quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Em menos de 24 horas, triplica o número de casos suspeitos de coronavírus em Pernambuco

 (Foto: Malu Cavalcanti/Arquivo DP)
Foto: Malu Cavalcanti/Arquivo DP


No início da noite desta Quarta-Feira de Cinzas (26), a Secretaria estadual de Saúde (SES-PE) confirmou que agora são três casos suspeitos de coronavírus (Covid-19) sendo investigados em Pernambuco. Dois pacientes, uma mulher de 51 anos e um homem de 24 anos, estão em isolamento no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), localizado no bairro de Santo Amaro. O terceiro, um homem de 41 anos, está em um hospital particular no bairro do Derby, área central da cidade. 

De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, as três pessoas com suspeita de coronavírus estiveram na Itália recentemente e nenhum dos casos têm correlação entre si. Os três casos já tiveram material coletado e enviado para análise laboratorial. Dois deles, dos pacientes internados no Huoc, estão sendo analiados no Instituto Evandro Chagas, no Pará, Norte do país. O resultado, confirmando ou descartando o coronavírus, deve sair até a próxima sexta-feira (28).

A orientação da SES-PE é esperar os resultados dos exames, para seguir com o protocolo de monitoramento de pessoas que tiveram contato com essas pessoas. Não foi divulgado quando sairá o resultado do exame do paciente que está internado no hospital particular. Os exames serão todos encaminhados para o laboratório do Instituto Evandro Chagas.

Uma das pacientes que está no Hospital Oswaldo Cruz deu entrada na tarde dessa terça-feira (25). A mulher de 51 anos e natural de Caruaru chegou ao Recife vinda de São Paulo em um voo da companhia aérea Azul, que partiu do Aeroporto Internacional de Guarulhos, após conexão de voo que saiu da Itália. Ela passou férias no Norte do país europeu e, ao chegar à capital pernambucana, foi encaminhada ao Huoc com sintomas similares aos da doença provocada pelo coronavírus. 

Já o homem de 24 anos, que deu entrada nesta quarta-feira (26) no Oswaldo Cruz, é pernambucano mas vive em Trento, no norte da Itália, uma das regiões com transmissão ativa de casos. Ele chegou ao Brasil há 10 dias e teria vindo passar o carnaval e as férias no Recife. Os três casos apresentaram febre e dificuldades respiratórias. O terceiro caso é de um homem morador do Recife, que chegou de uma viagem à Europa há 12 dias. Ele esteve na Itália, França e Portugal e apresentou sintomas como febre, coriza e dor de garganta.
 
"Até a última sexta-feira, esses casos não se enquadravam na condição de casos suspeitos de acordo com o Ministério da Saúde. Como houve uma expansão geográfica das áreas com caso de transmissão ativa, e o Brasil passou a ficar em alerta para pessoas vindas dessas regiões, eles passaram a ser suspeitos", explicou o secretário de saúde de Pernambuco, André Longo. Segundo ele, já era esperado que houvesse, por isso, um aumento na incidência de casos suspeitos. "Na noite de ontem (terça-feira), havia cinco casos suspeitos no Brasil. Durante a manhã desta quarta, esse número já tinha subido para 20", lembrou. "Não houve mudança no critério clínico", acrescentou o infectologista do Huoc Demétrius Montenegro.
 
Atualmente, 33 pessoas estão sendo contactadas pela secretaria de saúde do Recife. Elas estiveram no voo onde estava a passageira de 51 anos, vindo de Guarulhos. Há outras pessoas do mesmo voo, de outros 10 municípios do estado, que também estão sendo orientadas a tomar cuidados como fazer a higiene adequada das mãos. "Não podemos nos precipitar e iniciar um monitoramento de mais de 130 pessoas de imediato. Precisamos esperar os resultados dos exames", disse André Longo.
 
"É preciso lembrar que não só porque as pessoas estiveram na Itália elas estarão com coronavírus. Existem outros vírus circulando, que são mais frequentes que o coronavírus", acrescentou o secretário de saúde do Recife, Jailson Correia.

Segundo o secretário de Saúde André Longo, o caso notificado na Paraíba, de um paciente que também esteve na Itália, será acompanhado. "Tomamos ciência desse caso na Paraíba, que passou por Pernambuco na última segunda-feira e só foi apresentar sintomas no outro dia em João Pessoa, onde reside. Como alguns dos contactantes do voo podem ser pernambucanos, estamos em contato com a Paraíba e a Anvisa para que possamos fazer o acompanhamento de todos os possíveis contatos. E acompanhando o desfecho do caso na Paraíba para saber se vai confirmar ou descartar", disse Longo. 

O secretário pede ainda que as pessoas não procurem imediatamente os hospitais de referência do estado. "Eles devem ser procurados por casos suspeitos após uma primeira avaliação feita por uma de nossas unidades de atenção à urgência geral nas nossas 15 UPAs", reforçou. André Longo disse ainda que as pessoas com planos de saúde devem procurar as unidades de saúde particulares. "A rede privada de Pernambuco tem condições de atender inicialmente os casos suspeitos, fazendo a avaliação adequada, coletando exames. E se precisarem do apoio da rede público, nosso laboratório central, as equipes de vigilância e os próprios hospitais de referência estarão à disposição", colocou. 

Outra observação feita pela Secretaria de Saúde do Recife é que o Samu só deve ser acionado para casos graves, quando não há condições de remover o paciente até uma unidade de saúde. "Quem apresentar sintomas respiratórios junto com febre, tosse, dor de garganta mas tem condição de comparecer a uma unidade de saúde, deve procurar a unidade e não chamar o Samu", orientou o secretário de saúde do Recife, Jailson Correia. 

Segundo ele, o primeiro critério para tornar um caso suspeito é o geográfico-temporal. Ou seja, o paciente precisa ter estado nos últimos 15 dias em uma região com transmissão ativa do coronavírus, cuja lista é atualizada e divulgada diariamente pelo site do Ministério do Saúde. "Ela também precisar apresentar os sintomas como febre, tosse, dor de garganta e dificuldade para respirar", disse Jailson. 

Os passageiros e tripulantes que desembarcaram no Recife e estiveram no mesmo voo que os casos suspeitos estão sendo acompanhados por telefone por profissionais da Secretaria de Saúde do Recife. Se houver necessidade, a Secretaria de Saúde do Recife também fará a visita domiciliar. "Nosso principal inimigo agora é o boato e o medo, que pode sobrecarregar a rede. Não há necessidade de todas as pessoas saírem às ruas usando máscaras. Temos que lembrar que em 85% dos casos não haverá evolução para quadros graves. E que a taxa de mortalidade é baixa", explicou George Dimech. Para se ter uma ideia, um caso confirmado de coronavírus pode levar a outros dois a três casos. No sarampo, cada caso confirmado gera 18 novos casos.  

Estado de saúde

Além de atualizar a lista dos casos suspeitos, a Secretaria estadual de Saúde informou sobre o estado de saúde da caruaruense de 51 anos que está internada no Hospital Oswaldo Cruz. O resultado para o exame de Influenza deu negativo, mas não significa que ela esteja com o coronavírus. "Existe a possibilidade de ser outro vírus respiratório. O estado de saúde dela é muito bom. " Ela teve relato de febre, dor de garganta e cansaço. Mas desde que internou, a paciente não apresentou mais febre. Clinicamente, ela está evoluindo muito bem", disse o infectologista do Oswaldo Cruz, Demetrius Montenegro. 
 
A internação dela foi uma decisão tomada em reuniões prévias, entre as entidades de saúde. "Decidimos que iríamos internar os primeiros casos, para acompanhar mais de eprto a evolução dos quadros. Vamos lembrar que é um vírus com o qual ainda não temos muita familiaridade", disse Demetrius Montenegro. 
 
Já o homem de 24 anos, que se internou nesta quarta-feira (26) no Huoc, também está clinicamente estável. Ele apresentou um quadro de calafrios, tosse seca e secreção. "A diferença é que essa pessoa tem asma. E por conta do quadro respiratório ficou com falta de ar. Nada muito grave que precisasse fazer algum tipo de suporte ventilatório. Mas por um cuidado maior, esse homem está sendo acompanhado na UTI por conta do quadro de asma", informou o infectologista. Ele procurou diretamente o HUOC, o que não é recomendado pelo sistema de saúde. 
 
Os casos suspeitos de Pernambuco 

- Mulher, de 51 anos, que desembarcou no Recife na tarde da terça (25) em voo doméstico proveniente da Itália com conexão em São Paulo. A paciente foi atendida ainda no Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes por equipes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para primeiro atendimento. Em seguida, foi levada em ambulância do Samu Recife para o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), uma das referências estaduais para atendimento de casos suspeitos do coronavírus. Desde então, ela está no isolamento. Nesta quarta-feira (26.02), ela está com quadro de saúde estável e evoluindo bem. A mulher não apresenta mais febre nem tosse, e teve melhora considerável da dor de garganta. Ela continua sendo monitorada pela equipe do Huoc. O Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE) já realizou os exames para influenza A e B, que deram negativo. O Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará, referência nacional, fará os testes para outros vírus respiratórios e o específico para confirmar ou descartar Covid-19.

- Homem, 24 anos, pernambucano residente na Itália, notificado nesta quarta-feira (26). Ele chegou ao Estado no último dia 14, contudo, só veio apresentar sintomas (febre, tosse, dor de garganta e dificuldade de respirar) na última terça-feira (25). O jovem procurou o Huoc nesta quarta, onde vem sendo assistido. Por uma condição de saúde pré-existente (asma), ele está sendo mantido na UTI do hospital, mas com quadro estável e sem necessidade do uso dos suportes de UTI. Já foi realizada a coleta de material do homem para as análises laboratoriais pelo Lacen-PE e IEC.

- Homem, 41 anos, residente no Recife e com histórico de viagem para Itália, França e Portugal. Ele voltou ao Estado no dia 12. O início dos sintomas (febre, coriza, dor de garganta e congestão nasal) foi na última terça (25). O homem procurou atendimento nesta quarta em uma unidade privada, onde está internado recebendo assistência. Ele já realizou coleta de material para as análises em laboratório. 

Brasil

Em São Paulo, um dos 20 casos suspeitos investigados atualmente pelo Ministério da Saúde teve contato direto com o primeiro caso confirmado no Brasil, o que pode indicar o primeiro caso de transmisão direta em território brasileiro. Desde janeiro, o Brasil já notificou 60 casos, sendo até agora 59 suspeitos e um confirmado para o coronavírus.  De acordo com as recomendações do Ministério da Saúde, são considerados casos suspeitos de  coronavírus pessoas com febre e pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, batimento das asas nasais entre outros) e histórico de viagem para área com transmissão da doença. Países com casos: Camboja, China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, Singapura, Tailândia e Vietnã. Recentemente foram incluídos: Alemanha, Austrália, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, França, Irã, Itália e Malásia.(DP)




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