quarta-feira, 5 de abril de 2017

CASO ZÉ MAYER REVELA A HIPOCRISIA DA GLOBO


Por Marco Damiani, do BR2pontos - A hipocrisia da Rede Globo atingiu um limite maior, um recorde! Pelas novelas, há décadas, todas as noites, em horários nobres, incentiva o sexo precoce, rebaixa as mulheres a objetos sexuais, faz elegia do machismo, glamouriza a prostituição, afiança traições, arranca roupas, tira camisas, exibe bundas, paga peitinhos e... agora diz que a política interna da emissora não se coaduna com o vil assédio sexual do ator José Mayer - ele próprio personagem cafajeste, poligâmico e violento.
Na verdade, um simples afastamento do assediador e a liberação de campanhota de atrizes contra o assédio - exatamente elas que, pela grana, claro, topam todos os papeis de mulheres inferiorizadas que a Globo lhes dá - não são bem uma punição nem uma autocrítica. Panos quentes, isso sim.
A questão do assédio do galã de olho de vidro sobre a trabalhadora dos camarins é maior e de fundo.
Umberto Eco previu que a televisão de má qualidade destruiria a sociedade italiana. A Globo destruiu a brasileira, e não há no horizonte de longo prazo qualquer chance de reverter essa situação, levando a democracia a, ao menos, domar a Globo. O PT, que teve correlação de forças favorável para fazer isso, tremeu. E traiu.
Agora, um dos resumos da nossa ópera bufa se chama José Mayer. O cara vem e diz que errou, as globelezinhas botam camisetinhas dizendo que todas foram mexidas e colunistas do pensamento único já vão dizendo que a Globo dá exemplo de administração de crise. Triste e patético.
Quero ver pedir para mudar o foco das novelas, reivindicar um jornalismo que não misture tragédias e alegrias para banalizar a vida, exigir mínima isenção política e combater a propriedade cruzada.
O resto, como diria FHC, são 'pinuts'.
A respeito das colunas do pensamento único, segue a de Daniel Castro, do Folhão, que narra tudo direitinho e, no final, dá ponto para a... Globo!
DANIEL CASTRO - Publicado em 04/04/2017, às 16h04 - A Globo foi muito esperta (e feliz) na reação à acusação de assédio sexual contra o ator José Mayer, um dos seus grandes galãs, eterno símbolo do macho viril de suas novelas. A emissora transformou um crime ocorrido em seus camarins, potencialmente prejudicial à sua imagem, em uma peça de marketing social.
Ao suspender Mayer de suas produções, estimular um movimento feminista em seus corredores e forçar o ator a admitir o erro, a Globo passou uma imagem de empresa moderna, sintonizada com seu tempo, e decretou o fim da era do teste de sofá (aquele em que o ator ou atriz tinha de fazer um favor sexual ao diretor para conseguir um trabalho).
A emissora, inicialmente, foi discreta diante da acusação, feita em fevereiro pela figurinista Susllem Meneguzzi Tonani, de que José Mayer teria passado a mão em sua genitália. Instaurou uma apuração interna e esperou o caso morrer. Mas a figurinista, encerrado seu contrato por obra com a novela A Lei do Amor, resolveu colocar a boca no trombone. Seu relato corajoso chocou milhares de mulheres, começando pelas que trabalham na própria Globo.
No último final de semana, a direção da emissora foi pressionada por funcionárias, muitas delas atrizes de renome. Esperta, a cúpula da Globo soube usar a energia do inconformismo a seu favor. Convictos de que Mayer abusara da figurinista, ergueram o código de conduta ética da emissora, peça que já condena todo tipo de assédio entre seus colaboradores.
Mais do que isso, os executivos estimularam uma manifestação (eles rejeitam o termo protesto) em curso nesta terça-feira. Funcionárias da emissora passaram a vestir (e a exibir nas redes sociais) uma camiseta com a frase "Mexeu com uma, mexeu com todas". No Vídeo Show, as atrizes Nathalia Dill, Débora Nascimento e Júlia Rabello exibiram suas roupas-cartazes e condenaram o assédio sexual.
Assim, a Globo transformou em notícia uma ação que ela própria apoiou, levando a manifestação muito além dos muros de seus estúdios no Rio de Janeiro. Deu visibilidade a um tema muito valioso nos dias de hoje e demonstrou que acredita em valores como o respeito, que faz questão de grafar, em seus documentos internos, com letra maiúscula. Ponto para a Globo.
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