Via:Vinicius de Santana
A inauguração do eixo norte da transposição do rio São Francisco está marcada para o fim de dezembro, entre os dias 26 e 28, em Salgueiro, no Sertão de Pernambuco. Com isso, a solenidade acontece no fim do mandato do presidente Michel Temer (MDB). A informação foi confirmada ao governador do Ceará, Camilo Santana (PT), nesta quarta-feira (05), em Brasília, pelo ministro da Integração Nacional, Pádua Andrade, segundo o petista. A entrega da obra está atrasada em oito anos.
Santana já havia visitado o canteiro em Salgueiro com o ministro no último dia 20, quando foi anunciado que a obra seria entregue na segunda quinzena deste mês.
De lá, onde fica a terceira e última estação de bombeamento, a água segue por gravidade até o Ceará. A previsão, segundo o governo do Ceará, é de que chegue ao estado em até o fim de fevereiro do ano que vem.
Além de confirmar a previsão para a inauguração do eixo norte, na reunião com Santana, o ministro anunciou a liberação de R$ 43 milhões para o Cinturão das Águas do Ceará (CAC), uma obra complementar.
De acordo com a gestão cearense, a empresa responsável está com mais de 300 pessoas trabalhando na obra atualmente para finalizar o trecho dentro do prazo. “Mas o caminho das águas está pronto”, frisou o ministro, segundo Camilo Santana.
Pensado desde o período do Império, o canal da transposição começou a ser construído em junho de 2007, no início do segundo mandato de Lula (PT). A previsão era de inaugurar o eixo leste ainda naquele governo e deixar o eixo norte com a maior parte concluída. Isso não aconteceu e o eixo leste, que vai de Pernambuco para a Paraíba, foi entregue em março de 2017.
Construtoras
Desde 2016, três construtoras ficaram responsáveis pelas obras no trecho entre Salgueiro e Jati. Desde maio, a Ferreira Guedes é a empreiteira que toca o empreendimento. Isso aconteceu depois que o Ministério da Integração Nacional rescindiu o contrato com o consórcio Emsa-Siton, que venceu a licitação marcada por um processo judicial em 2017. Segundo a pasta, as empresas não tinham condições financeiras de continuar o serviço.
A empreiteira que cuidava da obra desde o início era a Mendes Júnior, que pediu para deixar o canteiro em junho de 2016, um mês após Temer assumir a presidência, alegando dificuldade para obter crédito. A construtora é uma das envolvidas na Operação Lava Jato e foi considerada inidônea.
A licitação só foi iniciada seis meses depois da paralisação da obra e, após as duas empresas que apresentaram os menores preços terem sido desabilitadas por questões técnicas, o contrato foi assinado em abril de 2016.
Logo depois da escolha, porém, o primeiro colocado na concorrência, o consórcio liderado pela Passarelli, entrou com uma ação na Justiça questionando a licitação. Ele havia apresentado uma proposta de R$ 441,8 milhões, deságio de 23% em relação ao valor estabelecido pelo governo, de R$ 574 milhões. No edital, o ministério exigiu das empresas experiência na montagem de estação elevatória de água com vazão de 7 metros cúbicos por segundo, com uma única bomba. A Passarelli possui essa experiência, mas usa sistemas com mais de uma bomba. O mesmo critério inabilitou a segunda colocada na disputa.
Terceiro colocado no processo licitatório, o consórcio Emsa-Siton cobrou R$ 516,8 milhões, valor 9,8% menor do que o ministério propôs – a Ferreira Guedes apresentou preço 9,6% menor. As obras foram entregues pela Mendes Júnior com 94,52% de conclusão.
Eixo leste
Em março de 2017, Temer foi à cidade de Monteiro, na Paraíba, para inaugurar o eixo leste. Nele, a água do ‘Velho Chico’ é captada em Floresta, no Sertão pernambucano, e passa por cerca de 200 quilômetros até chegar ao estado vizinho, onde atende principalmente a região de Campina Grande.
Disputa de paternidade
No ano passado, com a entrega do eixo leste, a transposição foi usada para aproximar figuras políticas do Nordeste. Na maioria das vezes em que viajou para o Nordeste, Temer visitou as obras. Em uma dessas visitas, inaugurou o eixo leste, onde a população ligou a chegada da água a Lula. Uma semana depois da entrega do empreendimento, o petista e a sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), também fizeram uma “inauguração” informal.
O candidato do PSDB à presidência da República este ano, Geraldo Alckmin, após articular a doação de equipamentos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para os dois eixos da transposição, também tentou usar a obra para colar a sua imagem à região. Além dele, Ciro Gomes, que foi candidato pelo PDT, prometeu inaugurar o projeto, se fosse eleito.
Antes de deixar o governo, em maio de 2016, Dilma chegou a visitar Cabrobó, onde ficam a primeira e a segunda estação de bombeamento, e, já em tom de despedida uma semana antes de ser afastada pelo Senado, afirmou que ficaria triste se não visse como presidente a conclusão das obras. A transposição é, ainda, uma das prioridades da equipe de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
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