
Em seu artigo mensal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, oráculo da centro-direita brasileira, pede que o PSDB desembarque do governo de Michel Temer – que ele chamava de "pinguela" e que se mostrou desastroso em todos os aspectos: tanto econômico, como moral. "Ou o PSDB desembarca do governo na Convenção de dezembro próximo, e reafirma que continuará votando pelas reformas, ou sua confusão com o peemedebismo dominante o tornará coadjuvante na briga sucessória", diz ele. Ressentido em relação ao ex-presidente Lula, FHC prevê sua candidatura, mas também sua derrota; "Melhor é supor que Lula dispute as próximas eleições. Suas chances de vitória não são grandes", afirma. Confira abaixo: Hora de decidir Fernando Henrique Cardoso
Depois
da segunda negação pela Câmara de abertura de inquérito para investigar o
presidente da República, é de se presumir que este capítulo esteja encerrado.
Independentemente do juízo sobre o acerto da decisão da Câmara, a opinião
pública cansou do tema.
As
pesquisas parecem apontar nessa direção e indicam certo ceticismo sobre os
resultados da Lava-Jato e de outras operações de investigação, que, não
obstante, continuam a contar com o apoio da sociedade. O
clima é de descrença e desânimo. Sendo assim, olhemos para o cotidiano e suas
agruras. O
governo se esforça para demonstrar que a economia está melhorando. Os dados
confirmam a tendência, a mídia repercute, e o povo, como disse Aristides Lobo
quando da Proclamação da República, “assiste bestificado” ao que ocorre. Não
nos iludamos, porém. Nas sociedades atuais, com a mídia social em constante
evolução, um fio desencapado pode reavivar velhos rancores e esperanças. Só que
isso é imprevisível.
Melhor,
portanto, nos concentrarmos no que é provável que aconteça: as vistas políticas
se voltarão para as eleições de 2018. Até lá, por mais alguns meses pelo menos,
a pauta das reformas, por desnaturadas que sejam, continuará a ser importante,
ocupará os partidos, a mídia e a opinião interessada. Assim como a carruagem da
economia continuará a andar e embalará as discussões dos que dela entendem ou
pensam entender. O
povo, olhando de soslaio, verificará se a melhora proclamada bate em seu bolso
e em suas expectativas. Não
nos enganemos: por mais que as estruturas de poder continuem ativas, as marcas
do que aconteceu nos últimos anos serão grilhões nos pés de partidos e
candidaturas. Nem
o PT se livrará dos muitos malfeitos que cometeu e das ilusões que enterrou,
nem o PMDB sacudirá a poeira de haver formado parte não só da onda petista como
de seus descaminhos, nem o PSDB deixará de pagar por ter dado a mão ao governo
Temer e de têla chamuscado por inquéritos. Falo
dos principais, mas a história dos demais não é muito diferente da percorrida
pelos maiores partidos.Apenas os mais radicais, posição que antes era domínio
exclusivo da extrema esquerda e hoje é disputada pela extrema direita, talvez
possam dizer: desta água eu não bebi!
Argumentos
há para defender os que se juntaram no impeachment ao governo petista, como os
há para os que apoiaram o intermezzo peemedebista. Melhor manter a coerência e
sustentar as razões do apoio a ambos. Daqui
por diante, contudo, o capítulo é o futuro. É diante dele que os partidos terão
que se posicionar. Falemos
claramente: o PT está com a sorte colada à de Lula, a qual está nas mãos da
Justiça. Não torço pela desgraça alheia. Não sou juiz, não quero e não devo
opinar na matéria. Melhor é supor que Lula dispute as próximas eleições. Suas
chances de vitória não são grandes. Derrotei
Lula duas vezes quando ele já era um líder partidário de massas. Por que
ganhei? Porque Lula e seu partido se isolaram no que imaginavam ser a classe
trabalhadora, com seus porta-vozes intelectuais. Quando
Lula ganhou minha sucessão foi porque ele e seu partido, com a Carta aos
Brasileiros e outras ações mais, se aproximaram da classe média e saíram do
gueto, alargando sua base de apoio original. Desenhada
a vitória e alcançado o poder, o establishment se juntou aos vitoriosos, sem
temor de ser prejudicado. Hoje,
Lula e seu partido voltaram para suas trincheiras originais. Incomodando sua
sucessora, tentarão relembrar os dias gloriosos da bonança econômica para que o
eleitorado se esqueça dos escândalos de corrupção, das desventuras a que
levaram a sociedade e da recessão que produziram na economia. São
competidores, portanto, derrotáveis. A depender, como sempre em eleições, de
saber que partidos elíderes formarão os “outros lados”. Nestes poderão estar os
que jogam “por fora” dos grandes partidos, como Marina e, em sentido menos
autêntico e mais costumeiro, candidaturas “iradas”, tipo Ciro Gomes. Só
que no momento desponta outra candidatura ainda mais “irada” e mais definida no
espectro político, a de Bolsonaro. Dele sabemos que é “linha-dura” contra a
desordem e a bandidagem, mas pouco se sabe —ao contrário de Marina — sobre o
tipo de sociedade de seus sonhos (e meus pesadelos...). Pode
surgir um easy rider? Pode. Mas é preciso esperar para ver. Sobra
avaliar qual partido mais pode apresentar candidaturas válidas. O
PMDB faz tempo que maneja o Congresso e sabe imiscuir-se na máquina pública,
mas não parece ser um time pronto a disputar a pole position. O
DEM, o PSB ou o PSD e os demais não têm nomes fortes para a cabeça de chapa,
embora possam pesar se ingressarem em um conglomerado que seja “centrista”, mas
olhe à esquerda, por mais que tal ginástica custe a alguns deles. E
o PSDB? Pode
apresentar algum nome competitivo. Mas precisa passar a limpo o passado
recente. Deveria
prosseguir no meaculpa apresentado na televisão sob os auspícios de Tasso
Jereissati, sem deixar de dar a consideração a quem quase o levou à Presidência. É
hora de decidir e não de se estiolar em “não decisões”. É
hora também de juntar as facções internas e centrar fogo nos adversários
externos. Não
há como negar o apoio dado ao governo atual. A transição política exigia repor
em marcha o governo federal, o que foi feito em áreas significativas. Politicamente,
contudo, há um ponto crítico e alguma decisão deverá ser tomada: ou o PSDB
desembarca do governo na Convenção de dezembro próximo, e reafirma que
continuará votando pelas reformas, ou sua confusão com o peemedebismo dominante
o tornará coadjuvante na briga sucessória. Terá
cara renovada em 2018? Os cabelos não precisam ser tingidos, mas a alma deve
ser nova, para que a coligação que formar ganhe credibilidade e possa virar a
página dos desastres recentes.(247).
Blog
do BILL NOTICIAS