Léo Pinheiro.
Empreiteiros não só sabem fazer contas, como são precavidos. Mas os simples
testemunhos já são arrasadores.
Outra grave ameaça a Lula é o depoimento de Léo Pinheiro de que
o ainda presidente mandou-o eliminar provas de remessas de dinheiro ilegal para
João Vaccari, tesoureiro do PT, há algum tempo na carceragem de Curitiba. Será
a segunda denúncia de tentativa de obstrução da Justiça, depois da sua
participação, segundo Delcídio Amaral, na manobra para calar Nestor Cerveró,
ex-diretor da Petrobras, um dos dutos do desvio de dinheiro da estatal para o
lulopetismo e aliados.
Completando o cerco a Lula, há o ex-ministro Antonio Palocci,
também preso em Curitiba, e que estaria negociando um acordo de delação
premiada. Seria uma espécie de mãe de todas as delações. Ou uma dessas mães.
Foi ministro da Fazenda de Lula, homem de confiança do ex-presidente, escalado
por ele para tentar gerenciar a imprevisível Dilma Rousseff. Mas as
“consultorias” de Palloci o derrubaram.
Importante é que Palocci surge nas delações da Odebrecht como
homem-chave no relacionamento financeiro entre a empreiteira e o ex-presidente.
Gratos, os Odebrecht abriram um crédito de R$ 40 milhões para Lula, a serem
movimentados por meio de Palocci. Assim, seu cacife aumentou bastante como
arquivo de preciosas informações. Mas nada garante que as fornecerá, mesmo que
esteja sendo insinuado pelo lulopetismo, como forma de salvar o chefe, que o
ex-ministro embolsou dinheiro pedido em nome de Lula.
Emerge desta história a constatação de que os projetos de poder
e pessoais do PT e de outros partidos esbarraram em instituições que continuam
a funcionar por sobre a maior crise econômica do Brasil República, com sérios
desdobramentos políticos. Incluindo um impeachment, justificado pelo
atropelamento voluntarioso da Lei de Responsabilidade Fiscal, de mesma
inspiração ideológica do aparelhamento de estatais e assaltos realizados em
associação com empresários privados. A ordem jurídica se fortalece. (247).
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