Por Railídia Carvalho, do Portal Vermelho
Dirigentes da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal) afirmaram ao Portal Vermelho que só a constatação de índices positivos na indústria nacional não aponta para a recuperação deste segmento. Nesta quarta-feira (1º), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a produção industrial nacional cresceu meros 0,2% frente a agosto e 2,6% na comparação com setembro de 2016.
A cautela de Aurino Pedreira e Marcelo Toledo, respectivamente vice-presidente e diretor de Formação da Fitmetal, vai ao encontro da afirmação do gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo. Segundo o pesquisador, apesar dos números positivos, "o patamar de produção está 17,4% abaixo do pico histórico alcançado em junho de 2013".
De acordo com o IBGE, a produção industrial acumulada em 12 meses ficou positiva, registrando alta de apenas 0,4%. É a primeira vez desde maio de 2014, quando havia crescido 0,3%. Segundo o órgão, "o setor de veículos automotores aparece como um componente positivo para o resultado da indústria".
"É precipitado definir os índices como recuperação da indústria. Gostaria que fosse verdade mas o que tenho percebido é um pessimismo em empresários de outros segmentos com perspectivas de médio e longo prazo para a indústria. Parece mais uma cortina de fumaça", afirmou Aurino sobre o discurso do governo federal sobre a "recuperação". Michel Temer afirmou no início de outubro ver sinais de retomada consistente da economia com a participação da indústria.
Emprego industrial
Aurino (foto) lembrou que a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) retroagiu ao período anterior a 1947, resultado de um intenso processo de desindustrialização e desnacionalização. "O emprego industrial tem se reduzido cada vez mais e se nós analisarmos o crescimento econômico do país, o resultado positivo tem como referência uma perda originada por dois anos consecutivos muito ruins", alertou Aurino.
Marcelo Toledo afirmou que o nível de crescimento divulgado é muito inferior quando se compara com a perda de postos de trabalho. Segundo o dirigente, os metalúrgicos têm sido a categoria mais penalizada pelo desemprego. Foram 530 mil vagas extintas desde 2013, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
"Significa que o caminho da economia brasileira está certo? Achamos que não. Não tem dado reflexo na reestruturação do parque industrial. Não tem significado avanço na industrialização contra a desindustrialização", afirmou Marcelo. Ele complementou que o crescimento apontado pela pesquisa não diminuiu o desemprego entre a categoria. "Quando tem contratação é por salários mais baixos e nos postos com remuneração menor."
Segundo Marcelo, o trabalhador demitido há um ano enfrenta dificuldades para conseguir recolocação e a dificuldade é maior se tentar garantir as mesmas condições salariais de antes da demissão. "Muitos que estão entrando no mercado de trabalho é com salário abaixo do que ganhavam."
Golpe na indústria nacional
Para o sindicalista (foto), um sinal de recuperação da indústria seria a retomada dos milhares de empregos perdidos. "Mas não é o que acontece com esse governo que faz um processo de entrega do pré-sal e quebra a lógica do conteúdo local, que mantinha empregos na indústria nacional. Isso demonstra claramente que esse governo não tem uma política de desenvolvimento do setor industrial nacional."
Como recuperar a indústria nacional para gerar emprego e renda e retomar o crescimento no país? O ciclo de debates "Industria e Desenvolvimento" realizado pela Fitmetal em vários estados do Brasil nasceu para apontar propostas sobre o tema. São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Aracaju e Manaus foram algumas das cidades que receberam a iniciativa, que pretende realizar dez debates reunindo sindicalistas, economistas, empresários e poder público.
Ciclo de debates
Aurino participou do debate realizado em Salvador. "Tivemos uma atividade muito rica em que se apontou erros ao longo do tempo na falta de uma política industrial. Nas últimas décadas tivemos bolhas de programas para a indústria mas longe de ter uma política industrial", disse.
Ele contou que entre os participantes do debate, com alguma variação nas posições, há um senso comum que aponta para a necessidade de um Estado nacional como indutor para o desenvolvimento. Ele citou como ponto em comum entre os debatedores, a posição de que o papel do Banco Central deve ser conduzido pela orientação de governos e não atuando como instituição financeira autônoma.
"A questão da política macroeconômica inviabiliza o desenvolvimento nacional com seus juros altos, o câmbio em prejuízo da indústria nacional e as medidas de ajuste fiscal", complementou Aurino. O dirigente ainda lembrou que preocupa o movimento sindical pauta em debate no Congresso Nacional que pode inviabilizar a permanência de empresas no norte e nordeste do país.
O Ciclo de Debates "Indústria e Desenvolvimento", organizado pela Fitmetal, também acontecerá nas cidades de Belo Horizonte (MG), no dia 6 de novembro; Chapecó (SC), no dia 7 de novembro; Caxias do Sul (RS), no dia 13 de novembro; No Recife (PE), no dia 27 de novembro e em São Luís (MA) no dia 7 de dezembro.(247).
Para saber mais sobre o Ciclo de Debates clique AQUI para acessar o portal da Fitmetal.
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