O percentual de mortes de motociclistas em acidentes de trânsito no Brasil
subiu de 8,3% em 2000 para 24,8% em 2008, ano da implantação da Lei Seca, e
continuou subindo, mais lentamente, até 33,4% em 2017, segundo o Boletim
Proadess (Projeto de Avaliação de Desempenho do Sistema de Saúde), elaborado
pelo Laboratório de Informação em Saúde (ICICT) da Fundação Instituto Oswaldo
Cruz (Fiocruz).
Segundo
o levantamento, as regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores taxas de
mortes em acidentes em 2017, 44,5% e 43,4%, respectivamente. Em 2000,
esses índices alcançavam 13,6% e 12,1% em cada região.
O
médico Josué Laguardia, pesquisador do ICICT e responsável pelo estudo, disse
hoje (30) que vários fatores influenciam em um maior risco de morte em
acidentes com motocicletas. São veículos que apresentam menor proteção para o
motorista e o passageiro, do que um veículo automotor, como carro, caminhão ou
ônibus, “que oferecem mais proteção do que uma moto, na qual o motorista tem
maior exposição”. Segundo Laguardia, isso piora se ele não está usando
capacete, luvas, botas, jaqueta adequada. “Tudo isso pode agravar o risco de um
acidente ser fatal”, disse.
Laguardia
acrescentou que uma via em que falta sinalização coloca em risco tanto
motoristas como pedestres. A questão da velocidade e da qualidade da
infraestrutura também influenciam em termos de maior risco de acidente e de
lesão grave ou óbito. “É um conjunto de fatores que, inter-relacionados, pode
aumentar o risco de acidente. E, no caso do motociclista, esse acidente pode
ser mais grave por ele estar menos protegido. Assim como ocorre com o pedestre
também”.
Gastos do SUS
A
elevação da taxa de mortes em acidentes com motociclistas repercute também em
termos de aumento de gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Josué Laguardia
disse que além de ter profissionais para assistência no local do acidente e
para fazer o atendimento adequado às vítimas no estabelecimento hospitalar, bem
como no período de internação, os acidentados exigem muitas vezes uma equipe de
profissionais para fazer sua reabilitação.
“A
maior gravidade das lesões vai demandar tempo de internação, cirurgias
ortopédicas com colocação de órteses ou próteses, a questão da reabilitação.
Tudo isso vai demandar recursos muitas vezes públicos para esses acidentados”.
O
Boletim Proadess revela que dos R$ 260 milhões gastos pelo SUS em 2017 com
internações por acidentes de trânsito, em torno de 63% foram destinados a
motociclistas. O percentual mais elevado está no Nordeste (75,8%) e o menor na
Região Sul (50,4%). Os motociclistas representavam 40% das pessoas internadas
por acidentes em 2008 e passaram a representar mais de 50% em 2017. Laguardia
disse que esses gastos excluem atendimento pré internação e pós-internação.
Aumento de frota
No
período 2000 a 2008, houve um aumentou em 211% na frota de motos e em 261% nas
mortesde motociclistas no Brasil. No período posterior, de 2008 a 2017, esses
índices caíram para 96,6% e 36,6%, respectivamente. Apesar disso, permanecem
números elevados da frota de motos nas regiões Norte (163,5%) e Nordeste
(167,4%) entre 2008 e 2017 e também do número de óbitos, que, entretanto,
permanecem os mais altos do país (122,8% e 91,5%). Já o Sudeste teve taxa
negativa de óbitos (-3,2%) no mesmo período.
De
acordo com o porte dos municípios, verifica-se que a proporção de mortes de
motociclistas em cidades de até 20 mil habitantes e em municípios de 20
mil a 100 mil habitantes subiu de 9,9% e 10,4%, respectivamente, em 2000, para
cerca de 38% em ambos em 2017.
O
Boletim Proadess destaca que a maior parte das mortes envolvendo motos abrange
a população jovem entre 20 e 39 anos de idade, sendo que cerca de 45% são óbitos
do sexo masculino e 35% do sexo feminino.(Agência Brasil)
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