A nova ascensão de
Lula nas intenções de voto para 2018 é o melhor termômetro do sistema político
brasileiro.
Lula subiu depois da liberação das delações da Odebrecht, a
começar pelo risonho patriarca da maior empreiteira do país, fazendo
insinuações de todo tipo, inclusive citando um nefasto general da ditadura para
falar sobre seu caráter. Lula também atravessou a delação premiada de Leo
Batista, o executivo da OAS que, como um aluno em exame de segunda época, refez
o primeiro depoimento para tentar diminuir a própria pena, produzindo afirmações
sob medida para atingir Lula. Nada.
Enquanto Lula subiu, seus adversários tradicionais desabaram.
Contemporâneos em tantas disputas nos últimos 20 anos, estão caindo fora.
Aécio, que foi adversário de Dilma em 2014, já teve mais de 20 pontos no Data
Folha. Agora tem menos de 10, mesmo patamar de Geraldo Alckmin, que nunca
chegou a 20 nas pesquisas e até enfrentou Lula em 2006. Quanto a José Serra,
adversário de Lula em 2002, de Dilma em 2010, sequer se considerou a hipótese
de incluir seu nome entre os concorrentes, o que diz muita coisa sobre as
profecias que rondam seu futuro.
Vamos lembrar o essencial: nenhum dos maiores caciques tucanos
até aqui enfrentou um Sérgio Moro para divulgar diálogos ilegais, como ocorreu
na conversa entre Lula e Dilma em abril de 2016; as conversas privadas da
mulher, da amante, da namorada, o que for, de qualquer um deles, nunca foi
gravada e distribuída aos jornais; nenhum foi acordado em casa para uma
condução coercitiva; nenhum foi impedido de assumir um cargo público --
ministério ou equivalente -- por uma liminar de um juiz do STF; nem teve
direito a um editorial onde a maior empresa de comunicação do país se manifesta
contra sua candidatura em 2018 depois de promover um ataque de 18 horas
consecutivas nos tele-jornais da casa.
Mesmo assim, todos viraram fumaça. Foram esmigalhados por
denuncias que só se tornaram notícia -- às vezes manchete -- a muito custo,
quando não era possível esconder fatos graves que há muito mereciam atenção e
cuidado, em particular de uma imprensa que fez das acusações de corrupção
contra Lula e o PT o principal alimento de sua cobertura política.
A liquidação do comando tucano mostra a fraqueza congênita do
PSDB, partido que já foi a grande esperança dos círculos conservadores do país
após o colapso do malufismo e do PMDB. Vencidos pelas urnas, em quatro eleições
consecutivas, seus caciques se revelam como políticos sem luz própria para
enfrentar sequer três meses de notícias desagradáveis -- que jamais chegaram ao
canibalismo que atinge Lula, há mais de 30 anos. O desmoronamento triplo mostra
o caráter artificial da legenda, plástico, de mentirinha, sem vida
independente, incapaz de se defender por méritos próprios -- apenas com a
proteção dos amigos na mídia, no aparelho judiciário e nos grandes negócios.
A natureza especulativa dessas anti-candidaturas, lançadas como
barreira para enfrentar Lula de qualquer maneira, se reflete nos
pré-lançamentos ensaiados por esses dias. De João Dória a Bolsonaro, passando
por Marina, o que se pretende não é discutir ideias nem projetos -- mas
experimentar quem teria melhores condições de enfrentar Lula. Essa é a
prioridade, a linha divisória.
A liderança de Lula, numa situação de perseguição implacável na
qual nada mais lhe resta além da memória do povo, mostra uma verdade importante
de ser afirmada após o golpe parlamentar contra Dilma. Sua força política
reside em sua história, no saldo dos governos do PT que, apesar de erros e
muitas limitações, deixaram um perfil único de luta contra a miséria e
contra a desigualdade, pelo crescimento.
Qualquer calouro de Ciência Política sabe o valor de políticos
feitos desse material -- a aprovação do povo -- e sua importância na
preservação do regime democrático. Políticos de fantasia, dependentes, obras de
marketing, são uma porta aberta para pressões indevidas e perniciosas, que
podem ser destruídos por meia dúzia de manchetes. Já lideranças de raiz
verdadeira tem um contato direto com o povo. São a principal referência da
soberania do povo, clausula número 1 da Constituição.
O Data Folha vem em boa hora. Não se trata de procurar
astrólogos para tentar adivinhar como estará o eleitor em 2018, cenário da
pesquisa, quando devem concorrer novos nomes e novos rostos para velhíssimas
ideias, saídos da linha de montagem da fábrica de candidatos que faz parte do
arsenal de domínio político dos interesses que governam o país há cinco
séculos.
A questão é reconhecer o principal: mais do que nunca Lula
tornou-se uma peça-chave da preservação da democracia brasileira. É preciso
entender as tentativas de afastá-lo da vida política como um esforço para
consolidar uma ditadura, num processo idêntico ao que se fez em junho de
1964, quando a ditadura cassou Juscelino Kubitscheck para impedir que pudesse
disputar a eleição de 1965, na qual era o favorito disparado. Não havia provas
contra JK. Havia um discurso que o chamava de corrupto.
Nem há provas contra Lula. Há uma narrativa em construção.
O saldo da perseguição a JK foi vergonhoso e trágico, nós
sabemos. Logo depois de sua cassação a eleição direta para presidente foi
abandonada. Só 24 anos depois os brasileiros puderam voltar a urna
presidencial. (247).
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