O prefeito de São Paulo, João Doria Júnior, terá que se contentar em ser prefeito de São Paulo, embora dê demonstrações constantes de aversão ao cargo para o qual foi eleito. Como bem definiu Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, a cidade de São Paulo não elegeu um prefeito, mas sim um personagem disposto a fazer da prefeitura um trampolim para a presidência da República. Como Doria, mesmo tendo traído seu padrinho Geraldo Alckmin, afundou na farinata e não conseguiu se viabilizar candidato ao Palácio do Planalto, ele passou a alimentar uma segunda pretensão: a de ser governador de São Paulo.
Este segundo projeto, no entanto, também deve naufragar, uma vez que sua candidatura enfrenta resistência em todos os setores do PSDB. De um lado, o governador Geraldo Alckmin defende uma aliança em torno do vice Márcio França, do PSB, para fortalecer sua candidatura presidencial. Como todos sabem, Alckmin pretende convencer o PSDB a abrir mão de uma candidatura própria para que o PSB se alie nacionalmente a ele. De outro, o senador José Aníbal (PSDB-SP), que também é pré-candidato ao governo paulista, tem o apoio dos serristas e defende prévias apenas em maio – o que obrigaria Doria a disputá-las fora do cargo. Isso porque, de acordo com a lei eleitoral, Doria teria que renunciar ao cargo em abril, quando ocorre a desincompatibilização dos cargos.
O fato mais importante para frear o ímpeto de Doria é o próprio desempenho eleitoral do prefeito. Como ele ainda não deixou nenhuma marca positiva na cidade de São Paulo, sua aprovação caiu e isso se reflete também nas pesquisas. As primeiras sondagens para o governo paulista revelam que ele perderia para Paulo Skaf, presidente da Fiesp, que concorrerá ao cargo pelo MDB, o que inviabiliza qualquer aliança entre os dois. Na semana passada, Doria, como sempre falante, disse que Skaf poderia ser seu candidato ao Senado, numa composição entre as forças de centro-direita, mas os números não avalizam a marola criada por Doria.
No PSDB, há até quem defenda que Doria seja candidato, mas com prévias em maio, numa escolha restrita à cúpula do partido. Desta forma, Doria não teria como comprar apoio de militantes e perderia a disputa depois de renunciar ao cargo na prefeitura. Assim, a cidade de São Paulo seria administrada por Bruno Covas, um tucano autêntico, e Doria, que consolidou uma imagem de aventureiro e traidor, seria atirado ao mar. Ciente dos riscos, a tendência é de que o próprio Doria se convença de que o único caminho que lhe resta é permanecer no cargo para o qual foi eleito e tentar ser prefeito nos quase três anos que lhe restam. (247).
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